terça-feira, 19 de maio de 2015

Foto de cinema 2 . Foto Fernanda Correia Dias

T. Miranda nos avisou que o trabalho sobre Ouro Preto seria livre. Passei a mão na máquina fotográfica da minha mãe que estava disponível para me emprestar, uma Taron, made in Japan e lá fui eu com uma bolsa de caixinhas lacradas de filmes slides para Ouro Preto. Minha república era uma república de meninos estudantes de mineralogia, a Serigy, ao lado da faculdade de mineralogia, onde a maioria estudava. Chegamos de tarde, apresentaram o quarto e a cama que eu ia dormir, e de madrugada de tanto que jogaram pedrinhas no vidro da janela do meu quarto, abri,  vi e ouvi um grupo de rapazes tocando e cantando uma serenata no violão para mim  de frente para a minha janela. No meu quarto não tinha ninguém comigo...! Nossa...! Nem consegui pensar que aquilo era engraçado, porque era mesmo muito bonito. Eles estavam todos de chapéu de feltro e cobertos com cobertores...umas nuvens corriam baixo e o branco delas apagavam eles... Mas não apagava a música...Muito frio, mesmo assim estavam e reapareciam juntos e cantavam e tocavam muitas músicas...Com tanto frio e beleza, adormeci na janela e lá por umas tantas, fechei e dormi. No café da manhã eles explicaram que usavam chapéu de feltro e barba para avisar aos amigos que estavam em semana de provas e estudando muito...Com chapéu e barba não tinha farra... Naquele mesão do café da manhã eu não saberia identificar qual deles todos formavam os cinco da madrugada... Quase todos barbados...E aquele sem barba seria o mesmo? Mas nem olhou para mim...
Tomei um copo de leite frio sem açúcar como gosto, atravessei a bolsa , pendurei a máquina no pescoço e parti. Fui recolhendo com a máquina fotográfica todas as imagens de portas e as janelas que encontrei no caminho. Em sacadas, conversadeiras...bandeiras de portas e também telhados...Fui longe. De botas, de saia longa de seda grossa, de camisa de manga enrolada e chapéu de aba larga. Foram três dias assim. Subi e desci ladeira e quando vi que já estava de frente para porta e janela que já conhecia, parei.
No Rio de Janeiro, levei o filme para a revelação na loja da Kodak que ficava na rua das Laranjeiras e quando fui buscar, meu amigo e genial fotógrafo e proprietário da loja me avisou... Você perdeu o trabalho...A lente estava com fungo... Ficou tudo pontilhado.... Coloquei sobre a mesa de luz e concluí, estava maravilhoso! Meu amigo genial ficou horrorizado...Mas lá fui eu certa que tinha nas mãos a minha maravilha...T. Miranda me disse: _Estou fascinada!É Genial! É uma coleção lindíssima! E para a exposição e o acervo do Louvre foram aqueles slides que eu gostaria muito de rever...
Fernanda Correia Dias
in Portas e Janelas em pontilhismo.

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