quinta-feira, 10 de setembro de 2015


Fernanda Correia Dias . 
Para a minha mãe Maria Mathilde antes do aniversário dela.


Foto Fernanda Correia Dias , Cúpula da Bananeira

Qualquer dia vou entender melhor, por ora anoto. Pode ser compreensível amanhã, talvez..
O fato é que eu pensando nela, meti a aliança no dedo mindinho. Aliança que ela me deu. Aliança de ouro sem nenhum nome por dentro e no meu dedo mindinho ficou. Reparei que socialmente a aliança perturbava. Uns me perguntavam qual o sentido, quem era a pessoa, por quê eu resolvi usar a aliança, lá, lá , lá...
Eu mesma com estas perguntas me perguntei  e me respondi: Porque eu não quero ver aquele pensamento da minha mãe tão longe mim. As alianças são mesmo pensamentos, memórias... Elas nos associam lembranças, olhares, mãos, palavras, sentidos profundos de verdades, ecos, ressonâncias e vozes... Principalmente essa que é uma aliança com a própria vida, segundo ela, a minha mãe. Acontece que todos sabem que um anel, sempre usado,  mesmo quando no dedo mindinho, acaba por deixar imperceptível sua presença, seu peso para quem usa e após a adaptação sente-se como parte do corpo, do organismo. Mas se nos falta, se escapa, se perdemos,  faz uma dor imensa... Onde estará? Porque saiu? Eu tirei? Onde está...?
Quem não quer perder o objeto, mantem a guarda e a vigília. Foi o que fiz. Não queria perder o pensamento.Mas...
Precisava tirar toda aquela roupa da máquina de lavar e fui pegando e virando e desvirando do avesso, pendurando e depois de tudo pendurado fui arrumar livros....Então vi o dedo sem a aliança!
Ah... não... Onde estará? Um lugar com muitos livros, tapetes, pastas, papéis... não é o lugar para se perder uma aliança... mas estava perdida! Estava? Um à um foram revisados os livros, os lugares, os tapetes, as pastas, os papeis... até a roupa do corpo saiu do corpo na esperança que pudesse estar numa dobrinha do tecido, talvez caiu no bolso do calça, da blusa, etc... mas não... Não estava! Então na máquina de lavar roupa? e na roupa que vai sair da máquina...será?
Uma por uma, e revistas todas as roupas alguém dentro de mim dizia: Desiste, você não vai encontrar. é apenas uma aliança de ouro perdida... Deixa isso para lá... e eu só pensava nela. Na minha mãe.Vários sacos de tecidos em torno da máquina de lavar roupa provenientes dos forros dos sofás e cortinas e meus olhos procurando a aliança... então sacudindo tudo eu disse: Mãe! Me ajuda! Onde? E olhei para o saco de cortina que estava coroado com a aliança, meti no dedo e fiquei uns dez minutos sob o impacto de... se eu tivesse desistido, a aliança poderia cair dentro do saco das doações e by,by...
Não ter desistido da aliança me reencontrou com ela e principalmente com a força da persistência... Do persistir. Do não desistir. Virtude.
Mais uns cinco meses e estava lavando as lindo molho de alfaces crespas quando li que as gotinhas de higienizar alfaces estavam com prazo vencido... Melhor desistir de lavar alfaces e meti num saco e o saco na geladeira. Entrei no duche e saí apressada para me vestir e partir para o meu compromisso... Depois de experimentar possibilidades e me definir por umas roupas, percebo que não tenho a aliança... Tiro toda a roupa e sacudo... nada. Sacudo tudo o que experimentei e nada...Preciso sair para o meu compromisso e desistir de achar a aliança, mas parei e disse: Mãe! Me ajuda! Onde ? Cadê? E nada...Abri a geladeira, olhei para o saco com as alfaces crespas e resolvi sacudi-las e saiu rolando a aliança feito um aro de ouro desfilando no mármore da pia.
Passeia a mão na minha bolsa e parti com a aliança no dedo pensando nela, na insistência, persistência e em não desistir.
Não desistir nunca daquilo que pode estar perdido. Você acha.
Fernanda Correia Dias
in Não desista. Persista.


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