sábado, 29 de março de 2014

Coração
James .Foto Fernanda Correia Dias
Ao te saber tão longe, meu coração ficou diversas vezes muito pequeno. Eu mesma pensava que a minha vida tinha terminado ali, quando olhava para os meus pés e as minhas mãos e me re-encontrava.
Morri em pé e de olhos bem abertos, várias vezes, e se não me engano vou prosseguir morrendo diversas vezes mais. Até um dia quando não será preciso morrer mais.
Porque eu sempre surjo ressuscitada depois das tempestades, sou a que nunca abandonou o barco. Reapareço nas brumas do mundo enquanto reconheço os fantasmas. Eu a mulher da proa. Segui meus fundamentos junto a outros navegantes.Cada qual no seu coração.
Tanto o meu como o seu destino é ir.Vamos. Para frente. A vida é para a frente. 
Fernanda Correia Dias
in Coração

Caixa
A caixa que conversava comigo . Foto Fernanda Correia Dias

Ganhei esta caixa e eu era muito pequena.
Tinha saudades da minha mãe, do meu pai, da minha família e buscava esta tampa, como uma fotografia, em alto-relêvo.
Tinha um pai e uma mãe na frente do castelo, lá dentro estava toda a minha família. Guardada. Meu Avô próximo ao cachorro vinha me visitar e um carteiro com a bolsa de cartas voando estava ali também.
A escada por onde meus olhos subiram diversas vezes, a roda, os frutos, as árvores e as flores.
Tudo era tão vivo, que ao olhar para a caixa a minha saudade ia diminuindo e eu me recuperava até a próxima saudade.
Fernanda Correia Dias
in Saudades

terça-feira, 25 de março de 2014

Frutinhas de Embaúba

Frutinhas de Embaúba . Foto Fernanda Correia Dias

Compreendo, compreendo... É fácil compreender, porque ele fala inglês, ela fala francês e ele fala espanhol...Em que idioma querem que eu responda? Compreendo...compreendo, vou responder em italiano...Então dobrem à direita naquela rua, sigam em frente dez passos e logo à  esquerda vão encontrar o Hotel! Amanhã vamos voltar as sete da manhã, neste mesmo lugar, em frente a esta rua e se vocês vierem, vou cantar com vocês e ensinar a tocar outras musiquinhas que eu sei! E no dia seguinte estavam todos lá nos aguardando em ritmo de bossa nova, um cantinho e violão. Ela tocava  violão e cantava. Nós eramos felizes e sabíamos.
Quem não aprendeu a tocar as primeiras notas do violão com a minha mãe? É fácil, fácil e ela exibia as notas tirando e colocando os dedos em cima das cordas e sem medo entregava o violão dela na sua mão.
Gostou? Te emprestava e avisava: Amanhã você traz... e você?  Trazia! Capaz que você viesse tocando o seu próprio violão e trazendo o dela nas costas.
Mamãe entusiasmava as pessoas com seus exemplos.Minha-Mãe-Maria-Mathilde-Maravilhosa.
O Rio de Janeiro era minúsculo comparado ao volume de pessoas em 2014.
Vento no mar no meu rosto era fácil de cantar e ouvir "gosto de você" também.
Princesinhas do mar, era assim que os porteiros nos chamavam quando passávamos com a prancha de maderite na cabeça. Os turistas eram quase todos internacionais. Muitos. O ano inteiro. Raro era encontrar o turista nacional.Os turistas nacionais tinham tanta admiração pelo Rio de Janeiro, capital, que vinham e passavam meses nas casas dos amigos, até encontrarem o espaço para fixar as suas residencias em algum bairro carioca.
Os turistas internacionais eram sempre evidentes. Óculos escuros; bolsa tiracolo com o nome da empresa de aviação ou marítima que os trouxe; com bolsos de onde pulavam guias e mapas; peles claras ou escuras cobertas de cremes; chapéus, sapatos, roupas e acessórios divertidos.Maquiagens, mais mapas, charutos, perucas, baforadas, cigarros, perfumes e chicletes...E os cabelos quando eram naturais, muito armados em penteados ou absolutamente descabelados com expressões faciais de inocentes ou de verdadeiros conquistadores de sete continentes!
Americanos, ingleses, franceses, alemães, indianos, havaianos e japoneses nos anos 60, falavam com minha mãe e ela respondia. Ou ela espontaneamente tomava a iniciativa de protege-los do troco do comerciante equivocado, explicar a arte do mosaico das calçadas em pedrinhas, compartilhar o gosto de um sorvete, oferecer uma fruta ou uma garfada da comida cheirosa. A grande amiga, para sempre de todos fazia muitos e desconhecidos amigos, grandes e pequenos, jovens e velhos, que estavam sempre em dívida de gratidão...
E isto vem de família...ser de areia, ser de ilha.
Ter a delicada noção que o instante existe no efêmero e no eterno e estar inteira e disponível para viver a vida com amor e gratidão.
Fernanda Correia Dias
in Gratidão e as Dívidas de Gratidão!







