sexta-feira, 18 de abril de 2014

Quaresma
Quaresma . Foto Fernanda Correia Dias

Esta. Esta flor. Esta cor.
O Rio de Janeiro ficava desta cor, na quaresma.
A Floresta da Tijuca, o Alto da Boa Vista, as Paineiras, Santa Tereza, a Mesa do Imperador...
O Parque da cidade, a encosta do Jardim Botânico, do Horto...Do Parque Lajes.
Eu sabia sem saber: Estavam próximas as procissões, os anjos com asas e vestidos compridos, as músicas tão tristes, um bum, bum.... e o Jesus sofrendo, crucificado, morto, ressuscitado....Os incensórios de prata lavrada presos em correntes, balançando nas mãos dos meninos e a fumaça subindo como um pensamento escuro. Minha mãe chamava meu pai para ver a procissão conosco, e ia nos explicando o sofrimento, a paixão, a vida, a dor, a ressurreição.Alguns adultos assopravam: Elas vão ficar impressionadas. Melhor não vêem isso não...Minha mãe ia explicando que Jesus não estava ali, era um boneco, um teatro, uma representação do que o Jesus passou em vida. Para ninguém nunca mais maltratar alguém daquele jeito...
Senhor dos Passos, eu ardia de espanto. Um misto de onde é que eu estava e o que é que eu estava fazendo ali e por que(?) com uma vontade de ficar bem perto dos meus pais, abraçada no colo deles, sendo levada por eles e a procissão ficando para trás, para trás...Ia comigo uma prece, muito parecida com aquelas que ouvi as multidões cantando e eu repetia e repetiria por toda a minha vida lembrando sempre do meu pai Sol Helio: Santos, santos, dos santos...Todos os Santos e da minha mãe, a Maria.

Fernanda Correia Dias
in Geografia Familiar


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