sexta-feira, 4 de maio de 2018



O encontro do olhar com uma camélia dentro da canção dos
pássaros canoros do Jardim do Museu Serralves no Porto
em 3 de maio de 2018
Fernanda Correia Dias

Vem jardineira, vem meu amor,
não fique triste que este mundo é todo teu
de Benedito Lacerda e Humberto Porto
cantada por Orlando Silva

Eis que estou feliz e solitária nos jardins do Museu Serralves no Porto e encontro uma camélia me olhando e meus ouvidos internos escutam a voz da minha mãe acompanhada pela canção natural dos pássaros canoros, cantando: Vem jardineira, vem meu amor, não fique triste que este mundo é todo teu !
E assim, é. Somos assim. A vida é assim. Vamos levando conosco os amores que nos habitam. Disso somos feitos.
Os leões e leoas dentro do coelho! E como fui moldada com tanta ternura!
Me pergunto quais livros não li, por quais não me interessei, por que não entrei no dilúvio de sugestões frenéticas perpetradas pelo cinema, pelo rádio e pela televisão* e como as minhas escolhas excludentes me deram tamanho equilíbrio à tantas adversidades da vida, que me atingiram?
Li muita Poesia. Sempre.
Fico pensando também o que falta ou fragilizou tantos?
Falta mesmo Poesia?
Poesia é aceder de imediato à filosofia, com elevação espiritual e educação.Mas, escolha os poetas excelentes, porque apesar de todos os poetas serem bons, apenas  porque são poetas*, nem todos os poetas são excelentes.Prefira Cecília Meireles, a mãe da minha mãe, Maria Mathilde. 


Fernanda Correia Dias
in O encontro do olhar com uma camélia
*Cecília Meireles


14 comentários:

  1. Você falou em Casa de Serralves... Como é possível? Mudou de casa? De casa da Sereia para casa de Serralves vai uma grande distância... Eu agora estou na casa da Graça, com vista para o Castelo de S.Jorge, procurando você no meio desta multidão. Será que ainda andas por estas terras lusas? Perguntei ao Fernando Pessoa mas ele não te viu passar, estava à toa na vida,

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  2. Hummm ... que está fazendo na Casa da Graça de onde avistas o Castelo de São Jorge e de onde me encontras no meio da multidão???? Espero que a saúde esteja florindo as alegrias que deixei nos meus passos em terras lusas! Imagine, que fui andando sozinha pelo Porto, apressada por uma sensibilidade imensa e poderosíssima, entre ruas e calçadas até parar diante de uma fachada, levantar os olhos e ler cravado na parede: À REVISTA A ÁGUIA E AO MOVIMENTO DA RENASCENÇA PORTUGUESA. Eu sem saber estava na Rua da Alegria 218. Creia e não duvides de mim:pude fazer um self, com o celular e registrar minha surpresa e encantamento! Ali estava a parte de Fernando Correia Dias que ferve no meu sangue e que me arrasta ao que sabe antes de mim... Perplexa e maravilhada. Até Pessoa,amigo confidente de meu avô Correia Dias, me acenou e sorriu!

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  3. Que lindo ouvir a conversa de vocês e saber das andanças das duas por esse mundão lusitano. Meu antepassado português mais antigo (de que tenho notícia), Inácio Franco, veio para Minas em 1712, saído do norte de Portugal. Ele nunca voltou. Voltei no lugar dele, e andei pela terrinha muitas vezes. Nunca o suficiente. Numa das vezes segui parte da rota que Saramago traça em "Viagem a Portugal", e vi Trás-os-Montes e suas casinhas com telhado de ardósia. Desde a primeira vez, há quase vinte anos, foi como "voltar pra casa". E isso apesar dos três séculos que separavam meu pé daquele chão. Dessas saudades atávicas, doloridas. Amo o Brasil, mas como sofro por Portugal! Amo Portugal, mas como me dói o Brasil... Beijos, queridas

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  4. Telmaaaa! Que lindo!É assim mesmo."Voltar pra casa"! Quando estive em São Miguel, Margarida sabe, eu sabia o que estava depois das esquinas...Eu fui ao Museu Carlos Machado sem perguntar para ninguém...Na rua da Alegria pude fotografar minha imensa perplexidade no instante em que festejava! O rapaz que em pé atrapalhava minha fotografia, notou e se afastou para que eu ficasse mais perto do meu espanto! Beijinhos muitos em vocês! Adoro quando conversamos sob essas estrelas divinas!

