Solidão
A voz da grande nuvem . Foto Fernanda Correia Dias
Então meus ouvidos sonhavam com gravações de textos de todos os autores não lidos e eu sempre pedia aos donos de gravadoras, que chamassem atores de lindas vozes para gravarem livros, em qualquer mídia, que eu já era a primeira cliente da lista de compradores. E nada... Tanto falei que um dia apareceu, mas já era tarde...
Iniciada na poesia desde antes do meu nascimento, filha e neta de Mãe e Avó poeta, Maria Mathilde e Cecília Meirelles, a poesia é sempre o tudo que eu tive e que eu preciso. Enxuta, sucinta. De coração. Perfeita para a velocidade da minha vida. Me especializei. Priorizei. Ficou de lado o texto corrido que me esforçava para concluir a leitura.
Melhor que fossem livros de cronicas que prosseguir a leitura sempre adiada de alguns livros específicos e interessantíssimos de filosofia, sociologia, etnografia... Terminava de ler a cronica mas nunca de ler um romance. Perdia o interesse nos infindáveis parágrafos, como quem dorme lendo sem aprender a conclusão.
Mesmo daqueles livros que os amigos diziam que estavam lendo. Então eu pedia para que me contassem o que aquele romance acrescentou em suas vidas.
Quase sempre nada muito espetacular. Eram os detalhes, o modo, o pensamento mágico, sutilezas.
Eu concluía: A humana companhia.
Por isso eu empilhava os livros e andava pela casa de paredes de livros, querendo conhecer todos eles.
Mas faltavam mais olhos e mais mãos...Eu precisava ter mais cabeças para absorver em simultâneo tantas vozes em humanas companhias.
Só mais tarde, quando meu coração sabia ler, assoviar, tocar flauta e nadar, tudo ao mesmo tempo, que mergulhei em todos os romancistas mal lidos entre eles Gabo depois que eu ouvi ele falando sobre a carpintaria de um romance:
Eu lembro da voz, lembro das mãos e dos olhos daquela palavra carpintaria nele.
E aquela história de pedras sendo transformadas em água...a população que perdeu a memória...As borboletas amarelas...A solidão como companhia, companheira, a única que realmente temos como a nossa parenta Solanda... Só ela anda...Só anda... Sol anda... dia após dia como sua unica e verdadeira companhia. Solidão. Sem. Com. Anos e anos.
Solidão? Jacinta, Garcia e benevides, bem vistes, bien venido.
Então lembrei da minha secretária colombiana que me emprestou o livro em espanhol e da reação da minha mãe ao ler o título respondendo:
Ah... filhinha... Nascemos sós. Morremos sós.
Todo o mais é companhia, na alegria e na felicidade, na tristeza e na magia, etc...
Este todo o mais da minha mãe é genial. Ela sempre buscou o entendimento humano. Reunir. Compreender.Conviver. Estar. Ler. Estudar.
Gargalhar, brincar, pertencer, acolher. Ela sabia tudo sobre a solidão e a Solanda, nossa parenta.
Inclusive me ensinou a andar pelo mundo, vivendo, trabalhando muito, lendo e me preferindo bem acompanhada.
Eu também.
Obrigada Mãethilde,
Beijos Gabriel!
Fernanda Correia Dias
in Garcia, marques!
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