quinta-feira, 5 de março de 2015


Maria-Sem-Vergonha . Floresta da Tijuca . 
Fotografia Fernanda Correia Dias

Andávamos com os faróis do carro desligados e o luar acendia as Marias-Sem-Vergonha que nasciam e exibiam suas flores nas margens da estrada! Quem conhece cartela de cor e sabe que cor é luz, pode imaginar o quanto de magia vivíamos em encantamento.Esta cor acima, na flor, o magenta, que em pigmento estaria mesclada a branco para este tom, também ficava ao lado de outras, nas cores...coral... chá... vermelho... As árvores mais altas que se curvavam sobre a estrada e eram mais escuras que a noite desenhavam aquela certeza que estávamos nas franjas da Floresta da Tijuca. De vez em quando um macaco prego pulava... Um sagui corria, um caxinguelê decidido atravessava o luar e a natureza pulsava adaptada à presença do carro, do gás carbono e do nosso amor por aquelas luzinhas lá em baixo, como um presepinho...Um poderoso aroma suspenso cortava geladinho o calor da umidade e passava por cada nó da minha coluna. Nunca mais fui a mesma depois daquela noite, mais uma na minha vida, mas aquela em que eu nasci naquelas horas aos nove anos, reveillon, passagem de ano, lá em baixo as festas... e esta casual percepção que a noite é assim na floresta: Na companhia da lua, dos bichos e das temperaturas. Enquanto que se os faróis do carro estivessem acesos, seria mais uma passagem sem esta magnífica percepção. Olha! Que lindo! Quantas vezes foi assim? Muitas. Por trinta anos...E agora? Tudo deve estar lá como sempre esteve, mas é preciso passar na noite, apagar os faróis e ficar quieto observando tudo... Será que ainda é possível?

Fernanda Correia Dias
in A noite na Floresta!









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