sábado, 28 de junho de 2014

Bigodes
James em close de bigodes . Foto Fernanda Correia Dias

Olhando para este gatinho siamês, as vezes penso que parece uma modificação de um macaquinho-prego, mas não é. As vezes penso que poderia ser uma derivação de um bagre-africano em mamífero, com este bigodes tão longos, mas não é.
Esticadinho parece um lagartinho peludo...Não... não... É um gatinho. Pequeno. Carinhoso.
E este pelo parece até porcelana pintada dependendo da luz...Mas não é de porcelana... É um pelo tão certinho, arrumadinho..macio. O que é notável é que ele pisca quando eu pisco para ele e com o olho-espelho. Me acompanha onde estou. Me procura. Gosta de dormir no meu colo feito uma rosquinha. Ele tem uma capacidade espantosa: capta meu pensamento. É. Ele capta. Como eu sei? Ele antecipa a reação que ele teria, antes que eu verbalize...Gosta muito de me hipnotizar e eu gostaria muito de entender o que ele acha que eu estou entendendo quando ele está me hipnotizando.
É um privilégio a amizade dele e ele querer a minha companhia é encantador. Ele está vivo deitadinho no meu colo, dormindo, enquanto eu escrevo estas linhas. Respira profundamente e confia em mim. Vez ou outra encontra nova posição. Atende por James, mas se eu disser tuko ele sabe que estou falando com ele e pedindo para ele voltar...Ele tem certeza que conversa comigo e que me explica o que não compreendo. É eloquente. Eu tenho certeza que me esforço muito para compreender. Ele imita no mesmo tom uns gemidos que eu dou com interrogação, ponto, exclamação e a minha última percepção foi que quando eu choro, ele tem um respeito absoluto por meu sentimento e demonstra claramente que compreende abaixando o olhos e a cabeça, sem me deixar. Se demoro muito em algum lugar, vai me procurar, me encontra, mia com reclamação e senta até que eu resolva acompanha-lo. Muitas vezes tem postura de ser meu dono e outras quer que eu saiba que ele é meu.Tão bonita a construção da nossa amizade desde que ele me adotou, que eu só sei pensar nele com carinho.

Fernanda Correia Dias
in James o gatinho da Mamãe, Mathilde.




Eu, Nice...   
James pensando . Foto Fernanda Correia Dias

James, ela gosta de bichinho e é capaz de me contar chorando como foi que a Paloma voou para o céu com pureza  d´alma. Desmarcou nosso encontro, mas compareceu porque eu não sabia que ela desmarcou por mensagem que eu não recebi... Obras! Poeira! Oh...Céus! Verde-Fendi, verde-musgo...É muito para a minha amiga que precisa respirar com calma... Lembrei do poema que ela escreveu e ela me disse por inteiro, de memória, prodigiosa...Lembrou dos filhos, dos amigos, das minhas filhas, do último dia do ano, explicou o silencio, subiu, desceu, levantou, sentou e nos trocou de mesa para assistirmos ao espetáculo da sobremesa com bananas flambadas em calda de laranja e conhaque dentro de frigideira de metal amarelo, açúcar e aroma! 
Atenta ao grão, ao que eu estava lendo, ao livrinho que me acompanhava, me pediu para escolher uma página e com o livrinho fechado, abriu onde estava o poema XXX que começava assim: S´il suit le Tao, le ministre qui aide le roi ne devra pas recourir à la force des armes pour soumettre les peuples. E depois que li e traduzi me pediu para ler também o XXXI : Les armes les meilleures ne sont pas des instruments de bonheur.
Ela leu  o post de Flamboyant na Maracanã. Foi um dia de muitos Fernandos. Até dentro de papelinhos. Nós não temos tempo, temos que seguir o curso das responsabilidades com o dia e a vida e lá fomos nós nos despedindo e nos separando num até breve! Sabe James, não fique assim pensando. Eu, Nice, você, Mathilde, Cecília, Gaya, Kenya, Paula e a Ilha Grande no primeiro dia do ano de alguma forma estávamos ali, naquela varandinha que estou vendo daqui quando a linha do horizonte disse assim: Em paz.

