segunda-feira, 9 de novembro de 2020




 CECÍLIA MEIRELES

FILÓSOFA POETA

Cecília Meireles é Filósofa-Poeta, com clarividência de ter sido a sua própria vida o exemplo real da solidão humana universal e compreensão e vivencia das verdades.

Cecília Meireles tem certeza que à criança só devemos entregar o ótimo. O ótimo é o Amor.

Serão indivíduos maravilhosos, os que tiverem recebido Amor em qualquer idade, mas na infância, principalmente. E se a Ternura é uma espécie de socorro, imagine o que é a Educação! Ela acredita inabalavelmente na Educação.

Faz parte de sua biografia que após perder toda a sua família, avô, pai, três irmãos e mãe, antes dos 3 anos de idade, ela foi educada pela única sobrevivente, sua avó materna, Jacinta e os livros de sua mãe Mathilde que fora professora.

“ E minha avó cantava e cosia. Cantava

canções de mar e de arvoredo, em língua antiga.

E eu sempre acreditei que havia música em seus dedos

e palavras de amor em minhas roupas escritas.”

 A excelência humana agrega seres humanos no Amor pelos simples motivos de serem humanos. Não é condição sine qua non participar de qualquer religião para exercer e praticar o Amor. E vice-versa.

O Amor está acima de todas as religiões.

Esse é o fio precioso de seu caráter de livre-pensadora.*

O mundo precisa contínuamente de pessoas boas e interessadas em excelência humana. Então virão desdobramentos multiplicados de autênticas excelências.

Ela propõe em sua consistente e coerente obra é que o ser humano seja ele mesmo o Amor: A distribuição e a prática em excelência do Amor.

Foi isso que eu vivi como neta, foi isso que suas filhas, e entre elas, minha mãe Maria Mathilde praticaram, foi isso que aprendi com meu pai, é isso que eu pratico e foi também o que dei e recebi  em vida: A excelência da vida: o Amor

 Fernanda Correia Dias

in Cinquenta e seis anos de saudades. 

Nove de novembro de dois mil e vinte ou 

Os livros pertencem ao reino do Amor! Trazem pessoas vivas.

 Leia. Leiam.

Para todos, Cecília Meireles.

*Cecília Meireles definiu-se livre-pensadora, publicamente, em 1919, aos 18 anos.

sábado, 7 de novembro de 2020


CECÍLIA MEIRELES POETA UNIVERSAL
 

   Vou descrever a presença física, parada e em silencio, de Cecília Meireles, minha avó materna, hoje,  no dia de seu aniversário de 119 anos. Ela está aqui neste instante. Ela é uma pessoa hipnotizante.

Eu não sei se ainda existem  pessoas vivas que se lembrem da presença física dela, mas eu estou viva e me lembro muito bem. Eu sou a neta e a afilhada dela e foi ela que  me disse pessoalmente, que escreveu os poemas A Bailarina e Ou isto ou aquilo para mim.

Estamos diante dela. Sou sua primeira neta, depois de dois netos meninos. No dia do aniversário dela, ela me levou para me batizar como minha madrinha na igreja que ela fora batizada. Então hoje também é aniversário do meu batismo.

  Mas o fenômeno que vivo diante da presença dela neste instante, e vivo toda vez que a encontro, é assim: fico olhando, não paro de olhar para ela e quero olhar mais. Estou hipnotizada  e atraída pelo contraste dos dois olhos grandes, preciosos e íris verdes, muito verdes. Duas esmeraldas transparentes e brilhantes cravadas em porcelanas brancas, em contraste com a pele dela, morena  e perfumada, como a madeira de sândalo. As duas íris verdes, cristalinas,  preciosas me hipnotizam e o hipnotismo é o mesmo de quando você encontra uma pessoa negra de olhos azuis. Você fica imantada ao raro, belo e incomum.

     Simultaneamente ela exala e eu sinto o aroma de um bosque de seda e algodão e percebo o sândalo fresco do colar ou do leque indiano. Vem acompanhado do perfume da magnólia, do jasmim e do damasco. E esses aromas chegam antes do perfume de ocasião: O que eu mais gosto na pele dela é o L’ Interdit de Givanchy que ela usava em 1957, quando eu nasci.

    Mas o que ela faz quando ela percebe que estamos hipnotizados por ela? Ela Sorri. E eu e você aspiramos o aroma de cravos da Índia, do seu sorriso e aparecem uns dentes muito brancos contrastando com a pele morena. É um sorriso longo e gentil.  São muitas pérolas bonitas, seus dentes brancos que estavam guardadas em seus lábios. É um estojo de um joalheiro, um mistério maravilhoso, a delicadeza do seu sorriso.

