segunda-feira, 3 de dezembro de 2018


Fernando Correia Dias, lindo e sorrindo!
Feliz Aniversário de 126 anos!
10.11.1892   -   19.11.1935

Fazer do Belo, o Belíssimo.
Fernando Correia Dias

       Em 1930, Fernando Correia Dias, estava dentro do hidroavião da NYRBA  Line, sobrevoando o Rio de Janeiro à 300 metros, que subia lentamente e suavemente passava por cima da Bahia da Guanabara, da Lagoa Rodrigo de Freitas, do Hipódromo, de fortalezas e seus canhõezinhos semelhantes a brinquedos, das praias de  Botafogo, Ipanema, Leblon e o Pão de Açúcar! 
      Sol quente, tarde de inverno, junho, aproximou-se dos 709 metros de altura do morro do Corcovado, dando uma volta majestosa. Observou os 30 metros de altura do Cristo  Redentor ainda em construção, sobre o morro do Corcovado, os 8 metros de altura de pedestal e os 28 metros dos braços abertos, de uma extremidade à outra, cobertos por tapumes e os desenhou em instantâneo gesto. Voou até 2000 metros de altura. O Cristo, com seus olhos ainda vazios, parecia saudá-lo.
   _Responda, Correia. Responda, que nos saúda_ disseram.   E Correia Dias, empolgado pelo seu trabalho, diz, sem levantar a cabeça:  _Responda você por mim. Estou muito ocupado. Não posso...  Correia Dias, lápis em punho, toma notas e “surprehende” a paisagem quando colhe com seu traço o que avista do céu do Rio de Janeiro!

     Sensível e inteligente, durante o voo, registrou pioneiramente a vista aérea da construção do cristo à lápis no papel; o rastro deixado na superfície do mar por ilhas de pedra e espuma e embarcações.

       Barcos e mais barcos sulcavam a Bahia. Uns rápidos mostravam, apenas, um corpo diminuto e uma larga esteira branca como a cauda de um cometa. Pareciam foguetes.
A Bahia aparece em toda a sua grandiosidade. Com toda a beleza do conjunto. Quem viu a totalidade da Bahia da Guanabara, recebe a visão exata da realidade. Ali está, diante dos olhos, salpicada de ilhas, limitada por essa maravilhosa curva de montanhas altíssimas, que dão a impressão de uma dessas paisagens lunares que mostram as fotografias dos museus.


  Ele desenha a sombra do hidroavião no mar com imensa e desconcertante fidelidade à realidade, acompanhando em desenho o movimento da aeronave, de dentro dela!  Nenhum dos 21 jornalistas da expedição, inclusive uma única jornalista, a americana Lucy Hentz,  puderam portar máquinas fotográficas no voo em observância ao regulamento do hidroavião.
Mas ele... o irrivalizável Correia Dias, à lápis, sensibilidade, talento e habilidade  fixou os instantes, as impressões pioneiras do passeio aéreo, e fez o retrato de Lucy, onde ela escreveu: Just ground! (apenas chão!) e assinou.

O hidroavião vai descendo. Vê melhor a cidade e os homens que transitam.   _Como ficam pequenos os homens, visto de cima, querido Correia...   _Pequenos e ridículos,_ Acrescenta ele, atenciosamente.   Os retrata.

  A mesma lancha à gasolina restitui-o do hidroavião ao porto, após a amerissagem.
 _É mais perigoso embarcar nesta lancha que voar no avião, diz Correia.  
E Correia, como conclusão do voo, diz-nos o seguinte:  
_Não irei à Europa por mar. Ou irei de avião ou não irei.
   
.

Em 20 de setembro de 1934, embarcou com a esposa,Cecília Meireles, rumo Portugal no navio brasileiro Cuiabá  fixando em 22 dias, toda a costa brasileira em pinturas à óleo e desenhos que foram publicados nos mais importantes periódicos brasileiros depois que desembarcaram em 12  de janeiro de 1935 no Rio de Janeiro, do navio do Lloyde Brasileiro, Bagé.  
Correia Dias é o português mais carioca dos cariocas brasileiros que eu conheço. Amou a Cidade do Rio de Janeiro "exaltando aos olhos de todos o que é bom" em infinitas publicações diárias e em ininterruptos 21 anos . As mais belas e importantes revistas, jornais, livros, pautas, fachadas e interiores de prédios, residencias, jardins, mobiliários, ceramicas e tapetes, ilustrações  e inteligencias, trazem a assinatura dele e seu traço elegante, espiritual e sábio. É muitíssimo amado por todos os cariocas históricos, que o consagraram como O Irrivalizável Correia Dias.

Fernanda Correia Dias, celebrando meu avô materno 
e querido, o Fernando, o Correia Dias!