Fernanda Correia Dias
in Eu, Nice...


quinta-feira, 26 de junho de 2014

Criativo
Floresta . Foto Fernanda Correia Dias
Ainda agora li que a criança criativa é a criança que sobreviveu. Até onde chega esta afirmação ao coração de um criativo, como eu?
Somos todos criativos, porque somos todos sobreviventes desde o início de tudo... Cada um na sua humana vida em corpo e mente desenvolvendo a área de principal interesse. Matemática, ciências, economia, pesquisa, biologia, artes...Vendas, manufaturas, engenharias, filosofia...Tudo isso só existe, porque existiram criativos. Somos sobreviventes às escolhas de Noé em deixar que viesse na barca um casal de mosquitos...jacarés, vampiros...Também...
Somos sobreviventes de todas as solidões e frio que sentimos por nós e por todos os que estavam e estão próximos e distantes. Somos o amor, o medo, a angustia, a aflição e a felicidade e por isso somos fortes. E não existe forma mais sincera de sobreviver, que ser criativo.Todo o mais é um mundo feio se o criativo não escolheu para si a estrada do bem. A estrada do bem é a mais bonita.  Vá por ela.
Fernanda Correia Dias 
in Atenção...


quarta-feira, 25 de junho de 2014

Fundamentos
Floresta . Foto Fernanda Correia Dias


Um dia um ser muito apagado sabendo-me estudiosa e se fazendo mui amável e gentil, passou a me ligar duas a três vezes por semana para se alimentar das minhas idéias e conclusões.
Se alimentar e vender estas idéias em jantares com  quem convinha e depois viajar pelo planeta, comprar bens móveis e imóveis, etc...

Nas noites que o ser-apagado me ligava pedindo uma ajudinha, uma ideia, dizia que era rápido, era só uma perguntinha, um palpite, uma sugestão. Uma dúvida. Uma suposição. Ou o que eu faria? Como poderia ser resolvido?Qual a minha opinião?... o ser tomava horas das minhas noites preciosas e eram horas mesmo: Duas, três, quatro horas de telefone.
Eu me dizia: isso não é uma pessoa precisando de uma amiga generosa como eu sou a qualquer momento que alguém tem dúvida e quer conversar comigo três, quatro horas ou quer me ver... Isso é um ser mesquinho. Egoísta. Compromissado. Me ligando três vezes na semana, mas eu não percebia que estava sendo vampirizada e desconhecia esta antiquíssima modalidade de relacionamento humano.

Meses, semanas ou até mesmo dias depois eu reencontrava literalmente a minha sugestão in progress de realização ou realizada. O ser-apagado atendia o cliente com as minhas ideias. Um dia decidi não participar mais daquele centésimo brainstorming que iria alimentar as agencias de publicidade que atendiam as contas dos shoppings, dos refrigerantes, das holdings, etc...E perguntei: Quanto vale uma ideia? Por quanto estás vendendo as minhas idéias?
 Não me respondeu, desconversou.

Ora, todos sabem que eu crio modelos de negócio com ideias para desconhecidos queridos, para amigos que enfrentam dificuldades. E isso é espontâneo, é de família. Meus pais e avós criativos também fizeram com a mesma sinceridade e amor.

Mas...

O shopping que tinha uma fachada obscura, agora tinha um evento de raio laser na noite com vitrines externando o conteúdo em fotos gigantes; uma loja ou franquias de lojas que eu pagasse para poder nadar ou aprender a nadar dentro piscina da loja; livros gravados em CD, para que eu pudesse escutar aquilo que não posso fazer simultaneamente quando pinto, desenho; comida que eu pagasse só pelo que eu fosse comer, pesada na balança; loja especializada em produtos judaicos; Loja com roupas de frio para quem sai no verão do Rio de Janeiro para a neve de Nova Iorque; porta de loja-vitrine, quando aberta; lá, lá,lá...

