quinta-feira, 24 de julho de 2014

Testamento de Tamandaré
Ida e volta orla carioca . Foto Fernanda Correia Dias

Concluído o compromisso de hoje, troquei meu almoço por uma visita ao Museu Naval. Lembrei da noite que entrei naquele prédio do Museu pela primeira vez para a reunião com a Sociedade dos Amigos da Marinha, Liga Marítima e Confraria dos Velhos Marinheiros. Aqueles homens, estudiosos, pedagogos, dispostos, estavam ocupados com idéias de fixar a história Naval Brasileira contribuindo para manter e garantir a paz desejada e educar, educar, educar...Distribuir entre nós suas inteligencias e memórias. Tenho a impressão que naquela noite um dos confrades leu o Testamento de Tamandaré, mas hoje eu li na luz do dia de uma claraboia, num quadro pintado à óleo e emoldurado em que reaparecia Tamandaré e seu olhar ao lado de alguns parágrafos de seu Testamento. E foi no fecho do texto que tive certeza que já tinha lido o primeiro Velho Marinheiro escrever Velho Marinheiro. Lendo o Testamento de Tamandaré lembrei das camisas que criei para a Confederação Brasileira de Vela e Motor, Equipe Olímpica de Vela Brasileira para as Olimpíadas de Atlanta , sentindo como designer a possibilidade de dizer ao mundo: Vejam a performance deslumbrante destes velejadores brasileiros, estas estrelas da vela do cruzeiro do sul... antes de ser Confrade Emérita dos Velhos Marinheiros e que o uniforme incluía camisas e agasalhos com as estrelas brasileiras do Cruzeiro do Sul estampadas em branco sobre azul marinho. Lembrei do impacto que aquele uniforme causou quando estavam todos unidos no desfile do primeiro dia em Atlanta,na abertura dos Jogos Olímpicos. Um mar de gente e  um céu de Estrelas-da-Vela-Brasileira.

Testamento do Marquês de Tamandaré Patrono da Marinha do Brasil, 23 de setembro de 1893: 

"Não havendo a Nação Brasileira prestado honras fúnebres de espécie alguma por ocasião do falecimento do imperador, o senhor D.Pedro II, o mais distinto filho desta terra, tanto por sua moralidade, alta posição, virtudes,ilustração, como pela dedicação no constante desempenho ao serviço da Pátria durante quase 50 anos que presidiu a direção do Estado, creio que a nenhum homem de seu tempo se poderá prestar honras de tal natureza, sem que se repute ser isso um sarcasmo cuspido sobre os restos mortais de tal indivíduo pelo pouco valor dele em relação ao elevadíssimo merecimento do grande imperador.
Não quero pois, que por minha morte se me prestem honras militares, tanto em casa como em acompanhamento para a sepultura. Exijo que meu corpo seja vestido somente com camisa, ceroula e coberto com um lençol, metido em caixão forrado de baeta, tendo uma cruz na mesma fazenda, branca, e sobre ela colocada a âncora verde que me ofereceu a Escola Naval em 13 de dezembro de 1892, devendo colocar no lugar que faz cruz a haste e o cepo, um coração imitando o de Jesus, para que assim ornado signifique a âncora e cruz, o emblema da fé, esperança e caridade que procurei conservar sempre como timbre dos meus sentimentos. Sobre o caixão não desejo que se coloque coroas, flores nem enfeites de qualquer espécie, e só a Comenda do Cruzeiro que ornava o peito do Sr. D. Pedro II em Uruguaiana, quando compareceu como o primeiro dos Voluntários da Pátria para libertar aquela possessão brasileira do jugo dos paraguaios, que a aviltaram com a sua pressão; e como tributo de gratidão e benevolência com que sempre me honrou e de lealdade que constantemente a S.M.I. tributei, desejo que essa Comenda Relíquia esteja sobre meu corpo até que baixe a sepultura, devendo ficar depois pertencente a minha filha D.M.E.I.(Dona Maria Eufrásia Marques Lisboa) como memória d´Ele e lembrança minha."Exijo que se não faça anúncios nem convites para o enterro de meus restos mortais, que desejo sejam conduzidos de casa ao carro e deste à cova por meus irmãos em Jesus Cristo que hajam obtido o foro de cidadãos pela lei de 13 de maio.  Isto prescrevo como prova de consideração a esta classe de cidadãos em reparação à falta de atenção que com eles se teve pelo que sofreram durante o estado de escravidão e reverente homenagem à Grande Isabel Redentora, benemérita da Pátria e da Humanidade, que se imortalizou libertando-os."Exijo mais, que meu corpo seja conduzido em carrocinha de última classe enterrado em sepultura rasa até poder ser exumado, e meus ossos colocados com os de meus pais, irmãos e parentes, no jazigo da Família Marques Lisboa."Como homenagem à Marinha, minha dileta carreira, em que tive a fortuna de servir à minha Pátria e prestar algum serviço à humanidade, peço que sobre a pedra que cobrir minha sepultura se escreva: Aqui jaz o Velho Marinheiro."

Fernanda Correia Dias
in Confraria dos Velhos Marinheiros
ou Tamandaré, Patrono da Marinha Brasileira




Nenhum comentário:

Postar um comentário