Tiradentes
O Palácio Tiradentes . Foto Fernanda Correia Dias

Sugiro que você leia O Romanceiro da Inconfidência de Cecília Meireles.
Se já leu a obra, que releia e converse sobre o que leu. Com você mesmo. Com família, amigos.
Converse sobre o extraordinário. 
Já experimentou? Nunca experimentou viver em estado de extraordinário?
Depois mergulhe profundamente nesta fotografia. Veja o pedestal, a estátua de Tiradentes, o horizonte que está acima dos homens, da cidade, do próprio horizonte.
Experimente o extraordinário.
Experimente viver harmonicamente em estado de extraordinário.
Fernanda Correia Dias
in Extraordinária Cecília Meireles




segunda-feira, 24 de março de 2014

Eça de Queirós

Friso eloquente na sala. Foto Fernanda Correia Dias

Estava procurando as CARTAS DE INGLATERRA de EÇA DE QUEIRÓS
 e encontrei.
Já leu? Vou re-ler.
Terminei de re-ler Carta a Eduardo Prado, Os Mortos, Cozinha Arqueológica. 
Todos de Eça de Queirós, edição da  Editora Giordano e Ateliê Editorial,1996. Comprei na 
Livraria Travessa de Ipanema. Trazem os desenhos de Julio Pomar. Amo a Girafa de Julio Pomar!
Fernanda Correia Dias
in lendo e re-lendo.


sexta-feira, 21 de março de 2014

Fernanda
Esteves e a Nossa Senhora da Penha . Foto Fernanda Correia Dias

Eu tinha impressão que a morte era avassaladora e que destruía aquele que  foi e aquele que ficou.
Não. A morte é uma beleza ímpar.
Aquele que foi, não vai.
Fica para sempre dentro de você.
Para sempre dentro de todos. 
Vamos cuidando dos nossos vivos e dos nossos mortos, tal como fizeram nossos pais e nossos avós e assim infinitamente. 
Uma tarde para pensar em Fernanda.
Mãe da Ana Maria, avó do João e do Pedro...
Ah... eu não soube, eu não sabia, mas agora sei e ainda é tempo de escrever:
Aninha estamos juntas, penso sempre em você e em vocês. Todos vocês.
Soube ontem que foi em Janeiro.
Aninha, Fernanda está morando dentro de todos nós com sua beleza e inteligencia. Delicadeza e carinho.
Fernanda mora também dentro de você.
A morte não leva. Ao contrário, nos deixa muito mais próximos.
Beijo você, beijo Fernanda, beijo João, Pedro, Tonzé e o netinho com muita paz.
Beijo Lamego.

Fernanda Correia Dias
in Geografia Familiar





quarta-feira, 19 de março de 2014

Fernanda Correia Dias . Fotógrafa . A Beleza das grades

"Renda de ferro, guarda corpo na arquitetura."
Dedicado à Professora Arquiteta Vera Dias

Apesar de ser a filha do pai engenheiro, especializado em calculo estrutural e concreto armado e protendido,
sabendo distinguir precocemente gruas de sapatas e betoneiras,  quando sorvi pela primeira vez a palavra guarda-corpo, eu estava dentro do Navio Escola Brasil.
Estava ao lado do querido Almirante que me ensinou que guarda-corpo era o nome da proteção a meia altura que resguardava as faces laterais da ponte-escada por onde eu subi no navio.
Lembro de ter gostado de conhecer aquela expressão tão óbvia e tão humana, como algumas outras auto-explicativas, mas nessa expressão tocava-me  a poética da proteção, da conservação do outro, do cuidado... Repeti baixinho: guarda-corpo, guarda corpo... que lindo! Prima daquela outra, auto-explicativa também: Corrimão! 
Podia ser balaustrada, grade, gradil... Mas, guarda-corpo é especial, porque é cuidadosa e ampliei meu vocabulário.

Para as grades de ferro eu volto meus olhos para todas as grades que me fazem pensar.
O trajeto da evolução do pensamento de quem construiu e de como todas as grades conversam comigo.
Raciocínios estão conservados ali.
Muxarabis, cobogós...Também...Vão expondo rapports, grids, módulos de estamparias...
Vão e voltam com seus raciocínios estéticos inimagináveis guardando os olhares...
Hoje, com calor que faz eu sonho com muxarabis filtrando a luz intensa destas janelas, aqueles mais simples das conversadeiras de Ouro Preto...Ventilando sombras...
Conversadeiras... outra expressão da arquitetura que é auto-explicativa...

