sábado, 2 de agosto de 2014

Garça no Itanhangá   
A garça no Itanhangá II . Foto Fernanda Correia Dias

Ita é pedra, rochedo, penedo...anhangá é espírito, alma espectro, diabo, fantasma? Em tupi-guarani?
Pedra viva, pedra onde habita o espírito? O diabo? Pedra da vida? Pedra que fala? 
A pedra emitia um som quando ventava entre suas paredes... Compreendo...  E fiquei pensando nisso e olhando a garça refletida na água daquele riozinho que corre paralelo ao canal de entrada e saída da Lagoa de Marapendi para o Oceano Atlântico. A garça escolhendo o que ia jantar... Eu, pensando nos peixinhos que entravam da água salgada para a água doce...Os peixinhos da água salgada buscam os manguezais nas águas doces para procriar e criar seus filhotes. Então os manguezais são os berçários dos futuros cardumes de água salgada. Compreende garça?  Porque os peixes de água salgada, não procriam em água salgada... eles buscam abrigo nas águas doces... Você que é ave marinha, que sabe que manguezal é refúgio natural de alimentação, reprodução e descanso das aves migratórias e muitíssimas espécies, garça, anote aí: martim-pescador, colhereiro, guará e ainda...camarão, guaiamum, marisco, sururu, ostra, lontra, aranha, morcego, linguado,rã, sapos, jacarés, fitoplânctons, frutos, folhas... E tudo isso está neste ao longo da Lagoa e canal de Marapendi e neste estuário garça, em que o canal encontra o mar e o mar encontra o canal . Então garça, preste atenção, Itanhangá pode ser uma pedra que fala, uma pedra do diabo, pedra viva, pedra onde habita o espírito que certamente é o da vida e que os tupi-guaranis não queriam que ninguém destruísse nada por aqui. Que preservaram e protegeram a abundancia de renovação de natureza com o nome que deram ao local. Nome para afastar os destruidores. Mas hoje, garça, quem escuta e respeita  a voz do espectro? Os homens estão muito longe e surdos de si mesmo e não querem compreender os sentidos guardados nas palavras mais antigas dos idiomas dos seus países. Estas obviedades de muito mais que quinhentos anos.
Fernanda Correia Dias
in O homem moderno não respeita a voz do espectro.

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