terça-feira, 15 de setembro de 2020


 Mathilde advogada especializada em Direito Autoral
Filha de Cecília Meireles e Fernando Correia Dias
 Formatura da Faculdade Nacional de Direito 
no Teatro Municipal do Rio de Janeiro.

Formada em Biblioteconomia, falando e escrevendo latim, muito estudiosa, enfermeira formada pela Cruz Vermelha, quando aos 40 anos resolveu  estudar Direito e se especializou em Direito Autoral.
Conheço diversas pessoas que até hoje pedem para me abraçar porque sentem a maior gratidão por tudo o que Mathilde fez por elas diretamente e indiretamente. São escritores, poetas, atores, autores, músicos, artistas, criadores,designers, estilistas, cantores e cientistas. Gente dessa área tão delicada, que  nada sabem sobre seus direitos, nada entendem de clausulas e assinam contratos para não serem antipáticos com os contratantes ou fecharem a porta da oportunidade. Assim, se submetem ao insubmissível, porque nada compreendem da matéria. Não é o munus deles. E logo estão na rua, sem amparo e desabrigados.

Filha de dois imensos artistas, Mathilde compreendeu que era preciso salvaguardar os seus direitos de herdeira e os de suas duas irmãs, assim como preservar e divulgar as obras magníficas de seus pais, Cecília Meireles e Fernando Correia Dias.
Excelente aluna, proprietária das notas mais elevadas e eleita representante de turma até a conclusão do curso ela era generosa com os próximos, orientando e resolvendo juridicamente assuntos relativos a Direitos Autorais e outros como contratuais, cíveis, família, sucessões, etc...

Foi ela que recuperou a autoria de Cecília Meireles - poema Marcha - do título Canteiros dado como de Fagner, porque por ele, apropriado indebitamente.
Mas também foi ela que autorizou que o mesmo Raimundo musicasse poemas de Cecília, tais como Motivo, Epigrama n. 9 e Canção (Malogrado).

Porque o erro está em se apropriar, em se apresentar como o autor daquilo que tem proprietário. Em explorar comercialmente sem autorização. E se ninguém reclama a autoria, o apropriador, falso autor, passa a dono, daquilo que em verdade não é de sua autoria e dos frutos advindos da exploração. Sem a autorização do autor ou do herdeiro qualquer apropriação indébita é crime, previsto em lei e em consequências penais.

Abaixo os oito versos do poema Marcha de Cecília Meireles apropriados indebitamente por Fagner:

Quando penso no teu rosto,
fecho os olhos de saudades;
tenho visto muita coisa,
menos a felicidade.
Soltam-se os meus dedos tristes,
dos sonhos claros que invento.
Nem aquilo que imagino
já me dá contentamento.

Estes oito versos acima, fazem parte do poema Marcha, lindíssimo, composto de 24 versos, como se lê abaixo:

Marcha 
Cecília Meireles


As ordens da madrugada
romperam por sobre os montes:
nosso caminho se alarga
sem campos verdes nem fontes.
Apenas o sol redondo
e alguma esmola de vento
quebraram as formas do sono
com a idéia do movimento.

Vamos a passo e de longe;
entre nós dois anda o mundo,
com alguns vivos pela tona,
com alguns mortos pelo fundo.
As aves trazem mentiras
de países sem sofrimento.
Por mais que alargue as pupilas,
mais minha dúvida aumento.

Também não pretendo nada
senão ir andando à toa,
como um número que se arma
e em seguida se esboroa,
-- e cair no mesmo poço
de inércia e de esquecimento,
onde o fim do tempo soma
pedras, águas, pensamento.

Gosto da minha palavra
pelo sabor que lhe deste:
mesmo quando é linda, amarga
como qualquer fruto agreste.
Mesmo assim amarga,
é tudo que tenho,
entre o sol e o vento:
meu vestido, minha musica,
meu sonho, meu alimento.

Quando penso no teu rosto,
fecho os olhos de saudades;
tenho visto muita coisa,
menos a felicidade.
Soltam-se os meus dedos tristes,
dos sonhos claros que invento.
Nem aquilo que imagino
já me dá contentamento.

Como tudo sempre acaba,
oxalá seja bem cedo!
A esperança que falava
tem lábios brancos de medo.
O horizonte corta a vida
isento de tudo, isento...
Não há lagrima nem grito:
apenas consentimento.



O Brasil tem Leis que protegem os autores, artistas, cientistas, criadores,  cantores, etc... mas as empresas conhecedoras das leis, trabalham com escritórios de advogados especializados em transgredir as leis.

É falta total de respeito. 

Quantos artistas, poetas, cantores, autores, desempregados, desamparados, desassistidos e no limbo conhecemos? O próprio pai de Mathilde que contribuiu com as artes gráficas, de ilustração e que criou o conceito de  livro com capa colorida como conhecemos hoje, e as magnificas ilustrações de As mil e uma noites, assim como trouxe a importância da arte marajoara dos autóctones brasileiros para a arquitetura e decoração em cerâmicas, tapeçarias desenhadas artisticamente para o Palácio Itamaraty e família Guinle, também enfrentou as dificuldades em receber os pagamentos de seus serviços.

Maria Mathilde muito estudiosa e cuidadosa, tomou sempre a linha do entendimento e conciliação e nisso foi inteligente e sábia, sendo inúmeras vezes convidada para dar sugestões de soluções e pareceres conciliáveis, sobre processos.

Me ensinou as palavras de Buda: Três coisas não podem ser escondidas por muito tempo: O sol, a lua e a verdade.

Admirada por seus mestres, protegida e amada por suas netas-afilhadas, netos e filhas, Mathilde completa hoje, 15 de setembro, 96 anos.
Os pais e as mães nunca morrem.
Nem os padrastros e as boadrastras.
É um amor que vive conosco e só quem os tem é que conhece.

Fernanda Correia Dias
in Feliz aniversário Mamãe! Beijo da Fernandinha
Viva o 15 de setembro!!!















8 comentários:

  1. Uma alma leve. Parabéns Mathilde e até breve! 😊

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    1. "Uma alma leve."
      É sim!
      Busca sempre a conciliação!
      Ela mesma me ensinou e me ensina, que quem erra, conserta!
      Até breve? Não sei! Até sempre!

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  2. Lindas lembranças. Que se perpetuem para suas filhas Kenya e Gaya, para seus netos e para sempre

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    1. Telma!
      São mesmo!
      A Mathilde era admirável. Tinha tão bom caráter, era tão correta com todos que me ensinou esta máxima: _Quem fala a verdade sabe quem são os mentirosos.
      Kenya e Gaya foram criadas por Mathilde, que é Madrinha delas.Tomaram conta e protegeram a avó Mathilde, tal qual a vó protegeu e tomou conta delas. Foram sempre as minhas três meninas!
      Bjo Telma, meu e das três meninas!

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  3. A verdade é a mentira deviam ter luz própria mas com cores diferentes... Assim saberíamos sempre onde andam essas duas realidades tão antagónicas... Abraços.

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