Vampiros não são amigos. Aproximam-se de você e tomam suas ideias na veia criativa que alimenta seu cérebro! Vendem suas idéias  para oportunos investidores por uma pequenina comissãozinha para amigos num grande negócio onde os outros membros da comunidade estão favorecidos e vivem disso: Negócios!
Após cinco, dez anos, quando não conseguem mais meter os dentes no seu pescoço mostram os dentes para você e os seus.

São eficientes. Na maioria das vezes já estão vivendo tranquilamente daquilo que te tomaram.

Eles existiram. Existem. Existirão.

Fernanda Correia Dias
in Atenção!





Iluminado
James, O Iluminado . Foto Fernanda Correia Dias

Quando rever-me sentirás minha alma acesa... Pintei este verso de Amado Nervo num prato de porcelana, dei para a minha mãe para que ela sabendo o que eu sentia, se alegrasse e ela me pediu para deixar o prato em pé no mesmo suporte que montei e no mesmo lugar, sobre o mármore da cozinha, para que eu soubesse o que ela sentia quando me via... Estas delicadezas, que as pessoas sensíveis fazem todos os dias, e que escritas ficam ainda bonitas, mas não tão bonitas como vivíamos... Mas...Então...Eis que o gatinho da minha mãe...mostra-me a alma acesa sobre o mármore! Claro! Minha Mãe tinha a alma acesa em abundancia. Capaz de iluminar o gatinho dela para sempre, como iluminou toda a família. Um farol.
Fernanda Correia Dias
in O iluminado




domingo, 22 de junho de 2014

Flamboyant
Flamboyant no Rio Maracanã . Foto Fernanda Correia Dias

Fica combinado entre nós que voltarei outras estações para nos reencontrarmos, você sabe, a vida é linda, trabalhar é maravilhoso, amo as pessoas, a família, os amigos e os amigos dos amigos e eu te peço: me proteja em pensamento, palavras e ações, assim como eu te protejo em pensamento, palavras e ações. Voltarei para rever a sua poda, suas flores e folhas e te entregar o meu sorriso mais feliz!
Beijo Flamboyant!

Fernanda Correia Dias
in Beijos e beijosooos!


sábado, 21 de junho de 2014

Cactus no telhado
Cactus no telhado . Foto Fernanda Correia Dias

O vento sopra do mar imenso para a costa, as casuarinas dançam na grande noite.No dia seguinte também. Mês inteiro. Anos... Curvam as casuarinas e suas folhas vão descendo sobre os telhados que na manhã seguinte o sol seca.
Do solo de folhas surgem cactus lindos, sobre os telhados... a vida vai cobrindo de vida a morte...É de morte e vida o Planeta Terra. Não se importa se está sobre o telhado que os homens fizeram na orla do mar... O ciclo da natureza tem suas leis e os homens ou obedecem, ou obedecem. Os cactus vão retendo aquelas gotas da noite em seus corpos porque sabem da evaporação, da sede...
Essa sabedoria da natureza, essa sabedoria fica tão evidente quando olhamos de vagar para o mundo!
Caminhe mais de vagar...Experimente esta doçura.
Fernanda Correia Dias
in Doçuras

