segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Búzios . 
Foto Fernanda Correia Dias
Búzios
Foto Fernanda Correia Dias

Eu tenho consciência que sou também índia.
A minha presença física impõe uma presença indígena que me antecede.
Foi desde sempre assim.
Minha mãe me dizia: _Você é lindíssima. Fora do comum, com esta cor de jambo, com este cabelo preto como a asa da graúna, liso, brilhante, líquido feito água...Estes olhos de Jaboticaba luzidia...Os dentes de branco muito branco...! 
Na Bahia ouvi novamente esta referencia: _Você tem cabelo liso de água... é como descrevem o cabelo liso que quando seco você segura um bocado e ele vai escorrendo mole entre os dedos sem parar como água, ...igual ao seu!
Mas é sobre uma presença indígena que me antecede que estou escrevendo...uma que cheira o ar, a chuva, a água, a folha...antes de mim... Uma que cheira o sal e o açúcar e reconhece pelo cheiro o que dizem ser inodoro...Uma que decide a direção e a hora da caminhada porque precisa encontrar alguém e entra em sincronia e encontra...Uma que lê o tempo, lê as nuvens e as superfícies das águas e transborda em sabedoria...E enxerga para eu ver...e toca para eu ouvir e sentir... E me aproxima do que eu sei que vai me fazer bem, indo mesmo na mão contrária da maioria.E me afasta quando percebe que talvez, não...
Aqueles que me acompanharam ao longo de todas as minhas idades, reconhecem que a minha presença indígena me antecede e é forte, precisa e sensível. Me dizem isso. Vocalizam. Me perguntam: Como você percebe? 
E essa pergunta ecoa muito dentro de mim como numa sala interior de águas translúcidas, espelhadas e lisas pedras...
in Líquida .Fernanda Correia Dias




Árvore  . 
 Foto Fernanda Correia Dias

                                                      Árvores . Foto Fernanda Correia Dias

Por aqui, aquilo que nem todos encontram... Uma cerejeira no caminho!
Eu descia a rua, sabendo que ia encontrar aquela cerejeira em festa! Preparava meu coração...!
Muitas cerejas no chão, muitos miquinhos felizes e uma alegria em exuberância...! 
Ah... eu descia pensando que toda aquela rua talvez tivesse sido um campo coberto de cerejeiras que iam à beira do rio... E encontravam os Jambeiros na esquina...Porque o tronco da cerejeira era meia braçada!
Grosso! Firme! Quantos anos para ficar naquele diâmetro?
E como podem as cerejeiras necessitarem de 800 a 1000 horas de frio para produzirem cerejas, se as daqui explodiam lindas, perfeitas e deliciosas frutinhas em pleno verão?
Não sei...não sei... mas meu coração assistia toda aquela beleza! Sim, porque uma árvore em festa de frutos e miquinhos felizes é algo que te abraça com muita ternura o coração!
Afinal, os miquinhos tinham seus corredores de árvores, para viverem em estado permanente da mais pura felicidade... com frutas, frutos, troncos, folhas e flores também! Muitas vezes os fios elétricos... os postes... aquelas caixas imensas de eletricidade que os micos desavisados e curiosos as vezes morriam eletrocutados... Mas... 
Então hoje eu não vi a cerejeira. Como?
Não tem mais cerejeira?
Arrancaram?
Levaram com raiz?
Por quê?
Meu coração um fiapo... Resolvi perguntar ao Senhor que tantas vezes vi varrer o chão com os frutos e reclamar dos micos... da sujeira... da algazarra...
Ele me respondeu: Também estou triste. Mas a ventania deitou a cerejeira no chão (!)
Como? Não posso acreditar! Era grossa, firme, nada poderia derrubar...
O vento? O ven-to?
Ah... não!
Não tinha copa que vento derrubasse...
Só alguém que não amava aquela festa... E agora plantou lírios????
Vai plantar mais lírios??
Ah... Não...
Me diz assim animado que vai plantar lírios?
_ Estou muito triste, assim como a Senhora, também amava a cerejeira... Fiquei muito triste... O serviço da Prefeitura arrancou e levou...O Serviço de Parques e Jardins...
Ah... Não! Eu não acredito!
Eles são preservacionistas, não fariam essa maldade...
_Pois foi. Eu vi. Estava presente.
Qual o seu nome?
_Fernando.
O Senhor sabe o que significa Fernando?
Não? Pois vou lhe dizer: Aquele que é ousado o suficiente para propor a Paz. O Diplomata. O Conciliador.
Se estavas presente, por quê não evitou? Por quê não conciliou? O que lhe faltou de ousadia para impedir? Por quê não abraçou a cerejeira? O que  faço com a dor que estou sentindo agora?
Vamos encontrar um outro pé de cerejas? Vamos plantar?
Vamos? 
O que vou fazer com a tristeza que vai me devastar todas as vezes que eu passar por aqui e me lembrar do que era e o que temos, falei com meus olhos cheios de água...
_ Não sabia que a Senhora ia sentir tanto...
Pois assim é a vida, o Senhor não sabe? Que tudo à nossa volta nos diz diariamente e anos e anos, muitas notícias lindas? E tristes também? Vou me acalmar, conciliar... é a minha natureza de fernandaria nessa morenaria... Mas se encontro uma mudinha de cereja, trago e o Senhor planta! Combinado?
_Combinado!
Então pensei...
E o mundo fica mais belo, ainda que utilmente, quando por ele anda teu coração! * em diálogo ao poema  de Cecília Meireles, Epigrama n1 do livro Viagem. Leia! Não perca!


In Fernanda Correia Dias
Árvores

* in Cecília Meireles . Epigrama n1 . Livro Viagem



sábado, 12 de novembro de 2016

Rosas Cecília . Fernanda Correia Dias . Fotógrafa

Um povo ignorante é instrumento cego de sua destruição?
A quem interessa um povo ignorante?
Todo dia sabemos que o caminho mais longo que percorremos é aquele para nós mesmos.
Mas o que você sabe sobre si mesmo? 
Aprendeu a ler e não lê?
Por quê não lê? Não sabe o quê ler?
Se você pode sonhar, você pode fazer? E por quê não faz?
A nossa verdadeira nacionalidade é a humanidade? É?
Nada que vale a pena saber pode ser ensinado?
A sorte acompanha os esforçados?
Há mais fome de amor e de admiração no mundo que de pão?
O começo é metade do todo?
O homem é o que faz de si mesmo? Coragem é resistência ao medo? 
Olha... A publicidade maciça de muito autores medíocres é destruição de conhecimento.
Isso está acontecendo por todos os lados. Estamos no tempo da multidão. Da multidão ignorante?
E agora?
Seja melhor que você, para você mesmo.

