segunda-feira, 29 de setembro de 2014


Minhas pernas
 Minhas pernas . Foto Fernanda Correia Dias

Quando Avancini gravou o caso especial no Cosme Velho, nos anos setenta, na casa onde eu morava e onde me conheceu, ele me disse: Quero você para ser a Gabriela. Não gostaria de ser atriz? Respondi que eu precisava estudar para ser atriz e que eu tinha interpretado personagens em peças teatrais na escola, mas não tinha experiencia em televisão. Me respondeu que eu não tinha experiencia em televisão, mas ele tinha! Você é a própria Gabriela!Você transborda talento quando me olha! Acrescentei que seria muito difícil convencer a minha mãe...Ele disse que ia conversar com ela e conversou. Fui à TV Globo quando as gravações eram ainda na Rua Von Martius e a Guta selecionava o elenco. Deixei meu currículo com a Guta e recebi uma autorização para encontra-lo dentro da sala de gravação, sempre que ele estivesse gravando. A sala tinha uma linda e imensa mesa com vários botões e muitas telas transmitindo os ângulos das câmeras. Ele ia criando um discurso com as imagens e era interessantíssimo ver aquela direção num nível de sensibilidade espantoso. As continuistas as vezes interrompiam a gravação para corrigir brincos, roupas, cabelos... Depois de gravar a minha imagem numa entrevista que fez comigo ele ligou para a minha mãe para pedir autorização para gravar a Gabriela comigo. Eram poucas falas... Ele insistia. Faltavam meses para eu completar 18 anos, eu ainda era menor de idade. Minha mãe respondeu que: não autorizava não. Segui acompanhando o Walter dirigindo a Gabriela.
Mais alguns anos e todos ligavam dando parabéns para a minha mãe e para mim sobre a minha atuação em Dancing days, novela de grande sucesso dirigida por Daniel Filho. Todos achavam que eu era a Gloria Pires
O mundo dava voltas e o Avancini sempre me encontrava no Rio, em São Paulo, Salvador e me chamava assim: Fernaaaaannndiiiiiiiinhaaaaa....com uma musicalidade característica que ele criou e que gostava de repetir prazerosamente. Ele e esta musicalidade vinham sempre pelas minhas costas e ele me abraçava com dois braços. Não sei como me reconhecia de costas! Ele dizia que era capaz de reconhecer as minhas pernas onde quer que eu estivesse! Ele era mais baixo que eu quando eu estava de salto, mas mesmo assim me abraçava carinhosamente. Gostava de olhar para os meus olhos e dizer como meu pai diz: são duas jabuticabas lindas! Os anos passaram minhas filhas nasceram e encontro minha primeira filha beijando e sorrindo para a capa da revista e dizendo Mamã... Não sou eu...É a atriz Gloria Pires! Nasce a outra minha filha e a outra filha beija as capas, a tv e lá pelos doze anos me diz que está assistindo o reprise de uma novela em que a Gloria Pires está em dois papéis porque sente muita falta de mim, e eu nunca estou em casa quando ela chega da escola e quando eu chego ela já dormiu... Minha mãe me perguntou se eu fiquei muito triste de não ser atriz de televisão e eu respondi: Claro que não! Estudei muito, me formei em faculdades, trabalhei e trabalho na minha área de interesse. Sempre me tratam como Gloria Pires, Malu Mader, Ivete Sangalo, mesmo quando eu insisto em dizer que não! Não sou não! Ganhei um lindo amigo super-talentoso e com o nome Walter Avancini, até outro dia ainda tinha um chapeuzinho modelo italiano que era dele e que ele pediu para que guardasse comigo para que todos soubessem que para mim ele nãos só tirou o chapéu como me entregou e meu ouvido perpetua a voz dele ao telefone me dizendo que ele só levantaria da cama que estava no hospital, se fosse para me ver. Hoje olhando para as fotos que eu fiz das minhas pernas, que são muito bonitas porque não são minhas, são idênticas às da minha mãe Maria Mathilde, que são idênticas às da mãe dela, minha Avó Cecília Meireles, que eu conheci, eu reencontro numa centelha de memória, Avancini, Gabriela, Amado, Tv Globo, cravo, canela, talento, Cosme Velho, Caso Especial, Casa de Cecília, Cecília Meireles, Maria Mathilde, Guta, Von Martius e a possibilidade de escrever para você.
Fernanda Correia Dias
in Para você!