NYRBA  Line, / New York-Rio.Buenos Aires Line, mais tarde Panair
amerissagem é o mesmo que ato de um pouso na superfície da água


Em 1922 concluíram com sucesso a travessia do Atlantico Sul, os aeronautas portugueses Gago Coutinho e Sacadura Cabral no contexto das comemorações do Primeiro Centenário da Independência do Brasil   - 30 de março de 1922 – 17 de jun de 1922

Ennio Morricone, meu compositor querido, autor  de The Mission Mains Theme, que eu estava escutando enquanto escrevia essas linhas sobre o meu avô, para minha surpresa, também nasceu em 10 de novembro!
Yo no lo creo, pero que las hay, las hay... 

13 comentários:

  1. Parabens ao teu avo pelos 126anos!Que lindas e irrealizaveis facanhas ,viagens nos contaste,Fernandinha!Ficamos com a sensacao que o estavamos acompanhando pela descricao que fizeste e me atrevo a pedir:conta mais!Bjos

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  2. Hoje tb e o aniversario de minha irma que assim como teu avo ,esta na nossa memoria com todo o carinho Bjos Marta

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  3. Parabens ao teu avo pelos 126anos!Que lindas e irrealizaveis facanhas ,viagens nos contaste,Fernandinha!Ficamos com a sensacao que o estavamos acompanhando pela descricao que fizeste e me atrevo a pedir:conta mais!Bjos

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  4. Belíssimo relato! Adorei! Palmas para sua criatividade sempre surpreendente!!!

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  5. Fernandinha querida, há alguns dias dei uma palestra sobre meu trabalho de tradução de poemas do "Ou isto ou aquilo", e na plateia havia uma tradutora que, desde os seis anos, tem o livro que vc ilustrou! E ela me emprestou para ver! Que incrível, eu nunca tinha visto "Ou isto ou aquilo" com a sua ilustração. É uma obra de arte! <3 Nós duas ficamos nos perguntando... Por que vc não volta a publicá-lo? É tão bonito! <3 <3 <3 beijo enorme

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  6. Amei saber mais sobre seu avô Correia Dias. Certamente você herdou dele seu talento de ilustradora. Talento que sua avó também tinha, não é?
    Beijo

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  7. Ah... Telma! Que lindo, palestras! Suas!Sobre a sua tradução de Ou isto aquilo!!! Ótimo que você conseguiu ver um exemplar do livro Ou isto ou aquilo escrito por minha avó materna, Cecília Meireles e que eu ilustrei! Quem tem esse livro, não vende nem empresta e ainda deixa escrito o nome do futuro proprietário, em testamento!!! Que bom que você gostou do meu trabalho de ilustrações, concepção e projeto gráfico! Minha mãe e minhas tias Maria Elvira e Maria Fernanda amaram o trabalho e comentaram pessoalmente comigo, com muitos elogios, sorrisos felizes e concordâncias alegres! Estamos todos ali dentro, em poesia e em imagens. Meu nome Fernanda, é homenagem da minha mãe ao pai, Fernando!Sou a única neta de Cecília e Fernando, designer. Sim, minha avó Cecília Meireles também desenhava e fez exposições de seus desenhos no Brasil e em Portugal, e até lecionou desenho. A maioria dos bisnetos consanguíneos de Correia Dias e Cecília Meireles são designers! Por mim, pode ser reeditado! Beijo, Telma querida!

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    1. Sim, seu nome é em homenagem a seu avô, assim como o nome da sua tia, Maria Fernanda, também o é... <3 Sua avó gostava de homenagear as pessoas por quem tinha afeto. Uma tradição muito bonita essa da sua família!

      Tenho certeza que sua mãe e suas tias amaram as ilustrações que você criou! Há um clima onírico em todo o livro, intensificado pelas ilustrações. As roupas das crianças parecem da época em que Cecília era menina... que vestidinhos lindos...! muito bem imaginados.

      Uma coisa que a dona do livro (hoje com 36 anos) me contou e que achei muito interessante foi que ela achava que a Maria do poema 'As meninas' tinha morrido. Ela credita isso não só ao poema estar no passado e o eu lírico falar que sente uma profunda saudade da Maria, mas também à ilustração. A janelinha da Maria aparece fechada primeiro, e só depois é que a janela aparece aberta, com a Maria dando bom dia. Na infância, essa minha amiga (o nome dela é Maggie Pollo) interpretava a janela fechada como sinal de que Maria estaria morta.