Não perca tempo: Leia Cecília Meireles. Continuamente. Comece por crônicas de autoria de Cecília Meireles. Salte para poesias de Cecília Meireles. Leia ensaios de Cecília Meireles. Teatro de Cecília Meireles. Leia Cecília Meireles, imediatamente.
Você vai dar um salto dentro de si mesmo em inteligencia e sensibilidade.

Não faças de ti um sonho a realizar: Vai. Cecília Meireles*

É... vai ler Cecília Meireles, ela é única. Uma Deusa, escreveu Drummond. Exata, escreveu Bandeira. Professora da Arcádia, escreveu Vinícius. Nada estará perdido enquanto seu nome for lembrado, escreveu Quintana. Você não sabia? E sabia que hoje, 7 de novembro ela completa 115 anos? Não? Por quê?
Você está perdendo o encontro com a autora que vai te entregar o ótimo? 

* in Meireles, Cecília - Cânticos, XXIII

Fernanda Correia Dias
in Porque hoje é 7 de novembro, 115 anos de felicidade: Nasceu Cecília Meireles!




Gata não casa com cão . Fernanda Correia Dias . Fotógrafa

Com pouquíssimas palavras o amigo gigante e estudioso destas litigâncias esclarece: Isso acontece porque o sujeito reconhece a superioridade moral e intelectual do outro. Com o passar dos anos, sente-se humilhado e esmagado por sua própria consciência e inferioridade e para se compensar devasta patrimônios, se apropria do que não é dono, principalmente quando...   É rato! Nem cão, nem gato.


Fernanda Correia Dias
in É rato! Nem cão, nem gato.

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

James, esse é o meu irmão . Fernanda Correia Dias . Fotógrafa
James, esse é o meu irmão . Fernanda Correia Dias . Fotógrafa

Você nasceu no Dia das Crianças, 12 de outubro de 2001 e hoje, 14 de outubro de 2016, você está aqui dormindo para sempre na caminha fofa e linda que eu fiz para você e que você adora!
Mamãe me pediu para prestar atenção nestes ciclos de vida, quando as datas se aproximam. Passeávamos no cemitério e ela me apontava as datas. Não tínhamos medo das datas porque compreendíamos e aceitávamos profundamente a natureza com naturalidade, o ciclo da vida. Ela insistia, não sabemos nada sobre a vida, mas a morte é certa, desde que nascemos. E está próxima ao nosso nascimento. É um ciclo. Como tudo na Natureza.Não sabemos para quê nem Por quê viemos, mas viver é muito Bom! É ótimo!
Amanhã é Dia do Professor e você, meu irmão-gato, meu Professor ideal, aquele que minha Avó Cecília me ensinou, que deviam ser os professores: Os virtuosos, que fazem com tanto amor e perfeição o que sabem que inspiram a todos a serem semelhantes! Esses são os autênticos Professores.
Eu quero agradecer a sua linda e exemplar vida vivida ao meu lado dando o seu melhor, ensinando a sermos melhores e no mínimo  perfeitos e até mais que perfeitos, como o seu caráter e esqueleto mental e musculatura espiritual miando ou escrevendo com o diálogo dos olhares as transparências das verdades absolutas:
_Estou feliz. Tenho fome. Tenho sede. Posso esperar. Não posso esperar. Tomo banho sozinho. Gosto de limpeza.Amo sua companhia. Me dá um colinho. Adoro colinho. Amo muito você. Estou cuidando de você. Você não está sozinha. Não gosto de ficar sozinho. Quero estar ao seu lado. Vou sentar sobre tudo porque não abro mão de estar ao seu lado. Não gosto quando você se afasta. Eu quero que você cuide de mim. Eu sou seu amigo para todas as horas. Eu vim ver o que você está fazendo. Eu vim ver o que você fez e se fez direitinho. Só tinha esta forma de fazer? Eu estou te chamando para você brincar comigo.  Vem! Vem ver! Vem ver o que eu estou vendo! Eu estou te chamando para você trocar a minha água.  Eu estou te acordando para você olhar para mim. Eu gosto quando você me olha. Eu durmo ao seu lado se você permitir. Eu fico distante te olhando porque tenho medo disso. Eu adoro assepsia. Amo a limpeza. Eu sou inteiro. Observo e escuto. Penso. Faço você pensar. Você tem que refletir melhor sobre isso! Tem certeza? Tiro conclusões. Te hipnotizo. Enfrento.  Estou vivo. Estou com soninho... Estou exausto! Tenho sono. Estou te vigiando. Sei o que você está pensando e estou de acordo. Sei o que você está pensando e não concordo. Pense melhor sobre isso. Sei que você pode fazer melhor! Não coma isso, está estragado! Você pisou o meu rabinho? Você pisou minha mãozinha? Sou valente. Tenho coragem. Gosto de festinha na garganta. O que você está pensando? Posso comer o que você está comendo? Hum... eu também gosto disso... Cheiroso... Eu gosto de perfume! Eu gosto de flores naturais! Eu sou belo porque eu te amo como seu irmão e cuido de você. Eu sou belo porque eu cuido de todos e sou irmão de todos. Eu fui muito amado por nossa mãe e eu me lembro dela praticando tudo o que ela me ensinou.  Essas coisas são da nossa mãe e eu reconheço, por isso sentei aqui! Estou sentindo o perfume dela. Adoro festas. Gosto de gente! Atenção na rua, estou te esperando, não demore. Pense bem no que você está me dizendo. Pense bem no que você está pensando. Também ouvi, vamos lá saber o que é. Eu sei o que é. Eu já entendi. Olha aconteceu algo ali, vai, vai lá! Onde estão as meninas? Por quê não chegaram? As meninas chegaram!!! Onde Ela está? Ela está aqui. Durma tranquila, não há perigo. Estou te olhando. Pisco para você, pisque para mim! Adora quando nós piscamos um para o outro!
Muitas vezes ouvi ao telefone: Mummy onde você está? Eu sei que você chegou aqui no Bairro, porque o James já foi para a porta te esperar! E ainda faltavam mais de trinta minutos de caminhada, até que eu chegasse do outro lado da porta onde ele me aguardava.Como é possível esta conexão??? Como vou explicar?
Quando a nossa mãe dormiu para sempre, ele como eu, sentiu uma saudade imensa. Foram três anos em que muitas vezes choramos juntos. Ele ficou escondido por três anos. Eu só sabia que ele estava vivo, porque a comida sumia...A água sumia... Fazia pipi na área, no ralo da máquina de lavar roupa e o sabão lavava o pipi... Quando chovia e o chão ficava molhado, ele fazia pipi no ralo do lavabo...Ainda ontem cedo, de manhã, com as perninhas bambas, encontrei ele fazendo pipi no ralo do lavabo. Usava o rabinho dobrado como um banquinho e não se sujava. Quando ele completou três anos de luto, ele me tocou e veio para o meu colo. Muito meu amigo. O irmão perfeito.Aprendi a reconhecer o que ele dizia miando e como ele me chamava miando: Naná, Naná!
Meus irmãos e família também me chamaram de Naná, Nanda, Nandinha, Fernandinha...Mas nenhum deles atingiu até hoje a perfeição do Amor Absoluto James me ensinou. Como eu, meus irmãos ainda estão aprendendo. Uma honra e um privilégio ser sua irmã, James.
Fernanda Correia Dias
in Para o James Bond, o "Gei", "Geiminho", o Gatinho Mágico da minha Mãe