     Então agora ela é um sorriso e ela vai falar comigo e com você e você vai ouvir uma voz bela. O que é uma bela voz? É aquela que você escuta todas as palavras com clareza dos sentidos. “O sentido está guardado no rosto com que te miro” como ela escreveu. E o que ela diz é visível numa sonora harmonia e musicalidade. Tudo gira e você está ali comigo, hipnotizado e  escuta: “Como está você?”

     É ela que está falando comigo. E você pensa: estou girando num mundo e ela fala! O que ela diz não é o que você ouve, mas o que faz você ver! Não há desperdício de som. Essa musicalidade nos faz girar mais ainda e giramos sorrindo de dentro para fora.

Ela fica do nosso tamanho e  tem a nossa idade, quando ela quer. Mas você aprende com o que ela escreve que ela é a sua irmã te contando a verdade: Desperte do teu sonambulismo!

Agora ela quer, então passeia conosco pela casa. Apresenta-nos a nós mesmas ao espelho. Faz-nos ver o jardim e os pássaros através da grade de ferro da porta, em círculos ou conversamos com a estátua da Primavera na subida da escada e deitamos sobre o leão da varanda. E lá está “o lagarto entre o muro e era, a cigarra e a sua canção.” Tudo o que ela nos apresenta é a verdade. Tudo o que ela escreve é a verdade. E nos inspira verdade pela contemplação, leitura e escrita.

 Ela também está cercada de escolhas extraordinárias.

   O relógio de casa, na sala de almoço, tem um cuco que sai de dentro de uma portinha de hora em hora para cantar cuco-cuco em quantas horas forem necessárias; o termômetro mostra uma casa e um casal de holandeses que visitam a paisagem  da varanda quando o tempo está bom e nos acena; nas estantes estão brinquedos folclóricos nacionais e internacionais; os livros contém páginas pop-ups e montam outras estruturas como carrosséis, jardins zoológicos, teatros, bandeiras de vários países e casas.

    Ela me mima nos contando histórias, brincando comigo e me oferecendo presentes fabulosos: um galo-termômetro, que troca da cor rosa para a azul, passando pelo lilás, se as chuvas estiverem próximas; uma mamãe de madeira que aberta ao meio traz outra por dentro, e mais outra, e mais outra, até  uma mamãe bem pequenininha; uma vovozinha que debaixo da saia não tem pernas , mas o corpo da chapeuzinho vermelho e invertendo o chapéu se transformava no Lobo mau; umas marionetes indianas de sombra para movimentar com pauzinhos contra a luz sobre as paredes da biblioteca e são feitas de arabescos lindos e uns bonecos molinhos, recém-nascidos que cabem numa pequena caixa transparente de orquídeas. A torneira da varanda de seu gabinete no segundo andar da residência, é um pássaro;  o enfeite do chapéu dela, são pequenos peixes de palha colorida pendurados e balançando cada qual numa linha de pesca; as sandálias dela são tiras de pérolas ou delicados bordados chineses azuis turquesa sobre tecido vermelho e pink;os finos  papéis de sua mesa estão intercalados por folhas de papéis carbonos onde eu aprendo a duplicar desenhos com ela; a máquina de escrever tem essas letras que ela me ensinou e que eu sei até hoje e são as mesmas que escolho para escrever isso aqui que você lê neste momento e a máquina ainda tem uma alavanca para levantar o papel e faz Plin!! As canetas por dentro trazem águas azuis que correm para a pena e escrevem com rios de águas azuis e os mata-borrões, papéis macios e grossos, cor-de-rosa, passamos em cima das assinaturas, dedicatórias desenhos ou poemas, para secar mais rápido!

 Ela é assim: bela. Sadia.

Poeta, filósofa, cientista da pedagogia e da psicologia, escritora, cronista, ensaísta, professora, pedagoga, desenhista, jornalista, tradutora, folclorista, conferencista, oradora, editora, ilustradora, pesquisadora, radialista, cronista, pintora, mãe de três filhas órfãs, ela mesma filha órfã de pai e mãe, criada por sua avó materna, única parente que restou após a morte de todos de sua família , incluindo ainda seus 3 irmãos que antecedem seu nascimento, seus pais e seu avô materno.