quinhentos anos
Flor do cactus . Foto Fernanda Correia Dias

Mais quinhentos anos e a natureza pode impor as contínuas ordens de ser natural. Tudo o que foi construído pelo homem na orla, desce em areia e esfarinha-se como toda a antiguidade em processo de desfazimento.
Oh cactus...Provisório...Lembre-se sempre, por essência somos o amor. No interior temos que ter a paz da saúde. Para qualquer cura, livre-se do medo. Mulheres e homens são iguais em seus direitos e potencialidades pacíficas, mas podem ser bons e maus. Se o cão louco avança saia correndo em vez de pensar em compaixão.Você sofre porque espera demais por algo irreal e seus desejos são inviáveis. Encurte a vista ou alongue. Veja de outra forma! Leve-se para a luz! É mais feliz quem vive com pouco, só um estômago, vida até cem anos e dez dedos! Introduza novas ordens e não tema a inimizade de todos aqueles porque os amigos serão sempre aqueles que podem se beneficiar com a mudança. A boa oportunidade de formar pessoas íntegras é na família, porque a ansiedade violenta e estressada ronda. Eduque esta criança em você, que vai ser o cidadão do futuro, escolha uma ordem social , aquela da educação humanista e espiritual que resgata valores humanos de todas as religiões. Cure suas atitudes e facilite o surgimento do amor. Reforme seu íntimo egoísta, dispa-se da raiva que te faz perder o controle e lembre-se dos prejuízos que ela te causa. Uau... cactus...terreno, ambicioso e realista, vamos trabalhar? Tanto que fazer! Não tem mágica as respostas virão lentamente, apesar da dureza do trabalho e é delas que precisamos sempre. As novas!Se você não agrega os diferentes, se você se isola, se não enxerga a potencialidade das diferenças, não vai formar equipe, time, corpo... paisagem... Vai seguir no meio de todos, dentro da mais linda paisagem e coberto de espinhos.
Fernanda Correia Dias
in Oh... cactus!

Educar corações
Cactos . Recreio dos Bandeirantes .Foto Fernanda Correia Dias

Deste angulo, com o horizonte desequilibrado...assim mesmo, depois de subir a duna, sem apoio para encostar a capa da máquina fotográfica, nossos olhos fotofóbicos, lacrimejando, plantas dos pés ardendo queimadas, víamos o mar... O mar!
Você não faz ideia o que era o prazer dessa visão! Quase que vestir uma nova alma! Por cima um céu azul, contínuo e girando meu corpo trezentos e sessenta graus este céu encostava nas linhas de horizonte. Reencontro com uma paisagem atávica. Já nasci e renasci por ali muitas vezes e desde quando não sei.
Essa visão ressoando no meu peito, faz balbuciar e falar respostas espontâneas. Conversar com o dia, com a luz, com a linha do horizonte, com o grão de areia, frases que eu sei construir sem pensar que estou construindo, mas desabotoando idéias e pensamentos. Ou repetir para escutar melhor, aquilo que li não sei onde dito por  monge: instrução é fundamental, mas cérebros brilhantes também causam sofrimento, é preciso educar corações! Oh Yeh

Fernanda Correia Dias
in Oh Yeh




sexta-feira, 20 de junho de 2014

Rosas brancas
As rosas brancas por cima dos muros . Foto Fernanda Correia Dias

A novidade anunciada na primeira página do futuro próximo: Tédio e vazios existenciais.
Novidade? Mentira! Esta é a novidade mais antiga da humanidade. Existe desde que o primeiro humano encontrou ele mesmo. Se não descobriu graça em ser sua mais íntima e melhor companhia, está condenado ao tédio e aos vazios existenciais.
Ora, ora, ora...Perderam a confiança na alegria? Na vida enquanto houver vida? Por que???
Perderam a fonte? Qual fonte? A única e múltipla. Aquela que jorra constantemente o tempo! Temos ainda tempo de comer esta deliciosa tangerina? Comeremos! Temos ainda tempo para este trabalho de trinta horas consecutivas? Faremos! E podemos estudar esta pesquisa  finalizando em poderosa conclusão? Estudaremos!E precisamos cortar as unhas do gato? Cortaremos. Vamos dominar este Ilustrator? Dominaremos. E a ginastica das cento e cinquenta flexões pode passar para cento e setenta? Pode! E este quarto arrumado ficará prático e maravilhoso? Deslumbrante! Vamos visitar a família?Visitaremos! E você prefere esta cor sem ter visto todas estas? Veremos! E estas rosas, estes perfumes gentis nos chamando para os muros, transbordando beleza por que não fotografamos? Claro que sim!Porque a vida é este agora, esta disposição de estar sempre disposta, compreendeu? Vamos! Mova-se! Comece bebendo muita água!
Vou repetir: Tenha disposição de estar disposta. Disposição é o que faz toda a diferença!
Fernanda Correia Dias
in Rosas por cima dos muros