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

James Bond e eu  . Fernanda Correia Dias . Fotógrafa

Nós dois sabemos das nossas saudades. Nós dois sabemos.
Somos os dois que mais sabemos do tamanho da nossa saudade.
Somos as crianças do bando dela. O bando de pássaros dela que íamos e vínhamos.
Ela sabia nossas horas, nossos assuntos, nos adivinhava sempre.
Está entre nós. Nos orienta.
Garota nota 10, do 10, das 10...
Fantástica. Assim mesmo que ela nos observava como fantástica nos dizendo:  Filhinha você é fantástica... Filhinha este gatinho é fantástico... é o coração dela que é completamente fantástico.
Fernanda Correia Dias
in 10 de Outubro de 2016 . Muitas saudades

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Fernanda Correia Dias . Fotógrafa . 
Caquis no caquizeiro

Hoje ele estava com esta cor. Um caqui, gostoso! Sorrindo, assoprando 88!
Lúcido, brincalhão, divertido ganhou um peixe de seda e sorriu alegre como um perspicaz pescador surpreso: Qual o nome deste peixe? Um cherne! Um cherne!
Vai passear na Lagoa de Marapendi, namorar as garças, os saguis, a vegetação, a água e a lonjura da lagoa...Lá do outro lado, o mar!
 Fernanda Correia Dias
28 de setembro, o dia dele! O sol!

Fernanda Correia Dias . Fotógrafa . Reflexão

Anota aí: Mais dia, menos dia aquilo que não é, não é.Não importa quanto tempo está por ali, manchando a pureza do alvíssimo, límpido e polido mármore que meus pais escolheram...se não é, não é. Não pertence e sai, quando resolvemos investigar e afastar com esponja, espuma e sabão.
Mas que espanto! Por tanto tempo aquela mancha ali, me intrigando. Manchando minhas idéias, criando uma certeza nas minhas duvidas. Aparentando uma verdade... Mas as coisas ruins mínimas, também são assim... elas aparecem,  vemos e sabemos que são ruins e vamos convivendo porque são muitas e mínimas... Até o dia que trazemos a festa da água que lava tudo, e entusiasmados vamos lavando com alegria, água , esponja e sabão... Os cantinhos escuros, vão ficando alvíssimos e a mancha desce a parede de mármore revelando a integridade total da pedra, a poeira que acinzentava tudo vai descendo pelo ralo em espirais velocíssimas...  tudo vai sendo o que é, a mais alva pureza de sólidas verdades polidas e límpidas.
O mundo gira, o vento atravessa frestas e assopra o ruim mínimo que vai acinzentando tudo até renderem-se à festa da água que tudo lava e leva menos o entusiasmo e a alegria da água, da esponja e do sabão!
Fernanda Correia Dias
in Reflexão

quinta-feira, 15 de setembro de 2016


As pernas da minha mãe e da minha avó em mim...

As pernas da minha mãe e da minha avó em mim . Fernanda Correia Dias
Feliz aniversário, Biiitinha!

Hoje nasceu a Maria Mathilde, filhinha da Cecília!
A Bitinha é mesmo Biiitinha e parecidíssima com a Cecília.
Um bebê todo arredondado em proporções belíssimas. Todo equilíbrio.
Bem humorada, brincalhona, inteligente, divertida, estudiosa, dançarina, observadora, amiga e muito amada!!!
Me ensinou tanto!
Com ela aprendi a andar, sapatear, a patinar de rodas e no gelo, dirigir bicicletas, automóveis.
Cantar e tocar violão.
A falar português, inglês, francês, espanhol, escrever, ler, desenhar, pintar, cortar, serrar, martelar, costurar com agulhas à mão, bordar, costurar com máquinas, bordar com máquinas.
Fazer crochê, tricot à mão e em máquina, tecer em tear, tecer com palha indiana, tecer com miçangas e contas...fazer colares, pulseiras, broches, brincos, fivelas, cintos, prendedores de cabelo, roupas, bolsas, sandálias e sapatos!
Pintar tecidos e sedas, porcelanas, paredes, móveis! Plantar, fazer mudas de flores e frutas, regar, cuidar do jardim, das árvores, colher as frutas!
Com ela aprendi a cozinhar, cuidar dos alimentos, da saúde, eleger tudo o que tem casca e não comer bobagem. A gostar de alho, cebola, coentro, salsinha... De todos os verdes! Alface, rúcula, couve, repolho, chicória e brócolis, couve-flor, cenouras, pepinos, feijões, raízes... Ah...longe das frituras... Perto das frutas!
A andar nas florestas, a andar no mar e nos rios, a gostar de navegar, nadar, andar...andar!
Sempre a melhor e maior amiga. Sempre querida, amada, fazendo o certo, ensinando o certo, explicando o oculto do óbvio!
Sempre a clareza, a lanterna na mão, a luz delicada para a nossa recuperação.

Estou contigo, sempre.