      Eu acho que valeria muito a pena reeditar esse livro com suas ilustrações e seu projeto gráfico. Imagino que imprimi-lo do jeito como você o concebeu fica mais caro do que a edição atual, mas poderia ser feita uma edição com menos cópias. Tenho certeza que venderia tudo, mesmo com o preço mais alto.
      Beijos
      p.s. falei da palestra não para me gabar, mas para te contar como conheci de repente uma pessoa que guardou seu livro como um tesouro, desde a infância. achei isso tão bonito! bjs

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    2. Telma! Que lindo o encontro com a sua amiga Maggie Pollo! E sobre o livro, sobre Maria e a janelinha... Bom...
      No projeto original incluí umas tesourinhas para as crianças interagirem com o livro, e a janelinha da Maria deveria ser aberta com tesourinha para abrir e fechar!A família, o editor, poetas, críticos de arte e livrarias amaram, mas um comentário amargo e infeliz,de um dos presentes à reunião, defendendo que "tesourinhas e livros bons e bem feitos nas mãos das crianças miseráveis de nosso país não combinam" subtraiu as tesourinhas. Mais tarde, a mesma presença envolvia-se com publicações pessoais com tesourinhas e crianças miseráveis do Brasil. Kkkkk
      Tomara numa próxima edição desse meu projeto, incluam as tesourinhas originais. Ou as crianças possam recortar e movimentar em efeitos visuais nos tablets... o que não é o mesmo, porque não treina o controle motor da mão, etc...
      Sim a Maria foi a última a deixar o ninho de Cecília, e mesmo quando deixou, foi a mais presente visitando-a continuamente e com a chave da casa, colaborando com o apoio nas ausencias por viagens, cartas, entregas,recepções, despedidas, visitas,pesquisas, etc...Visitando-a quase que diariamente e após a doença manteve-se ao seu lado até ao ultimo sorriso e adeusinho. Logo, compreende-se a "profunda saudade da voz de amizade, Bom dia!"
      Quero assistir palestra, Telma! Diga-me quando, e eu irei!
      Beijo da Fernandinha/ Fernanda Correia Dias

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    3. Querida Fernandinha, a Maggie Pollo não teve coragem de cortar nas linhas pontilhadas... Eu vi! Vi que tinha linhas pontilhadas para as crianças interagirem. Essa foi uma das coisas (entre muitas!) que encantou à Maggie. "Um projeto editorial muito avançado pra época!", ela disse. Ela sabia que poderia cortar, se quisesse. E ela abriu a janelinha da Maria. Então esta, ela cortou. Mas mencionei a interpretação dela pra constatar como são imaginativas e inumeráveis (quase infinitas..!) as interpretações infantis de um mesmo poema...!

      Uma pena essa pessoa criticar sua ideia das tesourinhas... E não contente em criticar e banir, ela ainda usurpou sua ideia e usou-a como se fosse dela...! Lamentável. Intragável! Que cara de pau!

      Ficarei lisonjeada e honradíssima se um dia você puder vir a uma palestra minha sobre a experiência que tive com as crianças e suas leituras dos poemas de "Ou isto ou aquilo". <3

      Beijo grande, queridíssima! <3 <3 <3

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    4. Claro que eu irei a uma palestra sua, Telma! Uma, não! Várias!
      Te desejo, incontáveis palestras!!!
      Terei imensa alegria, sim!
      Faltam no livro a página onde após abrir a janelinha, todas inclusive Maria, apareceria sorrindo ao lado das irmãzinhas; como falta em correspondência, a página que a criança recortaria e montaria uma bailarina articulável com pins/bailarinas -( aqueles que abrem as pernas, após juntar duas superfícies para travar...e que também se chamam, bailarinas... ) para dançar no palco da página do poema, que fica em pé...e falta a Laura e Vestido de Laura, que vestia Laura, antes dela fugir nua nas asas de uma borboleta azul...
      É lamentável o prejuízo que o poder em mãos inadequadas, em egoismo e subtrações intelectuais particulares e pessoais com interesses comerciais futuros evidentes, causam à obra e aos artistas.
      Mas, nas artes que eu realizei com tintas sobre cartões Schoeller,estão lá, vivas e vibrantes, todas essas laminas desde 1987, quando o livro foi publicado.Porque o lugar que se habita é uma extensão dos nossos valores! Beijo, Telma querida!

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  8. Marta!A Maria da Paz está conosco.Envolvida em muita gratidão e amor . Que bom que você gostou das notícias gráficas tomadas do céu, do Correia Dias, ainda quando o Cristo Redentor estava em construção. Um espetáculo ele registrar com o lápis em pleno voo!! O Diário de Notícias publicou o acontecimento! E era o começo, do começo da aviação comercial no Brasil! Tão corajoso, Correia Dias, cruzaria o Atlântico, em hidroavião, como tal fizeram Gago Coutinho e Sacadura Cabral em 1922, quando Correia Dias aqui no Rio, montou a recepção. E até um pedaço desse avião de cor creme eu conheci colado a um cartaz da ocasião...Beijo Marta!

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