Beira da Lagoa Rodrigo de Freitas . Foto Fernanda Correia Dias
simplesmente, tocando em frente. Fiquei muito perto da minha mãe, Maria Mathilde. Ela usava estas metáforas para se expressar. Falar dos filhos, sobrinhos , família. Da vida. Falar das perspectivas e das suas atitudes. Ação. Também desafiava: Dou um boi para não entrar e uma boiada para não sair quando sabia que estava com a razão. Ela também nos uniu aos parentes do meu irmão no Rio Grande do Sul. Lembrei dos campos lisos, limpos e planos em São Francisco de Paula, quando Jorge e Dalva assopraram no berrante e uns pontinhos pretos foram crescendo velozmente até onde eu estava e eram bois imensos...Enooormes, em disparada na minha direção e sem freios... Para comer o sal.
Também as ovelhas... Que lindo ficar no centro do bando de ovelhas rodando... Jorge laçava, para aparar o pelo! Ontem eu estava muito longe e aqui. Simultânea.
Olhando para os meus pés vi as sandálias franciscanas brancas, que a Mamãe comprava para ela e para nós, filhos e sobrinhos... Só as freiras, as enfermeiras e nós usávamos felizes...Combinava com nossos imensos sorrisos! Era muito agradável e confortável o pé no couro. Mas... pé no couro...? Quem sabe o que é isso? Alguém ainda fabrica sandálias franciscanas de couro? Onde? Hoje tudo é plástico!
Minha mãe nos dava o melhor conforto corporal, falava em metáforas óbvias e enxutas, nos dava felicidade e união a tudo e todos. Nos perguntava quando errávamos: Você gostaria que alguém fizesse isso com você? Seria bom se fosse consigo? Já ficou no lugar dela? Nossas bonecas francesas flechadas e estripadas à facadas. Amarradas pelas pernas pelos caubóis. Nos ensinou a força de perdoarmos os caubóis. Nos ensinou a nos unirmos, a sermos irmãos, nos entendermos, nos ampararmos. Nos socorrermos.Deu exemplos praticando na própria vida o que sonhou para ela e para todos nós.Líder natural.Era a primeira a se erguer para levantar a mudança. Socorreu sua mãe, sua irmã, seu professor, seus amigos, nossos amigos e muito desconhecidos e todos nós na vida e na morte. Fazer o bem sem olhar a quem. Nos preparou para compreender a vida de tal maneira com amor absoluto que ao ouvir seu nome todos nós nos levantamos e estamos aptos. Tal como ela nos ensinou a fazer quando ouvíssemos o nome da mãe dela e dos nossos. E a prática teve início na nossa mais tenra idade quando nos ensinou atravessar a mão dupla da Avenida Atlântica. Éramos cinco crianças e ainda amigos e agregados. Tínhamos que caminhar em bloco: Quando eu der o primeiro passo faremos juntos e no segundo também. Ninguém vai na frente e ninguém fica para trás. Todos juntos!
Fernanda Correia Dias
in voltas de bicicleta na Lagoa Rodrigo de Freitas com minha mãe Maria Mathilde