Fernanda Correia Dias
in Feliz Aniversário Mummy!

domingo, 17 de julho de 2016

Leque que a mamãe me deu . Fernanda Correia Dias

Para lembrar e lembrar o nome dos cinco...
Mamãe sempre falava sobre eles! Um grupo atômico, original e inesquecível! Era pelo cérebro instintivo, escorreito, líquido que ela formava as frases relacionando o nome deles com as emoções mais antigas que imprimiram nela origens e expansões! Era natural enveredarmos por estas conversas porque praticamos entre nós por toda a vida esse rio honesto, tão honesto que entre nós, só pelo modo de fecharmos os lábios reconhecíamos que a outra estava brincando de nos enganar... Não valia! Pedíamos imediatamente a revelação da verdade! Nosso espaço era o sincero e sem vírgulas.
 Eu sabia o nome de todos eles e as histórias...Mais tarde brincando com a etimologia dos nomes próprios do Antenor Nascentes, percebíamos como tudo se explicava...
Então... Num papelinho amarelo e azul, pedaço de um envelope, com a minha letra, leio: Cícero, Ciriaco, Teófilo, França e Dalva (!) Os nomes deles! Estão vivos em mim.
Estão salvos, estes nomes mágicos pertencentes à pessoas que exerceram tremenda influência na infância e por toda a vida da minha mãe, Maria Mathilde e na minha!
Eles eram escravos da Jacinta. Remunerados. Antes da Lei Áurea já estavam livres, mas com a onda da Lei, seguiram onde estavam e não quiseram deixar Jacinta e Cecília sozinhas, nem a remuneração e também, não tinham para onde ir! Não deixaram a chácara da Jacinta nem depois que Cecília casou... Nem quando nasceram as três Marias de Cecília... E ficaram com elas até os nove, dez anos... foram falecendo... Minha mãe adorava sentar na hora do almoço, no quintal da Chacará, com eles e comer angu! Apesar dos nomes de origem grega, latina, romana, eram todos negros, muito negros, retintos, amorosos, lindos menos a D´alva. O próprio nome explica  a cor da pele dela. Muito clara, alva! Olhos muito claros...Em comum os cinco tinham as mesmas qualidade de planeta-amor! Alegres, felizes, generosos, amorosos e brincalhões.
Mamãe dizia que os rapazes eram tão negros, com peles tão brilhantes, que pareciam azuis...Azuis e verdes eram os olhos de todos eles também!
Os dentes branquíssimos que eles lavavam com umas trouxinhas de pano! Dentro das trouxinhas, areia e folhas de hortelã e malvas machucadas...Assim também lavavam os dela! E ela gostava!
A Dalva lavava todas as roupas e eles estendiam. Cuidavam das frutas da chácara, das hortas, galinhas... faziam comida, compotas, vendiam as frutas na feira ou no portão de casa e passavam escovões nas tábuas corridas do piso, cantavam e dançavam. O França passava roupa com ferro à lenha.  Ensinou para a mamãe... Ensinou a acender o lampião de querosene, o fogareiro...A Dalva dava banho na minha Mãe e nas irmãzinhas na banheira, mas também no tanque de lavar roupa, na fonte e de mangueira e a Mamãe adorava tomar banho de banheira e no tanque, na fonte e de mangueira no verão carioca! E de regar o pomar, a horta e de inspirar o aroma da terra e folhas úmidas.
Muito tempo depois, mesmo morando num apartamento moderno com eletrodomésticos moderníssimos, quando faltava a luz ou gás, minha Mãe não perdia a disciplina das tarefas diárias e passava e ensinava a passar a roupa com ferro à carvão, fazer os deveres escolares à luz de lampião e cozinhava no fogareiro na área de serviço ladrilhada!
Mamãe adorava! Tia Elvira também! Como riam as duas lembrando as memórias que conservaram daqueles cinco e mais a Vó Jacinta! Por exemplo: Lembra quando o Ciriaco chegou com aquele embrulhinho na mão e os olhos espantados?A ponta do dedão do pé dele, estava embrulhada num papel de armazém e o embrulho amarrado com barbante de algodão? Lembra? A Vovó colou? A Vovó colou!!! No pé dele!!! A Vovó era a Jacinta, que era bisavó delas...Não conheceram a Avó delas, Mathilde, porque Mathilde faleceu quando a mãe delas, a filha da Mathilde, estava ainda com três anos de idade...
...E quando eles matavam as galinhas? Os leitões? ...Eu pegava com a minha mãozinha os ovos quentes e ainda moles das galinhas poedeiras no galinheiro da Vovó porque o Teófilo ia lá comigo...Lembra quando eles cantavam juntos  Boi da cara preta? E aquela....  hoje é domingo, pé de cachimbo? Lembra da voz grossa do Cícero? A Dalva aprendeu com a Vovó Jacinta a embrulhar as frutas e as flores mais bonitas no avental e levar para a fruteira e as jarras. Eu ia com ela e com o França...
E quando ficávamos trepadas no pé de abio e que o vassoureiro jogou aquela pedra que bateu nos meus olhos? O vassoureiro passava com as vassouras e nós repetíamos como eles diziam... 
Vás soureeeeeiiiirooosss...E quando a Dalva e Vó Jacinta nos levavam para comer biscoitos de cascquinhas e pirulitos de açúcar queimado do teleco-teco no portão da casa??? Maçã caramelada? E as balas de alcaçuz? Lembra do peixeiro com os cestinhos e a balança? Ciriaco sabia pesar e ver o peso...Brincávamos com aquela balança da Vovó e ele me ensinou a mexer naquelas garrafinhas de bronze e cobre, os pesos, e nos pratos!
De noite Vovó acendia os lampiões de louça e nos levava para as caminhas dos nossos  quartos...A Mamãe e o Papai trabalhando naquela sala com cheiro de papel , de  lápis e  de cor...Gostava de apontar os lápis, delavar os pincéis naquela água do vidro e ficar ali por perto desenhando. Gostava de brincar com os leques da Mamãe e da Vovó... Tão bonitos e cheirosos...
O Teófilo batia as almofadas, os tapetes e brincava comigo de me sentar no tapete e passear pela casa, lembra? E cair na piscina de almofadas?
Ciriaco é o mesmo que Homem do Senhor. Cícero é o que planta sementes. Teófilo é o amigo de Deus. França significa, o livre e a liberdade e Dalva, Fernandinha, também é um estilo literário de poesia provençal que escreve sobre a separação dos amantes na alvorada...E Mamãe me olhava com seus olhos lindos esverdeados, do planeta, amor,  estrela matutina, albus...brilhante!

Fernanda Correia Dias
in Para nunca esquecer de Cícero, Ciriaco, Teófilo, França e Dalva; da Mamãe Maria Mathilde; da outra Maria Mathilde, minha abisavó filha da Jacinta; da Jacinta e da minha Avó Cecília . Leque espanhol com dançarinas muito parecidas comigo, vestidas de vermelho 


quinta-feira, 7 de julho de 2016

Fernanda Correia Dias. Fotógrafa . O sol toca as coisas com seus dedos amarelos

Lembro quando estávamos quase chegando em casa, e alguém entre nós, as crianças gritava: " Salve-se quem puder!" Ou quando tínhamos que chegar em algum ponto e alguém entre nós, também criança, gritava: "O último à chegar é mulher do padre!"  Ou quando entrando em algum lugar caíamos numa armadilha e ainda ouvíamos: "Madeiraaaa!!!" 
A vida de adulto seguiu com estas chamadas ecoando quando a minha memória reconhecia que "eram demais os perigos desta vida!"
Quando eu estava enviando curriculuns, à minha volta ecoava: " Salve-se quem puder!" Quando eu era chamada para tomar posse dos cargos, lembrava " O último a chegar é mulher do padre!" Quando tomava decisões na mão contrária do bando, sendo a única e a primeira a me levantar, ouvia: "Madeiraaaa!"
É assim mesmo...Vai ser sempre assim...Viver é maravilhoso.
Fernanda Correia Dias
in Na hierarquia dos anjos, eu sempre fui anjo e sobre isso, todos concordavam.