quinta-feira, 19 de junho de 2014

Bertalha
Bertalha . Foto Fernanda Correia Dias

A bertalha tem este gosto de mata-atlântica.
A folha fresca, na salada, delícia!
(Fatie a carambola em estrelas!)
Cresce assim trepadeira ao tronco da árvore, 
ao muro e vai tateando tudo à sua volta.
Se entorta, busca direção, sol, luz...
Estas folhas de coração com este sangue
passando evidente pelos talos são antigas,
queridas, amigas, novas, frescas
tais como as plantadas por minha mãe,
eu sei, eu sei, 
em todas as casas que moramos...
Plante, coma, não esqueças!
Rúcula, espinafre, hortelã, salsas,
alfaces lisas, roxas, crespas,
romanas, endívias, cebolinhas,
coentro, funcho, couve, acelga, agrião,
sálvia, alecrim, manjerona, 
e chicória e manjericão!
Fernanda Correia Dias
in Geografia familiar

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Boldo
Boldo . Foto Fernanda Correia Dias

Esta amizade com as folhas
não é de hoje não... é amizade antiga, que eu sinto cheiro, 
estalo, textura, reconheço tons...
Esta amizade com as folhas
tem comigo outras pessoas que você não conhece não... Mas a quem eu ouço, vejo,
por memória, aprendizado, companhia... emoção.
O boldo traz as mãos da minha mãe nas minhas me mostrando a pele de veludo da folha, o recorte nas pontas feito rendinha e o estalo com aroma de chá, bule e torradinhas de pão.
Esta amizade com as folhas, 
cresce todos os dias em profunda harmonia,
de tal forma é tão presente em minha vida
que estou sempre lembrando de mais uma e mais alguém
se olho para os canteiros, se me meto em algum jardim.
Nunca estou só olhando...Não... Não estou não.
Ao meu lado tenho uma multidão...
Fernanda Coreia Dias
in Geografia familiar



segunda-feira, 16 de junho de 2014

Palmeira
Design do nascimento das folhas da palmeira. Foto Fernanda Correia Dias

Esta geometria do nascimento das tuas folhas
tem uma matemática delicada,
Você vai renascendo sempre para cima 
e para os lados vão ficando
como estrutura e caule,
folhas, gerações
de vidas passadas.

São braças estas folhas que te trazem 
do chão às alturas impensadas.
Acenam, verdes e vivas,
dançam nas festas das ventanias,
e caem gigantescas e velozes 
 de lá de cima nas calçadas...

Eu sempre que te vejo,
penso neste modo de crescer em si mesma,
nascendo na superfície do planeta 
com sua lança verde
para o céu apontada,
avançando com folhas-nadadoras
mãos dançarinas
na direção das alturas , 
do sol, da lua, das estrelas,
do espaço,
oferecendo cinturas e braços

Linda palmeira
bailarina
equilíbrio apoiado nos ares
dançando para a luz, 
para a vida,
entre todos os vegetais,
és sempre a minha família
acenando aqui debaixo ali de cima,
ali da frente, de todos os lados
e lá de trás.


Fernanda Correia Dias
in Perpétuo






Marido
Foto Fernanda Correia Dias . O Mar . Mirante da Niemeyer.

Marido que não é amigo, nunca foi amigo. Foi só marido.
Amigo é mais valioso que marido, porque amigo é para sempre.

Fernanda Correia Dias
in Do Mirante


...Natural e sintéticos?
Foto Fernanda Correia Dias . O Rio de Janeiro da minha barca