domingo, 28 de setembro de 2014

Barco à remo

Barco à remo . Foto Fernanda Correia Dias

Nasci bonita e sou bonita mesmo. Por que me conheço, me sei por dentro. Onde sou ainda mais bonita.
No meu barco, remo eu! 
Tenho aquele equilíbrio que muitos já perderam.  E todas as insuficiências que venço com esforço, estudo e pesquisa. Eu mesma viro o barco quando quero me meter dentro d´água e conversar com tubarões.
Nasci bonita e sou bonita mesmo. Por que eu não sou eu... Sou uma herança genética. Sou ela, ele e sou você. Tenho esta capacidade de fazer aos outros o bem que eu quero para mim. Compreende?
E este, já é o grande princípio que fundamenta a minha integridade.
Fernanda Correia Dias
in Princípios

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

A centenas de milhas daqui
 A centenas de milhas daqui .  Foto Fernanda Correia Dias

Lá onde eu estou, não é aqui! É lá. Se você não me procurar lá, não vai me encontrar aqui. Não vai não.
Lá onde estou, é muito longe para te explicar. Eu volto, fico perto de você, mas estou lá. Estou entre o céu e o mar, sou ar sobre mar, circulo, vou e volto por onde quero e tenho a liberdade que você não tem. Deito no horizonte e você nem vê e eu te vejo. Porque eu sou uma energia consciente. Ah... compreende?
Lá onde eu estou tenho eu mesma comigo. Esta força que eu sou todo dia. Vou e volto. Maresia.
Fernanda Correia Dias
in Cartão Postal
 

A escrita . Foto Fernanda Correia Dias

Um fio de água fazia a escrita e eu ia lendo na água e me divertindo. Minha mãe às gargalhadas com meu improviso engraçado e a tarde ficava molhada de cronicas fluídas. A tarde era mate.Só a água deliciosa e fresca dizia palavras translúcidas de alegrias. Os seres tristes são tristes escreviam as águas. Pesavam feito óleos grossos que mal respiram levitando esparramados na larga superfície. Os seres tristes são tristes porque não querem alegria. Decidiram. Os que nasceram para a alegria da vida, estes são os alegres.Por que também decidiram.
Alegria não é fruto de herança, de genética, de matéria física... É decisão interna, de cerne, de alma, de leveza, depois de longos caminhos entre as paredes das soluções felizes acesas... Ah... Os mesquinhos pensam que levaram o beijo, levaram o abraço, levaram a palavra oca anotada... Os mesquinhos colhem os vestígios dos gravetos de cinzas onde houve fogo e não resta nem fumaça. Só os mesquinhos querem a água congelada, o tempo parado e a vida sem novo dia. Os alegres precisam de novos dias para arejar as incríveis risadas, elevar o pensamento à fluidez da água, evaporar a musculatura em levezas e pensamento, mudar as idéias em cronicas improvisadas de alegrias translucidas. Os mesquinhos querem o fundo da piscina onde o nada, nada. Assim,  escreve o fio de água ainda e meus olhos lendo vão se divertindo enquanto escuto da minha mãe, as risadas.
Fernanda Correia Dias
in das soluções felizes acesas!


quarta-feira, 24 de setembro de 2014

O chão e os arcos ! Foto Fernanda Correia Dias

Meu amigo, o chão escreve ordem e os arcos escrevem passagens!
Todos passarão! Os malcriados e grosseiros, os desafinados...
Os vaidosos, exibicionistas...Os tímidos...
Os que falam muito, os que falam pouco. Todos passarão!
Os delicados, gentis, inteligentes, cultos, honestos, também passarão.Os bons e os maus amigos...

