quinta-feira, 19 de maio de 2016

Fernanda Correia Dias . Fotógrafa . James 2016

Quando eu recebi a minha primeira calculadora, eu lembro que eu duvidava dela. Do resultado da operação que ela mostrava no visor. Conferia com lápis e papel.  Alguém quando me pedia a calculadora emprestada, também perguntava: a sua calculadora está funcionando bem? É confiável?
Não tínhamos confiança nas calculadoras. Não tínhamos.
Nunca perdi o hábito de fazer o calculo mentalmente visualizando ou escrevendo os numeros, mas o trabalho intenso, me obrigou a conferir cálculos dos outros utilizando a calculadora.
Nesse tempo não existiam os celulares e eu tinha máquinas calculadoras de bolsa, de mesa...
Quando percebia que estava perdendo a habilidade de operar com velocidade e exatidão os números  eu abandonava a calculadora, fazia no lápis... e depois conferia com a a calculadora... Percebeu a inversão? Passei a duvidar de mim... a depositar mais confiança na calculadora.
Um espanto!
Quando os telefones celulares chegaram com as agendas e todos nós passamos a ter mais um numero de telefone, tínhamos que anotar os novos números e os nomes. Com a facilidade de encontrar a pessoa onde estivesse por celular, não a encontravamos mais no telefone fixo e eram muitos telefones novos...Sabíamos que começavam por 9... Redigindo na agenda eletrônica o nome da pessoa e o numero e a facilidade de localizar o nome, passei a não ver o número... Só o nome e chamar.
A minha memória só lembrava dos numeros antigos... dos telefones fixos... Não quis gravar os celulares de ninguém... Nem o meu... Mas quando acabava a bateria do telefone, eu não tinha o numero de ninguém... 
Tinha uma dependência? 
Então, para minha felicidade, anotei numa pequenina agenda de telefones que eu mais uso. Mantenho na bolsa, ao lado do celular. Na falta de bateria,tenho os números  e posso ligar de outros telefones.
Mas... estas tecnologias facilitadoras, o que elas fizeram da minha memória?
 Com a transferência dos dados arquivados na minha memória para outro lugar fora do meu corpo, me  transformei em alguém que não queria mais reter nada...
Alguns me diziam... Ah... mas agora você tem mais espaço para pensar, pesquisar...
Mas, qual nível estou de velocidade de pesquisa e pensamento que até os dados provisórios com os quais eu estou raciocinando estão evaporando, volatizando junto com ideias...?
Para onde estão indo no meu corpo? 
Prestando mais atenção no espaço da memória para aprender novos assuntos, percebi que me transformei em pesquisadora contínua.
A velocidade com que obtenho respostas para as minhas perguntas e dúvidas nos buscadores da internet, me transforma todo dia em alguém melhor. Amplia, dilata e aprofunda assuntos e estudos que antes não eram apenas superfície...Agora varam matérias, átomos, agregam-se e desintegram-se formando com as mesmas partículas outros raciocínios...
E sinceramente, nem olho mais para o que estou vendo...
Estou criando uma massa poderosa dentro do meu cérebro com estes teradados onde estou habitando...
Fernanda Correia Dias
in Memoriam



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