Casal de Pano . Presente de Cecília Meireles para a neta Fernanda . Foto Fernanda Correia Dias
Fui fazer exame de vista para a renovação da carteira de motorista num prédio vermelho e recuado na rua Haddock Lobo e depois do exame me levei para a Paróquia Divino Espírito Santo. Porque esta igreja muito antiga ficava ali bem perto daquela rua Zemenhof onde as três meninas subiam para a chácara da Jacinta, na rua da Colina com a São Claudio...O Ludwik Lejzer Zemenhof foi o iniciador do Esperanto no Brasil. Entrei na Igreja e gostei muito. Velas acesas para os mortos me levaram e me trouxeram da infância. O fogo é uma força que entra em contato direto com o espírito...Tanto tempo que não sentia aquele vapor de pavio, o calor de todas as velas acesas... e eram tantas em lugar coberto com a parede expondo muitas pequenas vitrines com os retratinhos das saudades. Palavras de muito amor. A nossa Senhora... A Santa Terezinha e a Nossa Senhora dos Navegantes... Por esta mais que todas, Jacinta deve ter passado e fixado os olhos em oração...Claro que sim... agora eram os meus. Dois mares batiam nas minhas pálpebras e a luz apontava do chão os azulejos azuis e brancos das paredes...
Deixei a Paroquia do Divino com a trindade de três espíritos santos e fui caminhando até olhar para uma placa de mármore onde estava o nome Zemenhof . Fui subindo, e lembrei que o Pedro Nava em Baú de Ossos explicou que a rua da Colina passou a ser chamada Professor Quintino do Vale... Sem a menor chance de ver o mar que minha avó via... e o gasômetro... Um prédio estava de fronte do monte na Colina erguendo-se na frente da São Claudio...Mas eu subi a São Claudio e fui ao onze...que agora é "nove 'e "onze A". Dividiram a chácara. E onde era o pomar, o tanque de pedra, é nove...A casa é o onze. Já tinha visitado com minha mãe... Um vento maravilhoso e frio como porcelana me alcançou e contra ele fui subindo a rua São Claudio até encontrar dois rapazes que me perguntaram espontaneamente se eles podiam me ajudar. Comentei que estava visitando o lugar dos meus antepassados e fui descendo a rua com um deles, que me ensinou a descer mais ainda até chegar na rua da Colina e descer mais e mais... Me explicando como eu voltaria para a Haddock Lobo.
Passei por uma calçada e fiquei catando no chão aquelas sementinhas vermelhas que os índios da costa brasileira usam para fazer colar...Umas quinze continhas eu catei até o momento que catando me perguntei por quê eu estava catando continhas vermelhas sobre o cimento da calçada.... E me respondi, uma saudade de catar...uma saudade daquelas continhas e aquela gratuidade em surpresa diante dos meus olhos foi me trazendo de volta para a floresta em simultaneidade com o cimento.
Lembrei do casal de pano que minha avó me deu para brincar com ela porque estas continhas também estavam na casa dela...
Lembrei do casal de pano que minha avó me deu para brincar com ela porque estas continhas também estavam na casa dela...
Desci e segui até a próxima igreja... São Sebastião dos Capuchinhos... Então fiquei maravilhada com os mosaicos italianos... Que deslumbrante! Uma preciosidade! E vi um capuchinho benzendo um homem e uma mulher então tirei da bolsa as pombinhas do Divino e o capuchinho benzeu explicando que ali estava o corpo do fundador da cidade do Rio de Janeiro, o Estácio de Sá, e a pedra da fundação também...
E que mais adiante descendo uma outra rua eu ia encontrar a rua da Estrela.
Fernanda Correia Dias
in Casal de Pano . Presente de Cecília Meireles para a neta Fernanda.
ou os Fundamentos da Fundação e das Epistemes Naturais.
ou os Fundamentos da Fundação e das Epistemes Naturais.
todas estas referencias são completamente mágicas na biografia de Cecília Meireles: Rua da Estrela, rua da Colina, Estácio de Sá, rua Haddock Lobo, rua Zemenhof,Paróquia Divino Espírito Santo, Nossa Senhora dos Navegantes...!
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