quinta-feira, 4 de junho de 2015

Fernanda Correia Dias . Fernanda Correia Dias
As mãos serenas . Foto das mãos de Fernanda Correia Dias

Um dia quando eu apareci contornando o bambuzal que ficava entre o Solar Grandjean de Montigny e o Departamento de Artes- PUC, RJ, Ripper me disse: _Fernanda, você é impressionante. É a única índia de pele vermelha que eu conheço. É a pele da cor do sândalo, respondi e cotejei com a minha pele, meu colar indiano de sândalo que eu usava naquele instante e que era presente da minha avó materna Cecília Meireles.
Rememorando o antes daquele encontro, Ripper recebeu meu projeto de empilháveis na oficina de madeira da PUC, com entusiasmo. Enquanto meus colegas apresentavam cópias de móveis que executaram na marcenaria, eu apresentava na mesma marcenaria, solução que dei para acondicionar, guardar e proteger os meus objetos e livros. Criei gavetas avulsas de diversos formatos e tamanhos, estantes e mini estantes com quatro planos, pintei de branco e empilhei na parede do meu próprio quarto antes daquela oficina. Mas a oficina me permitiu aperfeiçoar em todas as direções o que eu já dizia que eram módulos múltiplos e empilháveis. Nas gavetas eu criei divisões internas para deitar pincéis, canetas à nanquim, penas metálicas, borrachas, lápis... Todo um material que precisava estar à mão na velocidade das horas de trabalhos...Os vãos das estantes obedeciam alturas específicas e múltiplas que permitiam pastas na posição vertical e horizontal assim como grandes livros de arte e pequenos livros de poesia. Em alguns módulos que serviam de base, aparafusei rodízios...Deslocava, remontava, ajustava o crescimento da biblioteca, livros e projetos conforme minha necessidade. 
Neste instante que escrevo percebo a designer Fernanda Correia Dias dentro de mim e com 14 anos de idade e quatro anos antes de ingressar na faculdade.
Percebo a razão do meu entusiasmo impressionando o professor e dando hábeis soluções físicas aos meus próprios problemas que imediatamente causavam interesses nos colegas em adquirir os produtos cuja marca já era Empilháveis, pelo modo como eu, me referindo ao meu trabalho fiz com que todos também assim se referissem. Na defesa comercial do meu produto para o meu público eu argumentava corretamente que a compra por módulos, permitia pequenos investimentos adequados aos bolsos dos estudantes, artistas, casas, escritórios, dispensas,closets... 
 Naqueles tempos os quartos de estudantes eram também seus primeiros estúdios. Alguns quartos muito engessados com projetos de arquitetos que foram feitos para contemplar específicas idades...agora eram um estorvo na velocidade da vida e dos projetos. Não era o meu problema. Eu tinha no meu quarto mobílias e nada era embutido.Tudo era móvel, o que é mesmo muito moderno até hoje e que me permitiu conviver com os EMPILHÁVEIS *. Poderiam ganhar diversas cores. Era mesmo uma solução de produto que nós estudantes, não encontravamos no mercado. Não existia nem toque nem estoque.
Não encontrei uma empresa que se interessasse por investir e produzir comigo. Também não tinha tempo para abandonar meus estudos e buscar investidores, mostrei o projeto e os detalhamentos para alguns e logo vi minhas idéias nas prateleiras. Meus amigos vinham me parabenizar... Não perdia tempo me explicando. Compreendi que no Brasil, temos que ser o criador, o fabricante e o comerciante. Fiz isso mais tarde com outros produtos que criei.
Criei também o conector e dimensionei canos de  alumínio. Eu mesma fiz o óbolo e a faca na oficina de engenharia mecânica para fazer a esfera. Fiz rosca que permite criar estruturas desde as minimas banquetas, cadeiras, mesas, platéias, palcos às que acondicionam pessoas geodésicamente. O catálogo deste produto explorou todas as possibilidades. Poucos anos mais tarde quando vi com quantos paus se faz uma canoa, tive certeza que o estudo do design no Brasil necessáriamente deveria estar aplicando todo o conhecimento milenar dos autóctones. Os peles vermelhas do Brasil. Mas isso é outra história.
Beijo Ripper, da Fernanda!

Fernanda Correia Dias
in Para José Luiz Mendes Ripper professor emérito PUC-RJ 









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