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Chicas!
Fernanda Correia Dias . Fotógrafa . James, o gatinho da minha Mãe

Olho para o Adrián Ruggiero, tocando o bandoneón e as notas entram no meu cérebro apertando meu sentimento em várias cores. Os braços dele abrem e fecham o fole, as mãos vigorosas, não largam as alças e vem chegando aquela nota pequena, baixinha, última, do último folego do fole. A boca de Adrián parece que ajuda a buscar a nota. A boca se empena, feito uma boca de criança que vê e sente algo ao mesmo tempo e usa os lábios para.pensar, contorcidos no esmero ou soltos no tempo. Distraídos.
Minha mãe tocava o acordón dela como Adrián toca o bandoneón.
Sensual. Buscando acertar no tato o nota que sente no ouvido.
Minha mãe gostava dos tangos. Arfava o peito simultânea ao fole, abria as saboneteiras sorrindo, os ombros, os braços e sorria estendendo na nota várias sílabas de palavras. Ia formando frases coloridas.
As mãos vigorosas do Adrián, são diligentes como as mãos da minha Mãe. Acertam a nota, aproximam o tom e  puxam, arfam, dedilham, amanham acordes.Dizem, sussurram, gritam...
É comovente.
Estava muito alto o som dos demais instrumentos e abafavam o bandoneón. Pedi para abaixarem o volume de som dos instrumentos... Não foi o suficiente...Apesar de solos de vilões, guitarras e percussão excepcionais,  transbordando talento e competência, o solo do bandonéon é Amor y Pasion como escreveu Adrian, para mim.
Quando você puder escute Milonga del Angel parte 2 e Portal de l´Angel. São belíssimos...Ah escute mais... para entender este trabalho melhor tens que ver o grupo que acabei de ver no Centro de Referencia da Musica Carioca Artur da Távola ou em qualquer lugar no mundo.
Fernanda Correia Dias
in Num bandoneón as mãos de Adrián, 
diligentes e comoventes. 


Fernanda Correia Dias . Fotógrafa . James 2016

Quando eu recebi a minha primeira calculadora, eu lembro que eu duvidava dela. Do resultado da operação que ela mostrava no visor. Conferia com lápis e papel.  Alguém quando me pedia a calculadora emprestada, também perguntava: a sua calculadora está funcionando bem? É confiável?
Não tínhamos confiança nas calculadoras. Não tínhamos.
Nunca perdi o hábito de fazer o calculo mentalmente visualizando ou escrevendo os numeros, mas o trabalho intenso, me obrigou a conferir cálculos dos outros utilizando a calculadora.
Nesse tempo não existiam os celulares e eu tinha máquinas calculadoras de bolsa, de mesa...
Quando percebia que estava perdendo a habilidade de operar com velocidade e exatidão os números  eu abandonava a calculadora, fazia no lápis... e depois conferia com a a calculadora... Percebeu a inversão? Passei a duvidar de mim... a depositar mais confiança na calculadora.
Um espanto!
Quando os telefones celulares chegaram com as agendas e todos nós passamos a ter mais um numero de telefone, tínhamos que anotar os novos números e os nomes. Com a facilidade de encontrar a pessoa onde estivesse por celular, não a encontravamos mais no telefone fixo e eram muitos telefones novos...Sabíamos que começavam por 9... Redigindo na agenda eletrônica o nome da pessoa e o numero e a facilidade de localizar o nome, passei a não ver o número... Só o nome e chamar.
A minha memória só lembrava dos numeros antigos... dos telefones fixos... Não quis gravar os celulares de ninguém... Nem o meu... Mas quando acabava a bateria do telefone, eu não tinha o numero de ninguém... 
Tinha uma dependência? 
Então, para minha felicidade, anotei numa pequenina agenda de telefones que eu mais uso. Mantenho na bolsa, ao lado do celular. Na falta de bateria,tenho os números  e posso ligar de outros telefones.
Mas... estas tecnologias facilitadoras, o que elas fizeram da minha memória?
 Com a transferência dos dados arquivados na minha memória para outro lugar fora do meu corpo, me  transformei em alguém que não queria mais reter nada...
Alguns me diziam... Ah... mas agora você tem mais espaço para pensar, pesquisar...
Mas, qual nível estou de velocidade de pesquisa e pensamento que até os dados provisórios com os quais eu estou raciocinando estão evaporando, volatizando junto com ideias...?
Para onde estão indo no meu corpo? 
Prestando mais atenção no espaço da memória para aprender novos assuntos, percebi que me transformei em pesquisadora contínua.
A velocidade com que obtenho respostas para as minhas perguntas e dúvidas nos buscadores da internet, me transforma todo dia em alguém melhor. Amplia, dilata e aprofunda assuntos e estudos que antes não eram apenas superfície...Agora varam matérias, átomos, agregam-se e desintegram-se formando com as mesmas partículas outros raciocínios...
E sinceramente, nem olho mais para o que estou vendo...
Estou criando uma massa poderosa dentro do meu cérebro com estes teradados onde estou habitando...
Fernanda Correia Dias
in Memoriam



