segunda-feira, 13 de julho de 2020

Chuva fina, tarde fria no Rio de Janeiro . 
Foto Fernanda Correia Dias

    
Cecília Meireles in Olhinhos de Gato, escreve: 

      "Nos dias de chuva, tudo se reúne numa intimidade comovente. Recolhe-se a gaiola do pássaro, muda-se o papagaio de lugar. A galinha fica num canto da cozinha, amarrada pelo pé, e os pintinhos sobem-lhe e descem-lhe pelas costas. Os gatos deitam-se nas cadeiras, embaixo da mesa, escondem-se por perto do fogão, na sombra e no morno. Todos esses bichos olham-se entre si, olham para as pessoas, como uma só família. Há uma tal naturalidade no encontro dessas vidas que todos parecem compreendidos e tranquilos."

Meu coração nem cabe no peito com o tamanho da verdade nessa descrição que acabo de ler, nesse dia de chuva fina e tarde fria no Rio de Janeiro.
Estamos eu a filósofa Cecília Meireles, a primeira brasileira filósofa, dentro do táxi e eu me pergunto qual de vocês sabe isso? Sim.. Vocês que estão aí correndo e vivendo o medo de todos os dias que virão...
Que estão atrás de máscaras, ameaçados por não encontrarem forças em si mesmos para suportarem a vida vindo e indo em ondas... ou que precisam de trocar inteligencias, contemplações e observações...

Sim , porque se na poesia Cecília Meireles  encontrou a forma mais condensada, potencializada, rápida e elevada de te entregar sabedoria movida por clarividências sucessivas; e à filosofia dedicou sua vida investigando essências do agora, dos instantes, entre o provisório e o eterno; o que você está fazendo neste instante em que vivemos, consigo mesmo?

Leio aqui nesse livro, a livre pensadora consciente que em tão tenra idade, já estava dentro de tudo e nos inspira a despertarmos em nós mesmos as pessoas capazes e humanas que somos!

Ah...! Como precisamos dos humanistas! Onde estão? Precisamos de muitos e em abundancia!

"Levai-me aonde quiserdes! _aprendi com as primaveras a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira."

Olhinhos de Gato, é livro filosófico tão magnífico e artisticamente tão bem pensado e escrito que deve ser lido por qualquer um, a qualquer hora e já deveria estar traduzido em todos os idiomas do mundo, permitindo que outros seres pudessem conhecer a filosofia do sensível da brasileira Cecília Meireles. Essa filosofia gentil  e extraordinária que  homem nenhum escreveu e que Cecilia Meireles, não só escreveu, como praticou,  enxerga o outro. O outro ser humano. Coisa que ninguém mais pratica ou que é difícil praticar?
Precisa brotar em nós mesmos.


Esse livro conversa com todas as obras da filósofa Cecília Meireles,em prosa e em poesia, porque ali estão narradas as experiencias que em ponto maior foram a prática de toda a sua vida em artes, pedagogia, jornalismo, poesia, se re-inventando sempre!

" a vida só é possível re-inventada!" 

Motivada e motivando para que os homens se entendam entre si por essa noção de transitoriedade contínua e permanente, em tudo.
Veja aqui o que ela escreve neste ensaio incrível publicado, sobre arte popular e artes plásticas no Brasil:

  "A verdade é que nem a casa que habitamos nos identifica, nem o que vestimos, nem o que comemos,_ como não nos identifica o que sonhamos ou fazemos. Reconhecemo-nos quase por adivinhação. Através de mil diferenças_ o que aliás contribui para ampliar a nossa compreensão e a nossa tolerância. Filosoficamente talvez seja uma vantagem."

"E, o que se perde em solidez, ganha-se talvez em volubilidade; o que não é tão firme é, no entanto, mais adaptável. Será do espírito do tempo que desapareça o que até agora nos parecia certo e lógico, e um novo ciclo principie, sem esses compromissos tradicionais."

Lembrei desses versos do fabuloso livro Cânticos, também escrito por Cecília Meireles:

"Não faças de ti um sonho a realizar. Vai."

Professores, doutores e Cecilianos, lembrem-se que a Cecília Meireles poeta foi magistral e exemplar, mas a filósofa que ela é, a livre pensadora, maior que sua poesia e escritos, não teve precedentes no Brasil e talvez na historia do mundo.

Fernanda Correia Dias
in Olhinhos de Gato, Artes Populares , Mar Absoluto e Cânticos,
 todos de autoria de Cecília Meireles, a primeira mulher filósofa do Brasil. 
Todos citam as idéias de Cecília Meireles, na vida, no dia-a-dia, poucos têm discernimento para compreender que trata-se de uma filósofa que se expressou também por poesia.
Cecília Meireles faleceu em 1964 e até 2012 a profissão de filósofo no Brasil , não era reconhecida. Apenas em 1989 foi fundada a primeira academia de filosofia no Brasil.