Se você ainda não fez, faça o bem. Hoje . Agora. Antes que tudo se acabe.

Ah! Todos passarão!
Inclusive os arcos e o chão.

Fernanda Correia Dias
in Passarinho, passarão...



terça-feira, 16 de setembro de 2014

Simetria . Foto Fernanda Correia Dias
Este tom de verde que eu gosto de lembrar verdinho, porque tem branco e cinza na tinta desta cor...Estas listinhas marfins que se estreitam antes de chegar à ponta da lança, assinam uma elegância ímpar. No jardim oferece um encontro de admiração. Todos que passam são atraídos por esta harmonia. Lembrei do amigo me ensinando: "A mentalidade tem como base o sistema nervoso. O sentimento, o sistema circulatório e a vontade o sistema ósseo-muscular.Estes são os três componentes da individualidade. Repetindo. Mentalidade, sentimento e vontade. Se você aprender a controlar estes componentes terá felicidade vitalícia!"
Fernanda Correia Dias
in Harmonia

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Minha mãe no chafariz da praça . Foto Fernanda Correia Dias
Hoje é aniversário da minha mãe Maria Mathilde. Olhando bem para esta menina de 90 anos do lado direito encontrei com ela brincando no chafariz. É a perninha. A colocação do pezinho, o braço e a mãozinha, as curvas do rostinho e principalmente todo o corpinho e expressão dela. Esta presença participativa, este instante consciente de estar ali, brincando no chafariz. Liguei para o meu pai e disse: Hoje é dia do aniversário da minha mãe e eu não seria filha dela se você não tivesse escolhido ela para ser a minha mãe. Ou vice-versa.
Rimos. A felicidade está sempre nas graças e alegrias. Minha mãe era a graça e a alegria! Afaste dela o que for feio, mau, inacabado, sem valor. Tudo em torno dela é com a certeza do Amor. Assim, como está na praça.
Fernanda Correia Dias
in Feliz aniversário mamãe Maria Mathilde M.C. Dias
Hoje é segunda-feira  e são 90 anos. Viva!

domingo, 14 de setembro de 2014

Fundo azul  .  Foto Fernanda Correia Dias
Fundo azul . Foto Fernanda Correia Dias

Limpo o mental e os nervos. Cuido da minha palavra.
Atraio e pratico Beleza.
Todos os dias.
Sempre.
Fernanda Correia Dias
in Todos os dias. Sempre.



quinta-feira, 11 de setembro de 2014

A luz do tempo . Foto Fernanda Correia Dias
A luz do tempo . Foto Fernanda Correia Dias

Estudo o efeito do tempo sobre as pessoas e percebo que umas ficam mais jovens e alegres do que eram e outras completamente envelhecidas mentalmente e irreconhecíveis.  A luz do tempo é implacável. O envelhecimento em muitos é um desastre ! Retira do ser toda a sabedoria e e deixa um esvaziamento num nada lamentável.
Fernanda Correia Dias
in  Estudando sabedorias




terça-feira, 9 de setembro de 2014

                                         
 Palácio Itamaraty  
Foto Fernanda Correia Dias

Eu fui mas volto. Este lugar encantador. Vejo Fernando Correia Dias caminhando por ali. Observando longamente o reflexo dos cisnes. Eu fui e volto, porque tanto o meu nome como o nome dele tem o mesmo significado etimológico: Aquele que luta pela paz. O diplomata. O que procura a conciliação.
Eu fui mas volto e estou no frescor dos cristais dos vidros. Na temperatura das colunas. Na transparência do lago. Nadando com as carpas na água ensolarada. Na tranquilidade deste verde fresquinho. Eu fui e volto porque eu sou este olhar que fotografou e é por isso que você está me sentindo agora.
Fernanda Correia Dias
in Palácio Itamaraty


domingo, 7 de setembro de 2014

Casal de Pano . Presente de Cecília Meireles para a neta Fernanda . Foto Fernanda Correia Dias