segunda-feira, 16 de maio de 2016

Cauby Peixoto
Fernanda Correia Dias . Guache sobre cartão branco

Cresci ouvindo as faxineiras,cozinheiras, feirantes, motoristas e jardineiros idolatrando Cauby Peixoto. Era o cantor desta gente. Do rádio A.M. Meus professores, quase todos, nas escolas em Laranjeiras, em Ipanema e na Gávea ridicularizavam Cauby e declaravam que o cantor era alguém que não merecia crédito nem consideração.
Na minha família, abertos à musica, aos músicos e à concisão das ideias na poesia da musica, tudo ouvimos e conhecemos.
Então, anos mais tarde, em Copacabana, dentro de um super-mercado, próximo à estantes de enlatados, ele, o Cauby, estava conversando com uma senhora sobre as compras que estavam fazendo. Ouvi uma voz terna, firme, aveludada, espessa, dizendo com amor, palavras sinceras sobre o quê e por quê deviam comprar. Ponderava com equilíbrio, argumentava com razão. Considerava com palavras delicadas, gentis em assunto árido. Levantei meus olhos para a voz que estava na minha frente e era de alguém muito alto, provavelmente com mais de um metro e oitenta e seis. Eu estava abaixada e dali ele ainda ficava mais alto. Na minha frente dois pés cobertos por chinelos de couro preto, acolchoados, daqueles de quarto, onde os dedos ficam protegidos, a bainha de uma calça preta. Sobre a calça estava a bainha vinho do robe de chambre acetinado. Uma faixa sobre um transpasse na altura da cintura. Por baixo do transpasse uma camisa branca, de punhos e gola branca e a cabeça do dono da voz. Olhando na minha direção, o dono da voz, sorriu gentilmente para mim e perguntou: _Estamos no lugar certo? A senhora que estava com ele comprando, de costas, respondeu que sim, mas ele disse para ela:_ talvez não... e me perguntou apontando uma prateleira: _Deseja ver esta estante? Sorri, agradeci enquanto me levantei e puxei meu carrinho de compras para perto de mim. Perguntei: _Como está você Cauby Peixoto? Quando e onde será sua próxima apresentação? E ele no mesmo tom que tinha usado para falar comigo, respondeu que estava bem, muito bem, perguntou como eu estava, me ouviu dizer que eu estava bem e me disse o nome do teatro e os dias dos espetáculos, confirmando com a senhora que o acompanhava os horários.
Ninguém veio conversar com ele. Ninguém falou o nome dele.Ele não estava portando óculos escuros.
Tinha uma peruca de cabelos em caracóis. Na pele do rosto e dos lábios, uma maquiagem. Era dia. Nos despedimos com simpatia.
Levei no meu peito a impressão de ser um humano brilhante, de voz bela, com atitudes belas.
Merecia muita consideração. Ainda que ele não fosse o cantor das musicas que eu ouvia, sempre que cantou na tv, no rádio ou no teatro, apresentou voz clara e  imensa.
 Inteira. Emocionada e emocionante.
O ser humano tem dificuldade de aplaudir ou reconhecer valor até naquilo que tem evidente valor?
O ser humano abafa o que brilha com luz própria?
Mas, o que brilha com luz própria é brilhante e nada pode apagar.

Fernanda Correia Dias
in Ontem, dez minutos para a meia noite, o coração dele fez silencio.
Estava comemorando sessenta anos de profissão de cantor.
Quantos seres humanos podem comemorar sessenta anos de trabalho em alguma profissão?
E na profissão de cantor? 

  
  

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Feliz Natal . Fernanda Correia Dias

A Bola de vidro e a refletância
Para a Lina Tamega até sempre, JoaLina!
Os ares do tempo, ventando verde, espelho e vento, fizeram assim..
Um sopro de vidro de amor, divino, desventando liso, faces minúsculas lá dentro,
elas, eles, nós e os demais, no centro do peito, deslizamos em verso, síntese, nexo,
abduzidas  e silenciosas pelo concavo e pelo convexo...
A festa contém a mesma árvore acesa sobre o tapete que voa, anos, naquelas noites e todos nos acompanham com música, muita música, enquanto nos olham e nos olhamos.
Refletância. Prata, alumínio ou amalgama de estanho sobre o vidro em esférica lâmina.
Sobre nós, brilha a estrela guia e os pisca-piscas, vês, nos avisam quando o fim e o recomeço, sempre e para sempre! Vemos? Vemos. Porque Papai Noel não faltará com nossos presentes, presentes nos presentes.
Eu pedi para te encontrar na festa e quis te deixar dentro da festa permanente, JoaLina, por isso, conserva com você e com os seus, a beleza da fragilidade da bola de vidro, que faltará nesta caixa, ventando verde, espelho e vento nos ares do tempo em festa de vida permanente. Presente do Presente!
Fica perto, bem perto, lá dentro do espelho, do brilho, irmã, onde as noites estão repletas de estrelas _pães de mel também, balançamos nos braços da árvore e conscientes, no fio do açúcar que desenha_ a vida é este sopro, antes de nos multiplicarmos pelas letras no chão, infinitamente.
Trouxeste o Padre Pio e a Andorinha de Bordalo?Vamos ao Amanhã? Lembras teu filho? A neta?
Vamos! Recebi o poema da Bola de Vidro que escrevestes com ar da tua respiração e te envio agradecida, estas noções que ficaram comigo, noções e verdades que foram dadas por todos estes anos que convivi e que reencontrava estas caixas de bolas de espelhos, verdes, sempre verdes...Vedes? 
E naquele dia quis te dar o que ninguém te daria. 
Algo sem nenhuma importância para qualquer um.
Menos para nós, abduzidas que somos nas imponderáveis faces das ideias, para as novas vidas!
Eu, a neta de Cecília e a dona das caixas de bolas verdes de vidro da árvore de natal...naquele dia, em que entreguei pessoalmente na sua mão, e aceitastes, a fragilíssima bola da caixa, pertencente à árvore de natal...de todas as noites de sonhos,  tão fina, esta que não fabricam mais, nunca mais... esta que se cair, multiplicará seu rosto perplexo três mil vezes refletido e refletindo nos espelhos no chão e que puseste no lugar mais seguro e inquebrável: No teu poema, A Bola de Vidro; na sua mão.
Beijo Lina, da Fernandinha
Fernanda Correia Dias
In A Bola de Vidro e a Refletância





