quinta-feira, 31 de março de 2016

Fernanda Correia Dias . 
Meu avião

Outro dia, andando no meu avião e olhando para a Terra, eu pensei... Estão todos caminhando sobre a Terra. Sejam migrantes, emigrantes, imigrantes, fixados... Mas a Terra é uma só, e mínima! 
Todos demarcam... Até aqui, tem este nome, até lá tem outro nome! Mas a Terra é uma só e micra...O ser humano é muito menor...! Não quer que o outro ultrapasse a divisa? E cria leis: Se ficar, escolhe o rebanho!... Tem que pertencer a um rebanho ou criar o seu...E todos querem ser pastores e ter coroas de flores*...Menos eu...menos eu... E se eu não quero coroa de flores, devo estar doente, febril, escondendo poderoso e valioso segredo...lá, lá, lá... Não ! Não estou... é que gosto de estudar os idiomas e principalmente os sons nas expressões faciais... É porque gosto de gente e de entender as pessoas... Fico espantada com a quantidade de seres beligerantes que andam sobre a Terra. Propagam e pregam a raiva ao próximo!
Qualquer dia vão entender que a Terra é da Terra, que somos hóspedes. Hóspedes!
Fica tudo aí, rolando sobre a Terra...
Por isso mesmo que é bom passear no meu avião de lata com rodinhas de chapinhas de garrafas de vidro, mas feito com tanto Amor de menino encantado por aviação, que não tem preço que compre ou pague Amor daquele tamanho. Nem tem preço que pague a vantagem de voar nele a hora que eu quero me lembrando que somos apenas hóspedes da Terra... Hóspedes. Portanto, melhor ser gentil logo.
Fernanda Correia Dias
In Do meu avião
* Os Carneirinhos in Ou Isto ou Aquilo da maravilhosa Poeta, Cecília Meireles 



sexta-feira, 11 de março de 2016

Cidade Maravilhosa
Fernanda Correia Dias . Fotógrafa . 
Cidade Maravilhosa
Cresci ouvindo a minha mãe, minhas tias e a avó materna dizendo: Se eu te contar, você não vai acreditar porque eu mesma não acredito! Nossas histórias são sempre verdadeiras. Poucos podem acreditar e é sempre mais fácil dizerem que somos muito criativas - de fato somos!-  e que qualquer história é a mais pura invenção, ah... isso é que não! Quando é verdade é verdade. E se declaramos que testemunhamos, vimos, ouvimos, estivemos presentes, então...: Mentira! Mas somos mesmo sonho...não? Então fui procurar naquela rua comprida dois bocais para dois abatjours. Eu mesma vou trocar os bocais do abatjours... é fácil, parece brinquedo de montar... Só dizer isso, que eu mesma vou trocar, já deixa muita gente pensando que estou mentindo para impressionar...Ah... deixa para lá... Vou trocar os bocais mesmo...Disse o comerciante da primeira loja:_Não tenho bocal branco com rosca branca para fixar a cúpula, só o preto. A Senhora compra o branco que não vem com rosca nenhuma e o preto que vem com rosca preta... Tira a rosca do preto para usar no branco... E cabe? O eletricista sabe fazer isso...me respondeu...Cabe...Vi o dono da loja olhando para o meu dinheiro que pousei no balcão para experimentar a rosca preta no bocal branco... ávido por meus trocados enquanto o vendedor  ao lado dele, estava em choque e nem embrulhara os bocais...Me olhava como quem me dissesse: a Sra é inocente! E ainda pensava: este patrão é um espertalhão...! Paguei, meti na bolsa os bocais sem embalagem  e parti para comprar as folhas de eucalipto que precisava para deitar sobre os livros... então...ainda longe do florista, entrei numa segunda  loja de eletricidades e perguntei por bocais de abatjours e o Sr Joaquim me mostrou dois brancos com roscas brancas, num saquinho lacrado... e os parafusos eram para chave Philips...Ok vou levar, mas... e essa  chave Philips...Tenho que ter... Não sei onde está a minha...Tenho mais de seis abatjours precisando de novos bocais...Leva!, disse o vendedor,  vai precisar!  Vi o filho do Sr. Joaquim perguntando pela chave do carro dele  e depois que encontrou a chave, deu um beijo na bochecha do pai e saiu. Comentei: Que bom, que bonito, o filho beijando o pai...! Me despedi e entrei  no florista ao lado, onde novamente encontrei o filho do Sr. Joaquim, escolhendo num vaso com várias gérberas, a mais bonita...e levantou a flor: Essa aqui!O florista foi lá para dentro buscar o papel para embrulhar a flor e o Sr. Manoel veio na minha direção. Sr Manoel deve estar com quase noventa anos e tem hábitos de sedutor. Daqueles sedutores que sabem que são bonitos. Talvez tenha mais de dois metros, um sorriso e cabelos de Kennedy, totalmente brancos. Eu disse: Preciso de folhas de eucaliptos, mas não quero aquele eucalipto caro... Então pegou um ramo bem magrinho, partiu em dois e disse que faria a metade do preço. Caríssimo, eu sabia, mas vá lá...  Antes de sair vi o telefone, as chaves e a gérbera sobre o balcão e avisei ao filho do Sr Joaquim! Oh! Não vá perder celular e chaves novamente... Ao que ele respondeu: Ah... podes ficar! Perguntei: Com a gérbera? E sai rindo!Na próxima loja de eletricidades da mesma rua, perguntei por bocais e o vendedor tinha bocais brancos com rosca branca, à um terço do preço dos demais. Levei dois bocais e entrei na loja do Sr. José trazendo o ramo de folhas de eucalipto no braço perguntei: Tem angélica? Sr. José respondeu que sim e pedi duas. Depois perguntei: Tem folhas de eucalipto? Sim! E pedi dois amarradinhos de folhas de eucalipto e me entregaram dois amarradões enormes. Em casa, fazendo as contas concluí: seis ramos de folhas de eucalipto do Sr Manoel tem o mesmo preço que 58 ramos de folhas de eucalipto do Sr José. E somando todos os bocais e dividindo pelo numero de bocais que trouxe para casa, paguei por cada um unitariamente cinquenta centavos a mais que o valor mais barato que encontrei...Todos na mesma rua... Questão de andar mais para lá ou mais para cá...Uma certeza: Nunca mais compro flores com o Sr. Manoel, nem produtos naquelas duas primeiras lojas de bocais... Irei até o fim da rua para comprar angélicas e eucaliptos com Sr. José. O bom José tem os ramos de eucalipto como eu tradicionalmente comprei, grandes e generosos por preço justo que ele entrega contente, embaladinho em cone de papel e laço. 
Fernanda Correia Dias
in Mais adiante tem outro