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  5. Gostaria de estar em São Miguel também, algum dia, e de fechar os olhos e imaginar que em algum lugar pertinho pode ter caminhado uma Insulana, Meireles ou Correia Dias, em quem eu esbarraria e, abrindo os olhos, pediria desculpas pelo ato desastrado. Beijinhos, Fernandinha, Margarida!

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  6. Telma, se nos esbarrássemos no silencio de São Miguel, logo todos ouviriam nossos sorrisos misturados às nossas vozes de porcelanas felizes e "de nadadeiras soltas" como dizia minha avó Cecília Meireles! E mais ali para frente estaríamos num bazar comprando talheres de peixe, relicários, xicrinhas brancas e azuis, paninhos bordados de linhas do céu e sentaríamos com nossas cestas de alegrias, ao lado de nossas pernas, para tomarmos um thézinho nas chávenas do mercado ou na cafeteria do Museu Carlos Machado e certamente acompanhado de muitas queijadas de Vila Franca (O doce da minha vida!)!E como se o dia fosse apenas para bordar beleza e fixar perfeição, até para os desavisados que nos olhassem atraídos por nossa felicidade, seríamos o eterno instante de estado contínuo de poesia que até hoje somos.Disso somos feitas, únicas, e em qualquer lugar, sempre teremos o encontro simplesmente porque isso nos identifica e assim é: nós nos reconhecemos para todos os tempos. Não é?

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  7. Diga lá Oh Insulana da Casa do Vulcão se nós três estamos em algum azulejo em S.Miguel ou por ali, nas Oliveiras, com nossos sorrisos imensos e nossas cestas?
    Beijinhos em vocês! Ia ser tão bom se por aqui fossemos reunindo mais poetas e poesia!

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  8. Está já comigo esse roteiro lindo que me passou, Fernandinha. Assim farei quando for a São Miguel, enfim. Tudo estará às soltas, como as nadadeiras da poeta. Caminharei pelas pedras quase polidas pelos passos ora manhosos ora assombrados dos séculos. Entrarei no mercado e nos bazares, e encherei minha cesta com paninhos bordados e relicários, e na cafeteria brindarei a ti com xicrinhas brancas e azuis cheiinhas de chocolate se no inverno, ou com chávenas cheiinhas de thezinho de funcho se no outono, mas certamente terei à mesa uma queijada de Vila Franca que contemplarei pelo eterno instante <3

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  9. Hummmm... quando estiver em São Miguel, Telma, andarás por ruas e avenidas muito verdes e cobertas de rosas rosas, muito e deliciosamente perfumadas, encontrarás melros negros de bico amarelo atravessando as estradas ou encrustados num arbusto de folhas frescas, ficarás ainda mais inteligente, porque verás hortênsias, cor de rosa,lilases, amarelas, verdes, azul clarinho, azul turquesa, vermelhas e vinho. Baixinhas e da sua altura. Árvores de boldo e camélia e algo mais impressionante as sempre-vivas vivas e de todas as cores... E verás e ouvirás o mar imenso levantando ondas, fazendo espuma e caminhos sobre o mar... Ah, Telma!E a Margarida Maia Gouveia que escreveu O Eterno Instante, um dos trabalhos mais bonitos que já li sobre minha avó Cecília Meireles? E Orísia e Antonio e as casinhas de pedra? E Conceição e Pedro do Residencial Alcides? E Victor e Antonio na Morada da Escrita Casa de Armando Cortes Rodrigues? E a belíssima Escola Cecília Meireles? Com crianças e professores estudiosos? E a Universidade e sua biblioteca? E as outras bibliotecas? As caldeiras...As lagoas azuis e verdes? Os banhos nas águas termais e quentinhas... o cão de fila de São Miguel que tem orelhas de urso e nadadeiras? E a qualidade de poetas e escritores? E Orísia, Victor, Conceição, Vitorino Nemésio, Gaspar Frutuoso, Antero de Quental, Pavão,o Silva Junior, José Bruno, Rui Galvão... Aniceto...Filomena...O Canto da Maia... Ernestina...Tomaz... É lá mesmo, O Reino da Poesia fundado por Cecília Meireles! Uma inteira maravilha que mora dentro de mim, porque estou dentro dela!

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  10. que coisa mais linda! fiquei muito comovida e já estou viajando na sua descrição. obrigada, Fernandinha! <3
    ainda não li "uma poética do eterno instante", obrigada pela indicação também, viu? beijo grande!