sexta-feira, 22 de abril de 2016

O Brasil aos brasileiros? Quais?
Fernanda Correia Dias . Fotógrafa . Mata

Brasileiros, aqueles que comercializaram o Pau-Brasil?
Brasileiros, ou seja, extrativistas? Comerciantes invasores e usurpadores?
Eles tiram daqui e levam para ali? Para lá? Destroem? Não replantam?
Quem são eles?
Esburacaram o Brasil? E seguem esburacando? 
Eles são eles e nós somos nós?
Quem são eles que não amam o Brasil?
Eles não vivem aqui? Vivem? Onde vivem?
Pegam aqui por 10 e vendem por mil, um milhão?
Fizeram uma colonia aqui, à beira-mar, longe das suas guerras eternas?
Isso aqui é uma lixeira? Uma Colonia?
De quem?
Eles gastam um pouquinho de dinheiro aqui e se remuneram com percentuais exorbitantes?
É? Quanto?
Os banqueiros? Querem investir no nosso Brasil? E por quê não investem? Não podem patrocinar a industria brasileira, porque a industria brasileira está concorrendo com o produto chinês vendido no Brasil à centavos de dólar?
Eles querem mais? Querem vender para o brasileiro, produto brasileiro à preço de produto importado?
Hum? Vai votar em quem? Em quem vai vender o Brasil para o Brasil à preço de importado ou a quem vai agarrar todo o dinheiro publico e levar para fora do Brasil depositando em sua própria conta bancária no estrangeiro?
Vai confiar seu voto no novo dono da Colonia? Mas qual?  Brasileira? Mas qual é a Colonia Brasileira? A Portuguesa? A Holandesa? A Francesa? A Alemã? A Russa? A Árabe? A Judaica? A Israelita? A Africana? A Inglesa? A Austríaca? A Dinamarquesa? A Boliviana? A Peruana? A Venezuelana? A Católica? A Evangélica?
Quem são os Brasileiros? Onde é o Paraíso?
Por que o Brasil não dá certo?
Os brasileiros catavam o Pau-Brasil para vender a preço de grama de ouro no exterior?
E agora? 
Vai votar em quem? Qual é o seu partido? Seu partido é a religião? Nasceu no Brasil é brasileiro? Mas de qual Colonia?
Fernanda Correia Dias
in O Brasil aos brasileiros?




Fernanda Correia Dias . Fotógrafa . Orquídeas

Aquele que me roubou, apropriou-se do que era meu.
Aquele que me amou, apropriou-se do que era meu, dele e de outros mais.
Aquele que de mim se aproximou, apropriou-se do que era meu, dele, de outros mais e do imprevisível.
Porque a vida é viver em harmonia de relacionar-se consigo mesmo e com os outros. A sua harmonia termina, onde começa a minha.
E você não vai entender a harmonia do dar se você não tiver.
Ter, ensina a dar harmonia. Dar, ensina a ter e preservar a harmonia.
Dar valor ao valor da harmonia, compreender a generosidade, compreender a necessidade da harmonia, só se você tiver tido... Caso contrário, você vai precisar aprender a harmonizar. Vai gastar sua vida aprendendo a promover harmonia.
Para tudo tem solução, porque aquilo que não tem solução, solucionado está pelo equilíbrio da provisória harmonia, inclusive.
Nada é para sempre. Tudo passa. Eu e você, também.
Fernanda Correia Dias
in Aprenda logo a harmonizar!

Fernanda Correia Dias. Fotógrafa . A Ciclovia da Niemeyer

A necessária obra da ciclovia da Niemeyer no Rio de Janeiro, é um Monstro.
Ela  respeitou o ciclista? Não! Ela não respeitou ninguém, e agora, desabou e morreram pessoas...
Outras  pessoas estão desaparecidas no mar...
Para todos nós que por ali passávamos de carro, à pé ou no passeio coletivo de bicicletas, o caminho da Niemeyer era uma experiencia agradabilíssima. Os olhos davam as mãos ao mar e íamos festejando "Como é lindo o Rio de Janeiro!"
Com  a construção da ciclovia, fizeram um guarda-corpo que bloqueou a vista ao mar e quando passamos é uma experiencia stress. Enclausurante.
E...quem se habilita ficar distraído na arapuca?
Por isso é Monstro.
Mutilou a cidade!
Por que nenhum arquiteto propôs Beleza e Integração? Leveza, Segurança, Observância da importância daquela experiencia...? 
Porque são preguiçosos, incompetentes, praticam a Lei-do-menor-esforço que minha mãe afastava dos filhos, e nunca ouviram minha mãe ensinar: Trabalho dá trabalho! Trabalhem! É muito bom Trabalhar!Fazer O Mais Perfeito Possível, vamos, tentem! Analisem e deem respostas a todos os ângulos. Abracem o mundo com Verdade. Sejam Honestos consigo e serão com todos. A vida é para frente, vamos!
E nós íamos calçados com nossas sandálias brancas-franciscanas, nos importando muito mais com O Mais Perfeito Possível que podemos dar ao Universo.
Respeitando as mãos do Mar, furiosas e gentis que conhecemos como cariocas atentos, passantes e amantes daquela via, que muitas vezes arrebentou e arrebenta ondas gigantes sobre nossos carros e sobre a estrada... Que dizer de ciclovias na encosta?
Fernanda Correia Dias
in Ciclovia Niemeyer 



quinta-feira, 21 de abril de 2016

Fernanda Correia Dias . Fotógrafa . Tiradentes.

Você já leu o Romanceiro da Inconfidência escrito por Cecília Meireles?

(Pelos caminhos do mundo,
nenhum destino se perde:
há os grandes sonhos dos homens,
e a surda força dos vermes.)

in Romanceiro da Inconfidência. Cecília Meireles. 
Romance XXXIV ou 
DE JOAQUIM SILVÉRIO

quarta-feira, 20 de abril de 2016

Fernanda Correia Dias . Fotógrafa e Pintora de Seda

O Chefe distribui as ordens.
O Líder contesta ordens se encontra burrices e tolices no caminho, porque o Lider só respeita inteligencia.
O Líder é naturalmente rebelde.
O Líder está sempre pensando e mudando de ideia, buscando a melhor performance, o maior desempenho e resultado, o bem de todos, o sucesso na solução.
O Chefe, não muda nada. Ele tem certeza de tudo.
O Chefe, dorme.
O Líder não dorme enquanto não visualiza a resposta. E quando visualiza, o Líder incomoda. Ele vê o que ninguém  vê. Ele vê o que não foi visto, o que não existe ainda, o que nunca existiu ou o óbvio.Ele implanta.
Não é fácil ser Líder, porque a inveja e a paralisia humana é mesquinha. Quer para ela o que não tem: o DNA de Líder.
O DNA do Líder é uma piscina interna, única e individual de inteligência límpida que mergulha cada duvida em mais inteligencias e sensibilidades, em mais dúvidas, trazendo a tona o ótimo...
O Chefe sempre se irrita com o Líder.
O Líder sempre se irrita consigo mesmo. Seu ouvido interno é tirano. Indaga e quer resposta. Uma não! Três! O Líder sempre se exige muito.Anda no escuro, tateia tocáveis,intocados e intocáveis. Se exige melhor, maior, amplo.Se exige o que tem para dar, e dá.
Não é para o outro. É para o diálogo com o Universo. 
Cada pessoa é única. Lider é Líder e Chefe é Chefe.
Fernanda Correia Dias
in  Líder não é Chefe


