segunda-feira, 15 de junho de 2015

Fernanda Correia Dias . Fernanda Correia Dias

Folha de Jasmim . Foto Fernanda Correia Dias

A prática da sensibilidade dos vizinhos é estranhamente espantosa... É uma sensibilidade delicada quando nos cruzamos no Hall de entrada. Parecem seres humanos perfeitos, preocupados comigo  e  família, saúde, etc..Inclusive, uns com os outros, quando somam mais que dois... Verdadeiros e espontâneos! Abrem gentilmente as portas, oferecem o lugar no embarque e no desembarque do elevador, sorriem desejando dias maravilhosos, magníficos fins de semanas... São elegantes, perfumados, afáveis, amistosos e sorridentes. Verdadeiras autoridades em espontaneidade coletiva. Só aparência?
Bem... As folhas dos jasmins explicam espantosas práticas. Serão os vizinhos os autores de maldades? Atacam diariamente as folhas dos meus jasmins e o guarda-sol do jardim?

Todos os jasmins que vivem num pequeno jardim interno que sorri dia e noite para o céu reclamam o ataque incessante dos vizinhos. Mas qual vizinho? Eu também não sei de qual vizinho vem o ataque. Não sei mesmo. Não é do céu, porque o céu não fabrica tufos de cabelos, cigarros acesos, langeries, etc... Seriam os  comandantes que  comandaram esquadras? Não...claro que não... Estes são muito disciplinados...Dos eficientes médicos dentro de navios brasileiros?Oh... os médicos? Não... Não...Dos professores ,pedagogos, advogados atuantes e aposentados? Mas claro que não! Gente que se dedica a formar estudo... Não...De especialistas em tecnologia? Dos músicos?...Não!  Oh...Não!

As folhas dos jasmins, do abacateiro e dos antúrios me explicam todos os dias o mal que os vizinhos fazem e fizeram  com elas: Lançaram por janelas e basculantes, tufos de cabelos de todas as cores e texturas, escovas de cabelo, pentes, pontas de cigarros de todas as marcas, palitos de fósforos  cigarros acesos, copos, guardanapos, band-aids,esparadrapos, microporos, gases, sacos plásticos, bolsas plásticas, absorventes usados, papel higiênico, aparelhos de barbear, roupas, fardas, toucas de banho, paletós, calças, vasos de plantas  enormes, de barro, com terra, planta e prato, vassouras imensas, rodos, algodões sujos, esfregões...

 Se conheço quem já foi atacada por cigarro aceso na cabeça? Sim...Por lamina de vidro, barbeador e esfregão, quando lavava as folhas dos jasmins...Ou o guarda-sol branco...?
Sim... Mas quem será o bruto morador que pratica estas atrocidades? Qual deles? Qual???

Pobres jasmins! Pobre guarda-sol...! Abacateiro...Antúrios...Ainda como não bastasse, as obras que os vizinhos realizam sem nenhum permissão da prefeitura?  Largam pedras imensas  de alturas inimagináveis, das próprias paredes de suas unidades, caem troços de tijolos, cimento, reboco, pedras com tinta com um palmo de tamanho e quebram as esculturas que estão no pequeno jardim. Caem laminas de vidros imensos de janelas de alumínio que batem, caem tubos de cobre, de ferro, joelhos, parafusos, garras...
É um jardim onde os jasmins teimam em sobreviver...Mas até quando? Os antúrios nem sonham suas flores, mas até quando? O abacateiro... Não sonha seus frutos... Até quando? O guarda-sol...O cavalinho... A fonte... Todos os habitantes do pequeno jardim foram vítimas, e falta um pedaço, dois ou três de cada um...Recebem chuvas de pedras e areias, impiedosas, incêndios de cigarros, papéis de bala, tiquets de banco impressos,  e vai tudo para o ralo, bloquear o ralo quando as águas das chuvas surpreenderem o pequeno jardim... Até o dia em que o ralo bloquedo por um treco destes, transforma o piso do jardim numa piscina e as águas migram pela alvenaria... E passa a chover água na portaria... Quando todos sorridentes e gentis se encontram e comentam muito preocupados com o pobre do morador que terá que arcar com aquelas consequências da água na pintura do teto do Hall...Mas é moto contínuo e eu nem tenho esperanças! Só o meu jardim! Vez ou outra elas voam dentro de casa, verdes, alegres e lindas e alegram com vida verdadeira e em contagiante perfeição, o meu coração.
Você já olhou uma esperança?


Fernanda Correia Dias
in Meu pequeno jardim aberto para o céu!