7 comentários:

  1. Querida Amiga, os teus olhos não são de gato mas sim de tigre. Vês longe, muito longe, nesse pensamento profundo e filosófico de Cecília Meireles. Reinterpretar, reaver, reviver, renovar, é apanágio desta neta maravilhosa, que carrega a luz da sua criação. Tenho saudades tuas, essas saudades virtuais, que sempre nos juntaram, num mundo especial, sem abraços directos. Para nós, mesmo que estejamos fechadas, dentro de redomas, protegidas de todos os males, vamos sempre estar juntas, pois aprendemos a "Amizade à distância...". Esse tem sido um lema. Até sempre Amiga. Com máscara, ou sem máscara, somos sempre as mesmas. Abraço.

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    1. Acredito que alguém em 2020, tem obrigação de avisar, já que ainda não escreveram, que a Grande Poesia, não é feita de palavras, mas de Entrega Filosófica e por isso, seus leitores tornaram a poeta/filósofa Cecília Meireles, imortal.
      E filósofos precursores à filósofa Cecília Meireles, só conheço Jesus, Buda, Maomé. E filósofa à altura dela,nem Hipatia, que foi filósofa neoplatônica, grega do Egito Romano.

      É a nossa natureza vulcânica que nos permite ter olhos de farol de ilha,Margarida! Girando 360 graus e tocando as profundezas de azul marinho mais escuro, emergindo de volta, como tigres! Você não lembra de Lições de Poesia? E da Fundação do Reino da Poesia? Claro que sim, porque tu estavas circulando e atravessando telhados! Querida, sempre Querida! Beijo você desde aquele dia, passando por hoje e para sempre!Beije por mim o Sr. Director, toda a Confraria da Episteme e as meninas!!!!

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  2. Abri sua caixa e senti seu perfume. Foi isto... Voltei. Obrigada por me ter chamado... Aqui estou e já agarrei as palavras no post onde apareces com a tua Mãe e agora, aqui, novamente, para enviar novo abraço, para Telma também. Hallelluia!

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  3. Fernandinha e Margarida queridas, vai daqui um longo e carinhoso abraço, mediado por nossa amada filosofa, que nos abraça tambem... Ou ao menos nos olha com seu olhar abraçante, de quem traz o ceu nos olhos e ainda assim os volta para a terra, em beneficio da humanidade, tão precisada de um pouco de ceu. "Olhinhos de gato" eh um dos livros mais lindos que jah li e o indico para deus-e-o-mundo e o dou para toda a gente sensivel que sei que o lerah de coração aberto para o transbordamento. Com mascara ou sem mascara", ateh sempre, amigas! ❤️

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  4. Vou repetir para que não se perca:Telma: Significa "amável", "amorosa", ou "aquela que está sob a proteção dos anses (deuses escandinavos)", ou ainda "protetora decidida", "protetora corajosa". Logo vi querida Fernandinha que aqui tens um anjo protector. Quando eu era pequena minha mãe rezava comigo: "anjo da guarda, minha companhia, guarda a minha alma, de noite e de dia." Assim seja! Abraço amigas.

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  5. Ahhhh.... Margarida! Isso sim que é curadora das boas! Sabe tudo e mais um pouco!
    Foi buscar a etimologia de Telma!!!
    A Telma que escreve que ""Olhinhos de Gato"eh um dos livros mais lindos que jah li"!!!
    Ahhhh vocês duas são mesmo muito queridas e mais queridas são porque nunca nos encontramos, não nos conhecemos pessoalmente e só aqui, nesse nessas praias de "Protetora Corajosa", Sereia e Margarida da Casa do Vulcão!!!!
    Somos míticas e o mais inacreditável: de fato, existimos! Não é surpreendente?
    Está faltando a Marta! E agora temos a Irani!
    Beijos em todas vocês, quando encontrarem, beijem a Marta e a Irani por mim!
    Fernandinha

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  6. Abraço queridas Amigas. Neste estado de distância permanente vamos estando, de maos dadas, nesta ânsia de tornar este mundo melhor.... Está complicado mas, de manhã, quando vejo bandos de pássaros seguirem sua vida, normal, sem pânico e sem máscara, comendo e voando quando lhes apetece, sem horas aparentes mas com horários para aqui chegarem e daqui partirem, fico emocionada e creio que nós humanos só complicamos a vida, e nem sabemos migrar... Se fossemos pássaros já nos tínhamos encontrado, certamente. Abraço. Quando cá voltar quero ser uma Arára...

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