quinta-feira, 31 de março de 2016

Fernanda Correia Dias . 
Meu avião

Outro dia, andando no meu avião e olhando para a Terra, eu pensei... Estão todos caminhando sobre a Terra. Sejam migrantes, emigrantes, imigrantes, fixados... Mas a Terra é uma só, e mínima! 
Todos demarcam... Até aqui, tem este nome, até lá tem outro nome! Mas a Terra é uma só e micra...O ser humano é muito menor...! Não quer que o outro ultrapasse a divisa? E cria leis: Se ficar, escolhe o rebanho!... Tem que pertencer a um rebanho ou criar o seu...E todos querem ser pastores e ter coroas de flores*...Menos eu...menos eu... E se eu não quero coroa de flores, devo estar doente, febril, escondendo poderoso e valioso segredo...lá, lá, lá... Não ! Não estou... é que gosto de estudar os idiomas e principalmente os sons nas expressões faciais... É porque gosto de gente e de entender as pessoas... Fico espantada com a quantidade de seres beligerantes que andam sobre a Terra. Propagam e pregam a raiva ao próximo!
Qualquer dia vão entender que a Terra é da Terra, que somos hóspedes. Hóspedes!
Fica tudo aí, rolando sobre a Terra...
Por isso mesmo que é bom passear no meu avião de lata com rodinhas de chapinhas de garrafas de vidro, mas feito com tanto Amor de menino encantado por aviação, que não tem preço que compre ou pague Amor daquele tamanho. Nem tem preço que pague a vantagem de voar nele a hora que eu quero me lembrando que somos apenas hóspedes da Terra... Hóspedes. Portanto, melhor ser gentil logo.
Fernanda Correia Dias
In Do meu avião
* Os Carneirinhos in Ou Isto ou Aquilo da maravilhosa Poeta, Cecília Meireles 



sexta-feira, 11 de março de 2016

Cidade Maravilhosa
Fernanda Correia Dias . Fotógrafa . 
Cidade Maravilhosa
Cresci ouvindo a minha mãe, minhas tias e a avó materna dizendo: Se eu te contar, você não vai acreditar porque eu mesma não acredito! Nossas histórias são sempre verdadeiras. Poucos podem acreditar e é sempre mais fácil dizerem que somos muito criativas - de fato somos!-  e que qualquer história é a mais pura invenção, ah... isso é que não! Quando é verdade é verdade. E se declaramos que testemunhamos, vimos, ouvimos, estivemos presentes, então...: Mentira! Mas somos mesmo sonho...não? Então fui procurar naquela rua comprida dois bocais para dois abatjours. Eu mesma vou trocar os bocais do abatjours... é fácil, parece brinquedo de montar... Só dizer isso, que eu mesma vou trocar, já deixa muita gente pensando que estou mentindo para impressionar...Ah... deixa para lá... Vou trocar os bocais mesmo...Disse o comerciante da primeira loja:_Não tenho bocal branco com rosca branca para fixar a cúpula, só o preto. A Senhora compra o branco que não vem com rosca nenhuma e o preto que vem com rosca preta... Tira a rosca do preto para usar no branco... E cabe? O eletricista sabe fazer isso...me respondeu...Cabe...Vi o dono da loja olhando para o meu dinheiro que pousei no balcão para experimentar a rosca preta no bocal branco... ávido por meus trocados enquanto o vendedor  ao lado dele, estava em choque e nem embrulhara os bocais...Me olhava como quem me dissesse: a Sra é inocente! E ainda pensava: este patrão é um espertalhão...! Paguei, meti na bolsa os bocais sem embalagem  e parti para comprar as folhas de eucalipto que precisava para deitar sobre os livros... então...ainda longe do florista, entrei numa segunda  loja de eletricidades e perguntei por bocais de abatjours e o Sr Joaquim me mostrou dois brancos com roscas brancas, num saquinho lacrado... e os parafusos eram para chave Philips...Ok vou levar, mas... e essa  chave Philips...Tenho que ter... Não sei onde está a minha...Tenho mais de seis abatjours precisando de novos bocais...Leva!, disse o vendedor,  vai precisar!  Vi o filho do Sr. Joaquim perguntando pela chave do carro dele  e depois que encontrou a chave, deu um beijo na bochecha do pai e saiu. Comentei: Que bom, que bonito, o filho beijando o pai...! Me despedi e entrei  no florista ao lado, onde novamente encontrei o filho do Sr. Joaquim, escolhendo num vaso com várias gérberas, a mais bonita...e levantou a flor: Essa aqui!O florista foi lá para dentro buscar o papel para embrulhar a flor e o Sr. Manoel veio na minha direção. Sr Manoel deve estar com quase noventa anos e tem hábitos de sedutor. Daqueles sedutores que sabem que são bonitos. Talvez tenha mais de dois metros, um sorriso e cabelos de Kennedy, totalmente brancos. Eu disse: Preciso de folhas de eucaliptos, mas não quero aquele eucalipto caro... Então pegou um ramo bem magrinho, partiu em dois e disse que faria a metade do preço. Caríssimo, eu sabia, mas vá lá...  Antes de sair vi o telefone, as chaves e a gérbera sobre o balcão e avisei ao filho do Sr Joaquim! Oh! Não vá perder celular e chaves novamente... Ao que ele respondeu: Ah... podes ficar! Perguntei: Com a gérbera? E sai rindo!Na próxima loja de eletricidades da mesma rua, perguntei por bocais e o vendedor tinha bocais brancos com rosca branca, à um terço do preço dos demais. Levei dois bocais e entrei na loja do Sr. José trazendo o ramo de folhas de eucalipto no braço perguntei: Tem angélica? Sr. José respondeu que sim e pedi duas. Depois perguntei: Tem folhas de eucalipto? Sim! E pedi dois amarradinhos de folhas de eucalipto e me entregaram dois amarradões enormes. Em casa, fazendo as contas concluí: seis ramos de folhas de eucalipto do Sr Manoel tem o mesmo preço que 58 ramos de folhas de eucalipto do Sr José. E somando todos os bocais e dividindo pelo numero de bocais que trouxe para casa, paguei por cada um unitariamente cinquenta centavos a mais que o valor mais barato que encontrei...Todos na mesma rua... Questão de andar mais para lá ou mais para cá...Uma certeza: Nunca mais compro flores com o Sr. Manoel, nem produtos naquelas duas primeiras lojas de bocais... Irei até o fim da rua para comprar angélicas e eucaliptos com Sr. José. O bom José tem os ramos de eucalipto como eu tradicionalmente comprei, grandes e generosos por preço justo que ele entrega contente, embaladinho em cone de papel e laço. 
Fernanda Correia Dias
in Mais adiante tem outro