Cidade Maravilhosa
Fernanda Correia Dias . Fotógrafa .
Cidade Maravilhosa
Cresci ouvindo a minha mãe, minhas tias e a avó materna dizendo:
Se eu te contar, você não vai acreditar porque eu mesma não acredito! Nossas
histórias são sempre verdadeiras. Poucos podem acreditar e é
sempre mais fácil dizerem que somos muito criativas - de fato somos!- e que qualquer história é a mais pura invenção, ah... isso é que não! Quando é verdade é verdade. E se declaramos que testemunhamos, vimos, ouvimos, estivemos
presentes, então...: Mentira! Mas somos mesmo sonho...não? Então fui
procurar naquela rua comprida dois bocais para dois abatjours. Eu mesma vou
trocar os bocais do abatjours... é fácil, parece brinquedo de montar... Só
dizer isso, que eu mesma vou trocar, já deixa muita gente pensando que estou
mentindo para impressionar...Ah... deixa para lá... Vou trocar os bocais
mesmo...Disse o comerciante da primeira loja:_Não tenho bocal branco com rosca branca
para fixar a cúpula, só o preto. A Senhora compra o branco que não vem com rosca
nenhuma e o preto que vem com rosca preta... Tira a rosca do preto para usar no
branco... E cabe? O eletricista sabe fazer isso...me respondeu...Cabe...Vi o
dono da loja olhando para o meu dinheiro que pousei no balcão para experimentar
a rosca preta no bocal branco... ávido por meus trocados enquanto o vendedor ao lado dele, estava em choque e nem embrulhara os
bocais...Me olhava como quem me dissesse: a Sra é inocente! E ainda pensava:
este patrão é um espertalhão...! Paguei, meti na bolsa os bocais sem embalagem e parti para comprar as folhas de eucalipto
que precisava para deitar sobre os livros... então...ainda longe do florista,
entrei numa segunda loja de
eletricidades e perguntei por bocais de abatjours e o Sr Joaquim me mostrou
dois brancos com roscas brancas, num saquinho lacrado... e os parafusos eram
para chave Philips...Ok vou levar, mas... e essa chave Philips...Tenho que ter... Não sei onde
está a minha...Tenho mais de seis abatjours precisando de novos bocais...Leva!,
disse o vendedor, vai precisar! Vi o filho do Sr. Joaquim perguntando pela
chave do carro dele e depois que
encontrou a chave, deu um beijo na bochecha do pai e saiu. Comentei: Que bom,
que bonito, o filho beijando o pai...! Me despedi e entrei no florista ao lado, onde novamente encontrei
o filho do Sr. Joaquim, escolhendo num vaso com várias gérberas, a mais
bonita...e levantou a flor: Essa aqui!O florista foi lá para dentro buscar o
papel para embrulhar a flor e o Sr. Manoel veio na minha direção. Sr Manoel
deve estar com quase noventa anos e tem hábitos de sedutor. Daqueles sedutores
que sabem que são bonitos. Talvez tenha mais de dois metros, um sorriso e
cabelos de Kennedy, totalmente brancos. Eu disse: Preciso de folhas de
eucaliptos, mas não quero aquele eucalipto caro... Então pegou um ramo bem
magrinho, partiu em dois e disse que faria a metade do preço. Caríssimo, eu
sabia, mas vá lá... Antes de sair vi o
telefone, as chaves e a gérbera sobre o balcão e avisei ao filho do Sr Joaquim!
Oh! Não vá perder celular e chaves novamente... Ao que ele respondeu: Ah...
podes ficar! Perguntei: Com a gérbera? E sai rindo!Na próxima loja de
eletricidades da mesma rua, perguntei por bocais e o vendedor tinha bocais
brancos com rosca branca, à um terço do preço dos demais. Levei dois bocais e
entrei na loja do Sr. José trazendo o ramo de folhas de eucalipto no braço perguntei:
Tem angélica? Sr. José respondeu que sim e pedi duas. Depois perguntei: Tem
folhas de eucalipto? Sim! E pedi dois amarradinhos de folhas de eucalipto e me
entregaram dois amarradões enormes. Em casa, fazendo as contas concluí: seis ramos
de folhas de eucalipto do Sr Manoel tem o mesmo preço que 58 ramos de folhas de
eucalipto do Sr José. E somando todos os bocais e dividindo pelo numero de
bocais que trouxe para casa, paguei por cada um unitariamente cinquenta
centavos a mais que o valor mais barato que encontrei...Todos na mesma rua...
Questão de andar mais para lá ou mais para cá...Uma certeza: Nunca mais compro flores com o Sr. Manoel, nem produtos naquelas duas primeiras lojas de bocais... Irei até o fim da rua para comprar angélicas e eucaliptos com Sr. José. O bom José tem os ramos de eucalipto como eu tradicionalmente comprei, grandes e generosos por preço justo que ele entrega contente, embaladinho em cone de papel e laço.
Fernanda Correia Dias
in Mais adiante tem outro
adorável texto! queria morar no Rio pra também comprar do bom José :)
ResponderExcluirTelma! Como estás? E as preciosas traduções? Conte-me! Conte-me! Como estão?
ResponderExcluirFim de verão início de outono e o eucalipto com as flores maravilhosas da angélica fazem um bem de floresta dentro de casa! Venha! Beijo da Fernanda
Amei a surpresa!
ResponderExcluirOutro beijo!
Sim, preciso te contar :) Tenho feito vivências do Pensar Alto em Grupo, usando os poemas da Cecília - Menino Azul, A bailarina, Cavalinho branco, A égua e a água, Ou isto ou aquilo, A avó do meninó, Passarinho no sapé - com crianças brasileiras de dez anos de idade, numa escola municipal de são paulo. :D Planejo ir pra Inglaterra no segundo semestre (outubro, possivelmente) fazer as mesmas vivências lá, usando as versões que fiz com a Sarah. Quero ver como as crianças inglesas reagem às versões. As crianças brasileiras sempre ficam apaixonadas!! e participam ativamente das leituras e discussões sobre os poemas <3 Amo! :)
ResponderExcluirBeijos!
ExcluirTelma,
ResponderExcluirComo minha Avó me deu o livro e me explicou os poemas você já sabe. Mas principalmente você precisa saber que eu lendo os poemas para as minhas amigas e amigos, montamos recitais com os poemas e adereços e apresentávamos espetáculos nas portarias dos prédios, nas festas da família e amigos, nos aniversários da família e dos amigos, dos pais dos amigos, na escola, nas festas das escolas... Eu tinha nove anos e sentia que compreender e saber dizer com a minha emoção todos os poemas do livro,por tudo o que eu tinha aprendido com eles, era mesmo algo imprescindível para todas as crianças e para a expansão cerebral que eu e meus amigos alcançávamos com o sentido que o poema guardava e guarda, por toda a minha vida.
Se você lê para elas...Ah...Isso é sensacional!! Muitos beijos em você e nelas, Telma! E nas crianças da Inglaterra e na Sarah-Querida, também!