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Fernanda Correia Dias . Fernanda Correia Dias
As mãos serenas . Foto das mãos de Fernanda Correia Dias

Um dia quando eu apareci contornando o bambuzal que ficava entre o Solar Grandjean de Montigny e o Departamento de Artes- PUC, RJ, Ripper me disse: _Fernanda, você é impressionante. É a única índia de pele vermelha que eu conheço. É a pele da cor do sândalo, respondi e cotejei com a minha pele, meu colar indiano de sândalo que eu usava naquele instante e que era presente da minha avó materna Cecília Meireles.
Rememorando o antes daquele encontro, Ripper recebeu meu projeto de empilháveis na oficina de madeira da PUC, com entusiasmo. Enquanto meus colegas apresentavam cópias de móveis que executaram na marcenaria, eu apresentava na mesma marcenaria, solução que dei para acondicionar, guardar e proteger os meus objetos e livros. Criei gavetas avulsas de diversos formatos e tamanhos, estantes e mini estantes com quatro planos, pintei de branco e empilhei na parede do meu próprio quarto antes daquela oficina. Mas a oficina me permitiu aperfeiçoar em todas as direções o que eu já dizia que eram módulos múltiplos e empilháveis. Nas gavetas eu criei divisões internas para deitar pincéis, canetas à nanquim, penas metálicas, borrachas, lápis... Todo um material que precisava estar à mão na velocidade das horas de trabalhos...Os vãos das estantes obedeciam alturas específicas e múltiplas que permitiam pastas na posição vertical e horizontal assim como grandes livros de arte e pequenos livros de poesia. Em alguns módulos que serviam de base, aparafusei rodízios...Deslocava, remontava, ajustava o crescimento da biblioteca, livros e projetos conforme minha necessidade. 
Neste instante que escrevo percebo a designer Fernanda Correia Dias dentro de mim e com 14 anos de idade e quatro anos antes de ingressar na faculdade.
Percebo a razão do meu entusiasmo impressionando o professor e dando hábeis soluções físicas aos meus próprios problemas que imediatamente causavam interesses nos colegas em adquirir os produtos cuja marca já era Empilháveis, pelo modo como eu, me referindo ao meu trabalho fiz com que todos também assim se referissem. Na defesa comercial do meu produto para o meu público eu argumentava corretamente que a compra por módulos, permitia pequenos investimentos adequados aos bolsos dos estudantes, artistas, casas, escritórios, dispensas,closets... 
 Naqueles tempos os quartos de estudantes eram também seus primeiros estúdios. Alguns quartos muito engessados com projetos de arquitetos que foram feitos para contemplar específicas idades...agora eram um estorvo na velocidade da vida e dos projetos. Não era o meu problema. Eu tinha no meu quarto mobílias e nada era embutido.Tudo era móvel, o que é mesmo muito moderno até hoje e que me permitiu conviver com os EMPILHÁVEIS *. Poderiam ganhar diversas cores. Era mesmo uma solução de produto que nós estudantes, não encontravamos no mercado. Não existia nem toque nem estoque.
Não encontrei uma empresa que se interessasse por investir e produzir comigo. Também não tinha tempo para abandonar meus estudos e buscar investidores, mostrei o projeto e os detalhamentos para alguns e logo vi minhas idéias nas prateleiras. Meus amigos vinham me parabenizar... Não perdia tempo me explicando. Compreendi que no Brasil, temos que ser o criador, o fabricante e o comerciante. Fiz isso mais tarde com outros produtos que criei.
Criei também o conector e dimensionei canos de  alumínio. Eu mesma fiz o óbolo e a faca na oficina de engenharia mecânica para fazer a esfera. Fiz rosca que permite criar estruturas desde as minimas banquetas, cadeiras, mesas, platéias, palcos às que acondicionam pessoas geodésicamente. O catálogo deste produto explorou todas as possibilidades. Poucos anos mais tarde quando vi com quantos paus se faz uma canoa, tive certeza que o estudo do design no Brasil necessáriamente deveria estar aplicando todo o conhecimento milenar dos autóctones. Os peles vermelhas do Brasil. Mas isso é outra história.
Beijo Ripper, da Fernanda!

Fernanda Correia Dias
in Para José Luiz Mendes Ripper professor emérito PUC-RJ 









segunda-feira, 1 de junho de 2015

Praia Vermelha . Foto Fernanda Correia Dias

Outro dia ouvi um ser dizer : _Isso é casca...
Não entendi a expressão no contexto em que estávamos e pedi explicação.Devia ser uma gíria? Era expressão jurídica? Ele concluiu assim: _Isso é casca de banana..
Não compreendi mesmo! No contexto não fazia nenhum sentido, mas era uma defesa dele, para com ele mesmo diante dos ouvintes e do que estava sobre a mesa e em pauta. A honra dele. Queria ele que os ouvintes que o cercavam e inclusive eu, se convencessem que aquilo que estava sobre mesa e era a prova insofismável da maldade dele, e fato, seria uma "casca de banana" jogada pelo oponente...Depois que todos viram e ouviram perceberam que o oponente estava completamente coberto de verdade e razões. Fizeram silêncio e passaram para o próximo assunto. Fiquei pasma com a conivência dos presentes expressa em silêncio. Todos sabem agora que "O Casca", é a própria casca de banana da expressão que ele usou,  mas usam seus silêncios conforme seus interesses e seguem frequentando e disputando desbragadamente as generosas benesses do Casca... Bom para eles...
Divirtam-se! Toda vez que tem alguém que gosta de enganar os outros , tem os outros que gostam de ser enganados...Não?

Eu sigo comprando lentilha, mas sei que em todo saco de qualquer fabricante vem sempre uma pedra. Se a pedra não for retirada, quebra o dente. Quem já teve dente quebrado, como eu, com pedra em meio de lentilha, nunca mais come lentilha ou só come, quando tem certeza que a pedra não está ali. 
Se sempre vem pedra, nas lentilhas selecionadas, por que não colocam a pedra fora do saco? O sábio pode mudar de opinião e o ignorante nunca?


Fernanda Correia Dias
in O Casca e as pedras.