Cecília Meireles e Fernando Pessoa
Vitral . Foto Fernanda Correia Dias
Poucos sabem que o marido de Cecília Meireles, o designer Fernando Correia Dias criou a capa da revista A ÁGUIA em 1912. Revista de literatura longeva que exibiu por mais de 50 anos a assinatura de Correia Dias na capa. Raro e espantoso.
Nesta Revista Fernando Pessoa estréia como escritor, mas não no primeiro número...Só depois que ele encontrou Fernando Correia Dias.Ou seja no segundo ou terceiro numero.
Pessoa anota o dia, mês e ano que encontrou Correia Dias, em sua agenda, tal importância que teve para si mesmo o encontro.
Em 1934 Fernando Pessoa publica Mensagem.
Em 1934 Cecília Meireles está em Portugal fazendo diversas palestras com muita audiência e êxito, levando sua poesia, assuntos de educação, a poesia dos novos poetas brasileiros, acompanhada do designer Correia Dias, seu marido e pai de suas três filhas que estão no Brasil. Todos os jornais divulgam as notícias das palestras com as fotos de Cecília, do casal, os desenhos que Correia Dias faz da esposa palestrante e ambos marcam encontro com o amigo Fernando Pessoa num café. Na impossibilidade de comparecer Fernando Pessoa envia um exemplar de Mensagem e um bilhete.
No ano seguinte, em 1935, falecem Fernando Correia Dias em 19 de novembro e Fernando Pessoa em 30 de novembro.
Em 1938 Cecília ganha o primeiro prêmio de poesia da Academia Brasileira de Letras com o livro Viagem. Mas este não é seu primeiro livro nem o último. Antecedem a este premio, os livros Espectros, Criança meu amor, Baladas para El Rei, O Espírito Vitorioso, Festa das Letras e seguem as publicações de Mar Absoluto, Problemas da Literatura Infantil, Doze noturnos da Holanda, Poemas escritos na Índia, Pequeno oratório de Santa Clara, Giroflê, Giroflá, Romance de Santa Cecília, Pistoia, cemitério militar brasileiro, Romanceiro da Inconfidência, Ou isto ou aquilo, Solombra, Cânticos, etc...
Por volta dos anos 70, quando morei na casa da minha avó Cecília Meireles encontrei na biblioteca o livro Mensagem amarrado com barbante de algodão e o bilhete. Parecia intocado. Constavam as originais páginas dobradas, precisando de espátulas. Abri e li o livro Mensagem. Tornei a amarra-lo com o barbante e encaixar o bilhete. Foi o primeiro livro de Fernando Pessoa que eu li na minha vida. Comentei com minha mãe e minha tia e ela, minha mãe me deu para ler Viagem e Mar Absoluto, escrito pela mãe delas, minha Avó Cecília Meireles.
Ali encontrei o impacto e o estrondo de Viagem e de Mar Absoluto. Uma Cecília Meireles imensa passou a morar em mim. Até meus treze anos eu tinha a Cecília Meireles Avó materna, madrinha do meu batismo, que escreveu A bailarina e Ou isto ou aquilo para mim, mas depois dos treze anos a Cecília Meireles imensa que me despertou a inteligencia literária por sua obra e por todo o ser humano.
Em 1944, é Cecília Meireles quem apresenta Fernando Pessoa aos brasileiros e ao Brasil.
Cecília escreve o prefácio, comentários e mini bio-bibliografias, seleciona poetas e poesias e publica no livro intitulado: Poetas Novos de Portugal
Gosto de lembrar que ela fez isso. E fez mais porque trouxe ainda no mesmo livro, Adolfo Casais Monteiro, Afonso Duarte, Alberto de Serpa, Algredo Guisado, Angelo de Lima, Antonio Botto, Antonio de Navarro, Antonio Pedro, Antonio de Sousa, Augusto dos Santos Abranches, Branquinho da Fonseca, Camilo Pessanha, Carlos Queiroz, Cortes Rodrigues, Fernanda de Castro, Fernando Namora, Francisco Bugalho, João Campos, João de Castro Osório, João José Cochofel, João Falco, José Régio, Luis de Montalvor, Manuel da Fonseca, Mario de Sá Carneiro, Mário Dionísio, Miguel Torga, Natercia Freire, Pedro Homem de Mello, Ruy Cinatti, Saul Dias, Tomaz Kim e Vitorino Nemésio.
Fernanda Correia Dias
in Geografia Familiar