Ovo.Foto Fernanda Correia Dias
Ovo. Foto Fernanda Correia Dias
No dia em
que a minha mãe me ensinou a quebrar ovos eu aprendi muita sabedoria.
É um gesto
muito forte, transgressor, de partir o perfeito, o lindo, o liso e o inteiro
para usar o meio, o interno, o recheio. Minha mãe cheirava as cascas abertas e descartava no lixo, se tivesse duvida da integridade para consumo, daquele ovo.
Quebrar o ovo, vai na direção oposta à preservação, conservação
do inteiro. Mas é a minha mãe, tratando da minha saúde, quebrando aquele mundo
que ela entrega ao fogo desprezando as cascas.
Ou
cozinhando o mundo dentro do mundo de outro mundo.
Só isso foi
metáfora para muitas respostas e compreensão de varias das das minhas dúvidas
e interrogações. Quantas vezes
precisamos tomar esta decisão de quebrar o inteiro para chegar às claras e ao
núcleo amarelo nas gemas?
E a surpresa
de alguma vez estarem podres estragando todos os saudáveis? E o
cheiro horrível? Insuportável? Como pode ser tão insuportável?
A consistência
das claras fritas ou fervidas me ensinavam por observação e alquimia que "a transparência
também fica opaca e completamente
branca sobre o fogo. . E aquilo que era liquido, translúcido, transparente, mole,
coagula feito uma gelatina e se transforma numa aparência de porcelana, opalina, vidro, todos na possibilidade impensável de serem flexíveis, impondo a
revelação!
Essa
transformação dos ovos perfeitos, inteiros, serem quebrados para obtermos o recheio pleno de vida na nossa vida, é uma transgressão muito antiga... muito antiga....Por que será que a vida se alimenta de vida viva e de vida morta? Mas que pergunta é essa numa hora dessas?
Pergunta de renascimento...provavelmente!
Pergunta de renascimento...provavelmente!
... E quando a
minha mãe queria manter a casca do ovo toda inteira, para injetar chocolate derretido
e na Páscoa surpreender a família entregando evidentes ovos de galinha numa cesta e ao
descascarmos encontrarmos o chocolate? Era uma arte! Todos aplaudiam aquela
brincadeira feliz de apesar das aparências frustantes, não nos frustrava, nos privando do
chocolate! E não eram ovos ocos... eram sólidos e macios... Fico imaginando o
tempo e a manobra que ela creditava ao exercício secreto de fazer um ovo para cada um de nós , sem que
nós a víssemos fazendo... até o dia que eu vi e pedi para fazer e descobri
que não era nada fácil...não... só ela!
Porque as
coisas inteiras e perfeitas clamam por seus virtuoses até hoje. Não basta
treinar, tem que ter no peito aquela certeza que faz, que pode, que domina! Ela possuía e era assim que ela batia com o ovo na quina do mármore ou para minha
maior surpresa, esmagava de tal modo entre os dedos de uma de suas mãos, que eles elegantemente partiam ao meio!!
Aquele
templo branco na mão da minha mãe, quando ela me oferecia fervidos, moles e quentes dentro das próprias cascas, nas tacinhas para come-los com colherinhas! Ou quando ela conseguia tirar aquela estrela solar no
centro da lua intacta da frigideira e coroar meu spaghetti! Ou quando me oferecia Papos de Anjo ou Ambrosia,
que ela mesma fazia perfumando a casa com aquela alegria de cravos, limões, leites, ovos e canela!
E quando a surpresa eram os ninhos de agrião com dois ovos dentro? Ou quando ela chagava da Colombo com docinhos que me encantavam: Ninhos de Ovos, barriguinhas de freiras, Pastéis de Santa Clara e fios de ovos para me enlouquecer...!
E quando a surpresa eram os ninhos de agrião com dois ovos dentro? Ou quando ela chagava da Colombo com docinhos que me encantavam: Ninhos de Ovos, barriguinhas de freiras, Pastéis de Santa Clara e fios de ovos para me enlouquecer...!
Ah... e usava como remédio... Uma gemada quando a tosse estava incontrolável ou para
curar minha anemia, o bife de fígado com a gema e o espinafre......batidos no liquidificador, todos crus! Sim, eu bebia.
"Para reconhecer um ovo fresco, cubra-o de água num copo. Se flutuar `à superfície, está velho...se afundar, está fresco. Se ficar ao meio, ainda pode ser consumido."
"Para reconhecer um ovo fresco, cubra-o de água num copo. Se flutuar `à superfície, está velho...se afundar, está fresco. Se ficar ao meio, ainda pode ser consumido."
Quanta
sabedoria, simbologia, ciência e proteção aprendi quando minha mãe me ensinou a
quebrar ovos inteiros.
"Abra cada ovo numa pequena vasilha isolada, e depois de examiná-lo, acumule em outra vasilha.Assim não terás o dissabor de ao ir abrindo todos na mesma vasilha e sobrepondo podres aos frescos, descobrir que terás que levar tudo ao lixo!!"
Aprendi a ter este cuidado. Esta inteligencia e sensibilidade. Essa precaução!
E também a cuidar da minha saúde, a respeitar-me e a respeitar a sabedoria.
Entender claramente que existem "os saudáveis e os podres". A identificar. Classificar.
A acolher e a rejeitar.
Quantas metáforas cabem nessas sabedorias. Preserve-as.Cerque-se da vida saudável.
"Abra cada ovo numa pequena vasilha isolada, e depois de examiná-lo, acumule em outra vasilha.Assim não terás o dissabor de ao ir abrindo todos na mesma vasilha e sobrepondo podres aos frescos, descobrir que terás que levar tudo ao lixo!!"
Aprendi a ter este cuidado. Esta inteligencia e sensibilidade. Essa precaução!
E também a cuidar da minha saúde, a respeitar-me e a respeitar a sabedoria.
Entender claramente que existem "os saudáveis e os podres". A identificar. Classificar.
A acolher e a rejeitar.
Quantas metáforas cabem nessas sabedorias. Preserve-as.Cerque-se da vida saudável.
Fernanda Correia Dias
in Ovos e o gesto transgressor.