sexta-feira, 30 de julho de 2010
"Um dia, eu não parei mais de pintar... fui fazendo um atrás do outro... como se todos eles fossem meus, me pertencessem, me habitassem, vivessem dentro de mim, circulando no meu sangue e eu decidisse que não mais morariam em mim, mas em outro mar!
Foram nadando para a vida em ar... eu protegi com vidro...deixando-os livres no ar, para serem eles mesmos.
E ficaram assim suspensos... alegro-me por re-encontra-los e em sabê-los ainda vivos, livres e especialemnte azuis, como sempre foram "
Fernanda Correia Dias. Sobre os guaches azuis de peixes, conchas e fundos do mar. Julho, 2010
Quando perguntei, como chamaríamos a traineira, ela decidiu: Tombo da Lua!
Perguntei por quê?
" Imagina... se essa lua dourada, caísse no mar para ser um barco e sair pela noite, seria a traineira amarela...
que é um barco imperfeito, alquebrado, barulhento e que ainda assim vaga no dia e na noite em beleza e ternura ...como a lua...
até não se sabe quando, mas por enquanto!"
Fernanda Correia Dias . Conversa com minha mãe, Mathilde, Búzios 1995
sábado, 24 de julho de 2010
Fernanda Correia Dias . Porque meu coração é uma ilha. Guache sobre cartão. 2003
"Eu sempre desenho uma ilha muito distante e tudo em volta mar.
Me sinto uma ilha muito distante e tudo em volta mar.
Se uma ilha falasse, talvez não dissesse o que eu digo, mas sentisse o que eu sinto.
Eu sou a filha do meio, a neta do meio, a irmã do meio, a sobrinha do meio e a tia, da tia do meio.
Talvez isso me explique porque sempre desenho uma ilha, e uma palmeira no meio da ilha.
Eu sou simultaneamente a ilha e a ilhada."
Fernanda Correia Dias . Nocões do arquipélago e do continente. 2001
As borboletas azuis povoam a minha infancia como pessoas da minha família.
Sei o que me ensinaram para sempre até hoje:
Sustentar o ar em leves asas, para poder voar no ar e passear suspensa por ele.
Lição de dinâmico equilíbrio em vida.
Sempre achei que a palavra sublime, é mais parecida com borboleta, que a palavra borboleta...
Fernanda Correia Dias . in Classes de observações. 2008 . Inédito.
sábado, 17 de julho de 2010
Tornou-se obra rara. Quem tem não se desfaz. Nunca consegui comprar nenhum usado.
Mas o mais bonito desta experiência, foi encontrar minhas filhas no caminho da escola, abraçadas com o livro!
Combinei com minha mãe de não revelarmos as autoras das ilustrações e poesias, até que elas soubessem ler sozinhas os nomes da ilustradora e da escritora na capa... e um dia elas chegavam e me perguntavam: “foi você mesma que fez este livro? Esta Fernanda aqui é você? Este aqui não é o nome da Bisa? Também quero fazer livros assim...” E fizeram.”
“Minha impressão sobre estas imagens, passados 23 anos, é de que foram feitas ainda ontem.
O espanto dos editores, com os detalhes, cores, movimentos...e dos leitores, segue o mesmo.
Quem vê quer comprar um livro igual e diz que não encontra!
A edição tem a primeira e quarta capa, coloridas. O formato é A4 horizontal.
Capa dura, guarda colorida, 165 páginas em policromia costuradas e acrescidas de meias-páginas.
Depois de consultar e pesquisar com as crianças acrescentei um Banco de palavras Ou isto ou aquilo. Palavras que traziam duplo sentido ampliaram o vocabulário dos leitores infantis e os das minhas filhas e sobrinhos, imediatamente.”
Fernanda Correia Dia 17 de Julho de 2010
Ilustração Fernanda Correia Dias
“A ilustração é algo fascinante. Colocamos no papel imagens que pensávamos que sabíamos.
Sabíamos mais do que sabíamos sem saber que sabíamos tanto!
E isso é o “algo” fascinante porque é revelador.
A mão ganha uma autonomia espantosa. Expressa e libera memória e observação.
Fernanda Correia Dias - 17 de Julho de 2010 - Rio de Janeiro - Brasil
sexta-feira, 16 de julho de 2010
terça-feira, 13 de julho de 2010
Vens com esta cançãozinha
E vais.
Cada pio levanta o sol e apalpa o ar...
Percebo que ordenas o dia,
creio em ti como um deus no mar...
Acordas sombras escondidas
Acendes vozes de silencio
E quando tudo parece certo em cada lugar,
Renuncias a paisagem que assistes da ponta do mastro e
Saltas ao abismo do ar...
Levas de mim
Tua cançãozinha
Amanhã retornarás
Aprendo com você, diariamente
A reduzir pensamentos a uma única sílaba
Condensar, condensar
Variar entonações
Pausar. Ritmar, multiplicar...
Sintetizar...sintetizar...
Lições da suprema arte de piar.
O que penso é íntimo, entendes?
Penso que o que penso é verdadeiro.
Se meu julgamento tem esta importância para ti.
Ignore com nobreza.
Mais vale o que temos de certo, mesmo que provisório
Que eternas mentiras com aparências perfeitas.
Fernanda Correia Dias
1-
Assim.
Encontro milhares ao chão...
Umas redondas outras longas
morenas, vermelhas , negras, brancas...
Lisas como peles humanas
Dormindo em indizíveis seivas
Concentradas em ordens subcutâneas.
Todas na minha mão.
Esta? A mais alta palmeira!
Esta? Cepa de mil anos!
Esta? Folhagem rasteira!
Juntas? Silencio e solidão.
Surdas sementes.
Surdas sementes.
Sopradas, chegarão a outros continentes
Esquecidas, germinarão.
Sozinhas em si mesmas...
Surdas sementes
Surdas sementes.
Apontarás:
Aquela? A mais alta palmeira!
Aquela? Cepa de mil anos!
A outra? Folhagem rasteira!
Surdas, cada qual em seu reino
de heranças genéticas
Apuradas em cada folha, flor, fruto...
Lançarão ao chão
Renovados ciclos de
surdas sementes
para renovados ciclos de
silencio e solidão.