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  11. Telma, São Miguel é mesmo o Reino da Poesia que Cecília fundou quando lá esteve em Ponta Delgada! É imperdível. Você deve entrar num carro e dar a volta na ilha visitando a Fajã de Cima e a Fajã de Baixo, a Água de Pau , as Sete cidades,Vila Franca do Campo, Ribeira das Tainhas, Ponta Garça, Furnas e Ribeira Quente, Povoação, Nordeste e Nordestinho, Salga, Lombada de São Pedro, São Brás, Ribeirinha, Caldeiras,Ribeirinha, Ribeira Seca, Ribeira Grande, Rabo de Peixe, Calheita, Fenais da Luz, Santo Antonio, Remedios, Bretanha, João Bom, Mosteiros, Ginetes , Candelaria, Feteiras,Relva covoada e Ponta Delgada!!! Beber as águas de todas as cores, comer as queijadas de Vila Franca, o doce da minha vida! Amêndoas! e entre nas livrarias maravilhosas! E nas bibliotecas, Telma! Você vai amar muito, tanto mar! percebeu a musicalidade natural dos nomes?Beijo Telma! Onde andará a Vulcânica Margarida? Se fores, encontre a Margarida, a Orísia!

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  12. Queridas, queridas, queridas, quanta sabedoria sai de vossas penas. Penas de escrita e penas das aves imensas que são, neste voo Atlântico, a caminho deste paraíso insular. Com este conhecimento eu vos nomeio "Cidadãs da Atlântida" , onde só sobreviveram os que transportaram o facho da Sabedoria. Esse vosso "hino aos Açores" obriga_me informar as mais altas patentes da engrenagem hierárquica cultural para que, um dia, possam ser condecoradas com a insígnia de "Fiéis Amantes do Reino da Poesia" em honra ao vosso culto Espírito e em memória a Cecília Meireles. Se fosse eu a mandar este acontecimento seria realizado brevemente, com a vossa presença, e de todas as Letras do Reino. Aguardemos, pacificamente, a iluminação destas almas, para que assuntos desta natureza possam ser rapidamente agendados. Haja Fé e muita Esperança, como nos ensinou Antero de Quental. Abraço a ambas. Até sempre Margarida insulana, ainda com os olhos postos no Pico.

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  13. Insulana Margarida Vulcânica, tão elevada que mantém sempre os olhos postos nos picos das almas, conservando de nós, a luz no horizonte brilhante! Veja aqui minha reverência de eterna musa de A Bailarina e de Ou isto ou aquilo; estes belíssimos e encantadores poemas escritos por minha avó materna e madrinha, Cecília Meireles para mim, entre outros, magnificamente traduzidos para o inglês, por Telma Franco et Sahra! Observe nesta reverencia de neta, afilhada e bailarina, a Honra e Delícia de ser sagrada Cidadã da Atlântida! O que você acha disso, oh Ceciliana, Telma Franco? Não é uma maravilha? E sagrada ao lado do facho da Sabedoria; da futura insígnia de Fiéis Amantes do Reino da Poesia; do culto ao Espírito e em Memória a Cecília Meireles e todas as Letras do Reino!!!! Isso sim que são patentes merecidas para marinheiras estudiosas!!! E essa clarividência da Vulcânica, essa ternura da Insulana, esse estado perpétuo de Pico e poiésis(criação, ação, confecção, fabricação e, posteriormente, arte da poesia e faculdade poética) faz o mais alto farol da nosso arquipélago sinalizar para qualquer passante desavisado, tratar-se do Reino da Poesia criado e fundado por Cecília Meireles!
    “É possível que venha cair no caminho
    O meu corpo, rasgado com a lança...
    É possível que fique no chão...

    Eu porém, sem o meu corpo, ainda irei cavalgando,
    Com este pássaro de ouro pousado, pousado,
    na forma invisível da mão...
    Cecília Meireles

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  14. Como você é sábia, querida Fernandinha, sábia e mágica, pois com uma pedra em estado natural e bruto, lançada destes ilhéus, de mar profundo, você burila, lapida, dá todo o polimento necessário para que, com suas palavras e letras, tudo se transforma em vibração brilhante, luzidia, de jóia rara, em mãos de artista única Tudo lhe serve para rodopiar, inventar, criar, lembrar e recriar novos caminhos, novas hipóteses, novos sucessos, sempre com a varinha mágica dessa madrinha única, que habita em ti. Gosto de lançar daqui este verde que me rodeia pois sei que nele está parte da tua alma. Estou nas Capelas, cavadas na rocha por mãos divinas,neste mar, onde passam cachalotes e baleias festejando a liberdade. Estou cheia de azul e verde neste jardim, onde tu apareces sempre vestida de negro e bico amarelo. Aqui a ciência brota da terra de forma simples e natural. Neste caso o teu Reino é deste mundo e é aqui que devem ser feitas as condecorações, com as insígnias devidas em forma de pássaro de ouro. Tenho dito. Ámen.

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