    Nascida no Rio de Janeiro, aos 12 anos recebe das mãos do Inspetor Escolar Olavo Bilac a Medalha de Ouro pela conclusão do curso escolar com grau máximo por três etapas consecutivas. Forma-se professora aos 16 anos quando escreve e publica o livros de poesias históricas, ESPECTROS. Começa a lecionar aos 17 anos e aos 18 anos decide unir as mulheres para que elas se ajudem mutuamente e que possam ser ajudadas também  por interessados filantrópicos, empresas e governos, na viuvez, orfandade, sobrevivência, oportunidades de trabalhos, etc...

   É assim que há 100 anos atrás, aos 18 anos, em 1919, Cecília Meireles visita todas as redações e os jornais do Distrito Federal, Capital do Brasil para divulgar as datas das reuniões e de fundação da recém criada por ela e outras professoras,  Legião da Mulher Brasileira. Ela mesma, Secretária da Legião traz na pauta os assuntos da mulher órfã de pai e mãe, sem parentes, que deseja e pode trabalhar para adquirir salário para seu sustento e o de sua família, , apoio social às mães, filhos, maridos desempregados, saúde, etc...inclusive o voto feminino, garantindo a participação feminina nas decisões do país.

   Ela mesma, a mesma Cecília que aos 13 anos fez campanha para que os meninos também pudessem comer na escola o mesmo que as meninas comiam.

   Presentes  para a primeira reunião da Legião das Mulheres Brasileiras, mulheres das mais diversas procedências, uma delas tomou a liberdade de convidar o bispo e o padre para a benção da Legião na primeira reunião . E logo na primeira reunião, quando o padre e o bispo tiveram a infelicidade de anunciar que só abençoariam as católicas, Cecília Meireles sentada na mesa, compondo a comissão, diante do público e do tumulto, levanta, retoma a palavra e no meio da multidão, declara-se publicamente “ Livre pensadora”  e decide que “a Legião será laica” integrando e unindo todas as mulheres presentes e vindouras.

   Esse é o raciocínio fundador de uma mulher que é uma Poeta Filósofa Brasileira e Universal, atenta ao homem no Universo. Viveu na sua própria existência a ausência e a presença de tudo o que é humano. Soube conservar e conversar sobre o Amor através da Poesia Filosófica na altura de Buda, Jesus, Maomé e propor entendimentos, reflexões e soluções. Está tudo escrito. Nenhuma linha desperdiçada.

Leia Cecília Meireles. Aos 119 anos, não há nada mais urgente, atual e moderno que não seja o Humanismo, a Educação através do Amor ao próximo.


Fernanda Correia Dias

in Festa de aniversário para os 119 anos da Poeta e Filósofa Brasileira e Universal Cecília Meireles . Para minhas filhas Kenya e Gaya

Seguem as homenagens dos que chegaram à tempo das comemorações


Deusa

é o que escreve Carlos Drummond sobre Cecília Meireles.

 É Artur da Távola que cita os comentários do querido Carlos Drummond de Andrade sobre Cecília:

"Cecília, não é, por excelência, rotulável. Nem modernista, nem simbolista, nem intimista. Cecília é livre, é poeta. Seus versos tocam os limites da música abstrata. Ela é a própria poesia".

Arpad Szenes quando pintou o mais famoso retrato, e é o de Cecília, deu o título :

“A Poesia.”

O poeta Bruno Tolentino disse que a presença de Cecília Meireles “era a mesma que a de uma Deusa. Uma perfeição, principalmente ao expressar o que pensava.”

“não me parecia uma criatura inquestionavelmente real; por mais que aferisse os traços positivos de sua presença entre nós, marcada por gestos de cortesia e sociabilidade, restava-me a impressão que ela não estava onde nós a víamos, estava sem estar, para criar uma ilusão fascinante, que nos compensasse de saber incapturável a sua natureza.” C.D.A, 1964 Jornal Correio da Manhã/Carlos Drummond de Andrade

 " libérrima e exata", foi o que escreveu Manuel Bandeira sobre Cecília.

"Todas as pessoas têm um quê de frágil e de mortal, Cecília Meireles, não. Havia, nos seus mais delicados gestos, uma firmeza, uma decisão, uma força que nunca houve quem visse ameaçada. Força de quem sempre escolheu viver num outro planoforça de quem nunca se esquivou àquele imperativo de renúncia que há na construção de uma obra, de modo que sua figura, bela e tranqüila, onde se espraiavam vagas ondas nuns olhos muito verdes, tinha a consistência de uma fortaleza"   Poeta e Jornalista Marly de Oliveira