terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Fernanda Correia Dias . Fotógrafa . Conversa, Café com Borboleta

Quando cheguei em Key West, depois de atravessar várias ilhas e pontes sobre o mar, o céu estava com um sol vermelho e todos olhavam para Cuba. Pensei em O Velho e o Mar, enquanto cruzava o portão da antiga residência de Ernest Hemingway.
Os gatos-netos-bisnetos, descendentes daqueles gatos que viveram perto de Hemingway e Pauline, ali estavam. Uns dóceis, outros sonolentos e a maioria atenta.
A luz natural do jardim que incluía a piscina azul turquesa, era uma sucessão de verdes amarelados e azulados dizendo: Estamos numa ilha e ecoando, ilha, ilha, ilha...
Observei móveis, quadros, livros, mesas, roupas... Entrei na cozinha...Mas do primeiro andar, só levei para o segundo andar, o aroma de café perfumado, como aquele que existia na cozinha da casa da minha Avó Cecília Meireles.
Tudo era mais bonito das janelas do segundo andar. A maresia que eu adoro me apontou um gato de cerâmica que estava em cima de um armário de roupas.
Vi que o gato parecia trabalho de Picasso e fiquei impressionada como ele teria construído aquele gato fantástico em cerâmica e como não havia nenhuma informação...Perguntei se era de autoria de Picasso fui informada que era de autoria de Picasso e tinha sido encontrado todo quebrado no jardim por Bernice Dickson. Ela colou e deixou na mesa da cozinha, quando a primeira esposa de Hemingway, visitando a casa reconheceu o gato, lembrando os tempos de Gertrudes Stein, Pablo e Ernest em Paris...Então o gato foi para cima do armário de roupas de Hemingway, no segundo andar.
Deixei a casa de Pauline e Ernest como se tivesse dado uma saidinha da biblioteca para voltar daqui a pouco.
Nas minhas narinas, o aroma do café e de maresia, nos meus olhos o gato de Picasso e aquela luz verde das plantas e apesar de não ter ali voltado nunca mais, sempre entro, vou à cozinha, tomo café, vou ao segundo andar, olho para o gato de Picasso em cima do armário de roupas de Ernest, enquanto encho meus pulmões de deliciosa maresia e ouço o som das folhas ao vento na ilha.
O velho Ernest e o mar podem ser encontrados em qualquer rua, lojinha ou restaurante em Key West, mas este que está dentro de mim, eu não deixei por lá. Trouxe comigo para o Brasil. Agora vai ficar aqui.
Fernanda Correia Dias
in Conversa, Café com Borboleta




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