quarta-feira, 9 de março de 2016


Fernanda Correia Dias . Enquadramento
Fernanda Correia Dias . Fotógrafa .
Enquadramento
Notei que vinham uns atrás dos outros e embolando grupinhos, no que deveria ser uma fila de pessoas desejando comprar bilhete para o cinema. De três em três eu somava mentalmente trezentos anos...
Eram muito idosos e perfumados à naftalina.
Concentraram-se em torno da letra J para cima nas cadeiras numeradas. No escuro não cediam espaço e passagem para que os retardatários encontrassem o numero de suas cadeiras. Nem tinha o tal do lanterninha para facilitar...
Os mais próximos mastigavam amendoins naquele estrondo bucal que nem as cenas mais excêntricas e barulhentas do filme abafavam! Era mesmo difícil suportar  naftalina com barulho de amendoins bucais praticamente atrás da minhas orelhas... E então a minha vizinha da esquerda resolveu reclamar em voz alta do meu celular que acendi para me servir de lanterna e enxergar que pernas eram aquelas que estavam me chutando no escuro...? Eram as dela! Mais um pouco a senhora da frente, falava enquanto a platéia fazia psiu! Psiu! e naquela psiulandia nada de ser audível o texto do filme enquanto os hálitos e mau hálitos expandiam-se no ar... Impossível ter vontade de respirar! Então vieram as flatulências desenfreadas da vizinha da direita...gases tremendamente venenosos e estrondosos e eu, ali entalada no centro da minha fila de cadeiras no escuro...e meu sentimento de não pertencimento aquele grupo foi ficando muito forte. Agora além da naftalina, amendoim, halitos e mau- hálitos, as flatulências... Foi quando aquela que reclamou do celular, resolveu ficar de papo com a amiga e eu decidi dizer para ela: A senhora pode parar de falar agora ou vai continuar? Todo mundo riu muito...E quando ela pensou em me responder que ia ficar calada... eu ainda precisei dizer aquele provérbio: Pimenta nos olhos dos outros é colírio, não é? Essa arrogância característica e insuportável é tipica daquela gente que ri da outra que está muito idosa e com o batom fora dos lábios, mas é gente que não vê a si mesma no espelho com o rouge excessivo...
Juro que eu quis amar aquelas pessoas. Mas é impossível. Percebi que o velho, tal como dizem das crianças, não são todos anjinhos não...  Querem tudo para eles, sofrem de um egoísmo que não combina com cabelos brancos, andadores, bengalas... Sentados no escuro, são maus e perversos. Não todos, claro, mas aqueles.
Fernanda Correia Dias
in Aqueles

Núcleo de Genealogia do Instituto Cultural de Ponta Delgada

Será amanhã pelas 21h00 a sessão aberta a todos os interessados. Participe!
Fernanda Correia Dias
in Saudades de Armando Cortes Rodrigues também!

Victor de Lima Meireles
...da minha estante...


Está na Galeria do Centro Municipal de Cultura de Ponta Delgada, Ilha de São Miguel, Açores, a exposição:  ...da minha estante...Livros, Autores e Dedicatórias - Victor de Lima Meireles .
O Presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada e o autor da exposição convidam para visitar a exposição até 9 de abril de 2016.
O autor da exposição é poeta, jornalista, pintor, curador, genealogista...Um grande Artista!
Com a exposição homenageia entre outros, os escritores e a literatura açoriana.
Quando visitamos a ideia de que precisamos das verdades da literatura, para sermos seres humanos melhores que nós mesmos, compreendemos por que Victor imaginou este evento.
Beijo Victor, beije todos por mim, Fernandinha.
Fernanda Correia Dias
in ...da estante de Victor de Lima Meireles