segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Carnaval



Eu tenho asas. Colagem . Fernanda Correia Dias

É Carnaval, Rio de Janeiro e eu não sabia que as crianças estavam todas na Praça.
Eu precisava correr, fazer meus movimentos diários mas resolvi caminhar e caminhando eu ouvi e vi algo impossível de traduzir. Mais ou menos assim: A Branca de Neve sentada no cavalinho branco e o menino descalço segurando as rédeas do cavalinho conduzia a Branca de Neve, sob as sombras verdes dos flamboyants. Atrás dois palhacinhos, um menino e outro menina, de chapéus de cone e imensas golas franzidas, sapatos enormes, iam fotografando a Branca de Neve no cavalinho...Cruzando, o "Super Forte" de capa preta, dava os primeiros passos da sua vida? Talvez... O fato é que o "Super Forte"era franzino...Um tiquinho de nada... Mas era no olhar que estava sua força. Olhava como o conquistador do mundo, aquele olhar horizontal de quem está vendo a linha do horizonte lá ao longe e desembaraçando raciocínios...
A Fada descalça trazia dois copinhos amarelos  e transportava de um para o outro, a areia da Praça... Pó de pilim-pim-pim que o sol tocava dando a magia da luz, aquela alegria que só a ótica explica tão luminosos efeitos...Abelhas e Joaninhas estavam sentadas de pernas abertas no chão da Praça com seus sapatinhos listrados e suas mãozinhas de luvas macias e as bochechinhas pintadas de carmim, como brinquedos antigos... Melindrosas com vestidos prateados de franjas, sapatos de salto, andavam de balanço e gangorra e havaianas dançavam samba botando-para-quebrar. Homem Aranha comia pão de queijo, Super-Man andava de velocípede com a capa voando... O Pirata lutava com a espada e  tronco da árvore. Mulheres-Maravilhas, poderosas atravessavam a praça de mãos dadas com Minies e Mickeys de orelhas de camundongos.
Fiquei pensando nos meus trajes  de Carnaval, naquela poética que a minha mãe e tias e avó nos davam quando nos viam fantasiadas... De bailarina, palhacinho, índia, melindrosa, pirata, bruxinha, fada, havaiana, anjo e na certeza que eu já tinha sido muitas e muitos...Fiquei pensando em como as fantasias me emprestaram faces provisórias, mascaras que eu não quis para a vida toda, só por um dia no Carnaval e no outro dia poder ser outra...E logo, logo um pesamento me rondando que eu ficava mais perto de mim quando eu percebia a diferença da fantasia e do meu amor por uma vida sem máscara, sem personagem. Uma vida desarmada. Sem precisar de traje, nem de personagem, eu me erguia do tapete para dançar, eu e a grande música, como faço naturalmente até hoje. Eu e a vida.Na praça.Caminhando entre os sonhos dos outros. O que tem que ser, tem a força.

Fernanda Correia Dias
in Perpétuo



Nenhum comentário:

Postar um comentário