quarta-feira, 19 de julho de 2017

Fernanda Correia Dias . Fotógrafa . Fibra
Meu amigo chegou como um peixe, exausto de tanto nadar. No peito a flecha atravessada onde ele ainda apoiava a mão e entre os dedos inclinava a haste para encontrar espaço na respiração em tanta dor. Meu amigo tinha os olhos saltados da cara, e tão logo pode, livrou-se do veneno que tinha corrido todo o seu sangue e passado por seu coração, me dizendo assim: Meu filho, o meu filho... se intoxicando... intoxicado, já tentei tudo o que sei de físico e espiritual e diante do desprezo que meu filho demonstrou por tudo que fiz e faço, perdi o controle e meti a mão na cara dele, gritando: Acorda! Acorda!
Estou arrasado, sempre acarinhei meu filho, nunca agredi meu filho, nunca dei uma palmada, perdi o controle, perdi o controle... Era um sonho.
Estamos vivendo esta realidade que muitas crianças não conhecem o pai apesar de conviver no mesmo espaço e o pai não conhece o filho, abduzido por responsabilidades com o trabalho, que dizer de educar o filho. Terceiriza tudo quanto pode e quando pode e quando não pode, vai largando mão no se vira aí... Estamos vivendo esta oferta de horrores sucessivos em que o ser humano se esforça em ser descartável, nesta aldeia de descartáveis. Um lixão que vez ou outra a ventania levanta e voa entre as velocidades dos automóveis na estrada da vida de cada um aquela pancada desconexa de lixo e apodrecidos no visor do carro. De valores descartáveis... Era um sonho.
E para tudo tem solução, porque vivos estamos e acreditamos no valor humano, na importância do amor, do valor dos seres, ajudando uns aos outros, erguendo e reerguendo as estruturas musculares para a força da asa que levanta o espírito para a Beleza da vida e isso deve começar logo, já, como um levante social que feche a torneira desta abundancia de produção de lixo. A quem interessa? Era um sonho.
A preocupação é a resposta. Preocuparmos. Pré-ocuparmos nossas ações com o que é o certo. Já. Levantar do pesadelo com a vontade de caminhar e buscar a correção da rota. Neste instante. É possível e muda o mundo de cada um e logo expande para o universo social dos sonhos ideais que praticados reinventam o universo total para a direção da excelência. Nove entre dez vão falhar? Tenho uma logística vencedora: Tente dez vezes.Sempre. 

Fernanda Correia Dias
in Tente dez vezes

3 comentários:

  1. “Civilização
    é
    esterilização”

    que produz mais basuras
    para o deleite do inconsciente
    perdido em compras
    na impossibilidade de remendos

    na criação constante das necessidades
    se drogam
    desde a tomada de vitamina d em capsulas
    – porque não podem ver o sol-
    até as tarjas receitadas
    num mundo escuro
    [de lema somar
    ou sumir]

    bem vestidos
    a nudez
    não
    pode ser mirada
    na clareza do dia
    [aliás apenas para o prazer do sexo]

    “Hoje não tem boca pra se beijar
    Não tem alma pra se lavar
    Não tem vida pra se viver
    Mas tem dinheiro pra se contar
    De terno e gravata teu pai agradar
    Levar tua filha pro mundo perder
    É o céu da boca do inferno esperando você”

    E virá o Orfeu
    impávido
    selvático
    com os outros argonautas
    ao hades?

    A
    gente está com fome de
    harpa poesia flores

    ResponderExcluir
  2. Grazi, como está você? Saudades!
    Verdade, poesia e flores sempre!!
    Beijo!
    Fernanda

    ResponderExcluir
  3. Grazie -Grazielle da Silveira Pereira - é a autora do poema!
    Me disse que a epígrafe entre aspas, não é dela, é o fragmento de uma canção...

    ResponderExcluir