Mas a Vera escreveu : Renda de ferro, guarda-corpo na arquitetura.

Que lindo! Pensei quando li, vi imediatamente o feminino da arquitetura de como ela escreveu.
Arquiteta escrevendo com arquitetura.

Beijo Vera!
Fernanda Correia Dias
in A beleza das grades



segunda-feira, 17 de março de 2014

A beleza da arte em grades . Foto Fernanda Correia Dias

Tão sutis. Inteligentes. Delicadas e fortes o suficiente para dizerem visualmente: Não ultrapasse, não entre...
Transparentes. Meu olhar trespassa o véu de ferro. Mas são rígidas e parece que dançam, e são pensadas para  soar como improvisos...Andam... Esta elegância de ser um pensamento expresso em ferro como uma linha circulando num papel, como um crochet de leveza. Uma renda com esperanças de teias.
Ah... os homens esqueceram estas artes delicadas de liberdade e o que estas artes nos dizem além do quanto nos comovem...E as artes das grades de  hoje, quando não nos  fazem tristes por serem  inexpressivas, são absurdamente agressivas, nos fazem prisioneiros.
Eu ainda vou recolhendo no meu olhar e colecionando na minha memória a beleza da arte das grades que ainda existem nesta cidade. Deveriam ser todas perpetuadas como lições de levezas. Tão belas e inteligentes, que sinceramente me alegram muito, mesmo que enferrujadas, mesmo que muito olhadas...mesmo assim tão lidas... 

Fernanda Correia Dias
in Designs de inteligencias amorosas.

sábado, 15 de março de 2014

Caixa da Fernandinha . Foto Fernanda Correia Dias

Natural, nasci numa família de Fernandos e minha Avó materna além de sua filha, teve marido e cunhada do reino dos Fernandos.Com tantos Fernandos, me chamava carinhosamente de Fernandinha.
Minha mãe sempre explicou: Naquele dia entrei de tardinha em trabalho de parto na maternidade no dia 31 de dezembro, mas antes  telefonei para a minha mãe e disse: Se eu morrer mamãe, você já sabe, se for menina Fernanda e se for menino, Fernando, quero que o nome do bebê seja uma homenagem ao papai.
Eu nasci de parto normal a meia noite.No dia seguinte minha Avó Cecília Meireles estava no berçário e reconheceu a moreninha. Quase um ano depois, no dia de seu aniversário, 7 de novembro eu fui batizada por ela, na mesma igreja em que ela foi batizada. Me deu o nome do meu avô materno. Minha madrinha? Vó Cecília e meu padrinho, Vô Heitor. Amo os três.
Fernandinha ou Fernanda Correia Dias
In Perpétuo

terça-feira, 4 de março de 2014

Eucalyptus deglupta
O Gigante Lu-ru-lú . Foto Fernanda Correia Dias

Lina me deu uma árvore.
Uma árvore de mil cores.
Muda de cor.
Um Eucalyptus deglupta.
Mas antes de me dar,
Lina trouxe a árvore para bem perto dos meus olhos e eu vi combinações de
cores no tronco da árvore muito coloridas e felizes, como papéis de seda.
Eu vi dentro da árvore a floresta encantada.
Eu vi o Rio, Tâmega! Examinando cada combinação eu vi você sentada ao meu lado e ao seu lado a Joaninha...no barco!
Visitei vários continentes e entrei por vários países, por dentro do que eu sei das cores de suas culturas, vi e revi muita gente. Ah... Muita gente! Só por perceber o tom...
Vi muitas paisagens. Até mares no meio de florestas com canoas flutuando como pétalas eu vi. Canoas descendo ondas em cores impensáveis e lindas. Coral, turquesa e verde água...
Creme , verde musgo e rosa pêssego com pingo de pedra turquesa e lápis lazuli.
Lina me deu uma árvore. Uma árvore de mil cores.
Minha mãe me deu o Gigante Lu-ru-lú, que a mãe dela, deu para ela...
O Gigante Lu-ru-lú era da minha Avó Cecília Meireles e ficava deitadinho dormindo.Ela deu o Gigante para a minha mãe Mathilde e minha mãe me deu!
Eu ganho muitos presentes lindos e inesquecíveis!
Meu Pai me deu uma amendoeira que fica diante da janela dele.
Obrigada, Lina, Pai, Mãe!
Quem quiser conhecer um Eucaliptus deglupta pode visitar três no sítio do Burle Marx, são magníficos!
Fernanda Correia Dias
in Presentes presentes.


sábado, 1 de março de 2014

Rio de Janeiro
Foto Fernanda Correia Dias

Nesta cidade, linda, nasceram meus pais, eu e as minhas filhas.
449 anos, 
Beijo cidade!

Fernanda Correia Dias
in Em meu peito