Fui fazer exame de vista para a renovação da carteira de motorista num prédio vermelho e recuado na rua Haddock Lobo e depois do exame me levei para a Paróquia Divino Espírito Santo. Porque esta igreja muito antiga ficava ali bem perto daquela rua Zemenhof onde as três meninas subiam para a chácara da Jacinta, na rua da Colina com a São Claudio...O Ludwik Lejzer Zemenhof foi o iniciador do Esperanto no Brasil. Entrei na Igreja e gostei muito. Velas acesas para os mortos me levaram e me trouxeram da infância. O fogo é uma força que entra em contato direto com o espírito...Tanto tempo que não sentia aquele vapor de pavio, o calor de todas as velas acesas... e eram tantas em lugar coberto com a parede expondo muitas pequenas vitrines com os retratinhos das saudades. Palavras de muito amor. A nossa Senhora... A Santa Terezinha e a Nossa Senhora dos Navegantes... Por esta mais que todas, Jacinta deve ter passado e fixado os olhos em oração...Claro que sim... agora eram os meus. Dois mares batiam nas minhas pálpebras e a luz apontava do chão os azulejos azuis e brancos das paredes...
Deixei a Paroquia do Divino com a trindade de três espíritos santos e fui caminhando até olhar para uma placa de mármore onde estava o nome Zemenhof . Fui subindo,  e lembrei que o Pedro Nava em Baú de Ossos explicou que a rua da Colina passou a ser chamada Professor Quintino do Vale... Sem a menor chance de ver o mar que minha avó via... e o gasômetro... Um prédio estava de fronte do monte na Colina erguendo-se na frente da São Claudio...Mas eu subi a São Claudio e fui ao onze...que agora é "nove 'e "onze A". Dividiram a chácara. E onde era o pomar, o tanque de pedra, é nove...A casa é o onze. Já tinha visitado com minha mãe... Um vento maravilhoso e frio como porcelana me alcançou e contra ele fui subindo a rua São Claudio até encontrar dois rapazes que me perguntaram espontaneamente se eles podiam me ajudar. Comentei que estava visitando o lugar dos meus antepassados e fui descendo a rua com um deles, que me ensinou a descer mais ainda até chegar na rua da Colina  e descer mais e mais... Me explicando como eu voltaria para a Haddock Lobo.
Passei por uma calçada e fiquei catando no chão aquelas sementinhas vermelhas que os índios da costa brasileira usam para fazer colar...Umas quinze continhas eu catei até o momento que catando me perguntei por quê eu estava catando continhas vermelhas sobre o cimento da calçada.... E me respondi, uma saudade de catar...uma saudade daquelas continhas e aquela gratuidade em surpresa diante dos meus olhos foi me trazendo de volta para a floresta em simultaneidade com o cimento.
Lembrei do casal de pano que minha avó me deu para brincar com ela porque estas continhas também estavam na casa dela...
Desci e segui até a próxima igreja... São Sebastião dos Capuchinhos... Então fiquei maravilhada com os mosaicos italianos... Que deslumbrante! Uma preciosidade! E vi um capuchinho benzendo um homem e uma mulher então tirei da bolsa as pombinhas do Divino e o capuchinho benzeu explicando que ali estava o corpo do fundador da cidade do Rio de Janeiro, o Estácio de Sá, e a pedra da fundação também...
E que mais adiante descendo uma outra rua eu ia encontrar a rua da Estrela.
Fernanda Correia Dias
in Casal de Pano . Presente de Cecília Meireles para a neta Fernanda.
ou os Fundamentos da Fundação e das Epistemes Naturais.