Compreendo...Compreendo...Eu gosto muito do plástico. É uma matéria genial quando aplicada em diversas circunstancias. Infelizmente ainda não é biodegradável...
O plástico imita muitas matérias. Dá a impressão. Até convence o observador. Mas estamos todos os dias nos afastando muito do conceito de autêntico e das matérias naturais.
Folheando livros de trajes, antigos e modernos, cotejo as fotografias e percebo: os povos não trazem mais seus trajes típicos, com aquelas matérias primas características das regiões. Agora é uma matéria plástica, mais barata, parecendo com o que era em lã, em ouro, em prata ou linho...
As mocinhas ainda dançam com os tradicionais pastores... mas os pastores... Que pastores?
São outros tempos. Já não tratam mais dos rebanhos nas planícies, nem ordenham as vacas, tudo é mecanizado, computadorizado, automatizado... Os ourives não fazem mais filigranas, não é preciso, os corações vem moldados, fundidos, prontos, acabados em metais baratos ou até mesmo de plástico e são bem mais convincentes que muitas joias verdadeiras. As meninas não sabem nada sobre os véus e os pentes para os véus e cabelos, que antes eram os pentes cortados em cascos de tartarugas..em marfins....e os véus construídos em fios de sedas resultando lindas rendas e agora são de plástico e de nylon e podem trazer outras cores, como vermelhos e azuis...E não matam as tartarugas nem fazem os coletes armados com as legítimas barbatanas das baleias nem colhem o algodão nem cultivam o interessantíssimo bicho-da-seda...Fazem de plástico... De nylon.  
Se todo o plastico virasse adubo ou fosse recolhido para ser reutilizado...Mas...Da rua as meninas trazem suas comidinhas de plástico... Estas almondegas, salsichas, linguiças de plástico em embalagens de plástico... porque os bichinhos comem rações, a engorda acelerada, para o consumo e o lucro que não é de plástico... É um mundo que se afastou da natureza e sabe o tempo que leva a decomposição do plástico.(!)
A instalação desta realidade que ensina na velocidade um pensamento que "é melhor assim, mais prático e mais barato", também ensina outras sutilezas tais como torne tudo descartável. Não conserve. Não preserve. Viva o que parece mas não é. Afaste-se do autêntico. Do natural. E as mulheres e os homens estão cada vez mais cheios de botox parecendo caricatura de si mesmo, bonecos... Músculos e corpos de descartáveis...Jovialidade de plástico...A cabecinha de plástico, resolvida com o plástico.
O nosso Planeta não tem uma lata de lixo ou uma maquina digestora que transforme o plástico em vida. Muito pelo contrário. A vida no Planeta tem sido constantemente  afetada. Os pássaros marinhos com suas barrigas cheias de tampinhas plásticas, as ilhas gigantescas flutuantes de lixo plástico  nos oceanos... as praias de lixo...E se os peixes comem plastico e os pássaros comem peixes e os mamíferos comem pássaros... Estamos comendo plástico...Ah...e as idéias?
As idéias também sofrem desta síndrome da inutilidade descartável. Os modernos estão tatuados e tribais à diversas  e autenticas novas-tribos que desejam ser naturais, autênticas e globais.
Eu que sou da tribo Sem-Tattooooo fico alegre e penso, talvez esse seja o caminho de ida que não tem volta.Vão se aproximar da natureza e vão valorizar, preservar, concluir a sustentabilidade sem poluição, etc..
Então perguntei ao rapaz: Como é? Você não sabe distinguir o que é natural do que é sintético?
E ouvi...Natural? Sintético? Estou muito ocupado, não tenho tempo para buscar um dicionário ali na minha estante...deixa ver se encontro aqui na internet...no celular... Hum... está com sorte... Natural é um restaurante antigão, da década de oitenta.Como é que você pode imaginar que eu ia saber esta palavra? Eu só tenho 18 anos... Aliás como foi que você pintou de branco esta mecha no seu cabelo? Irado...
Hummm. Fiz um silêncio. Agradeci. Estava atrasada, sorri, me despedi e parti.
Estamos vivendo excesso de informação? Até quando?


Fernanda Correia Dias
in Natural e Sintéticos






 








sexta-feira, 13 de junho de 2014

Santo Antonio
Rosas cor de flor. Foto Fernanda Correia Dias

Para o Santo Antonio de minha mãe rosas cor de flor.
Para Regina, Stellinha, Lurdinha,  e a família Barreto linda, rosas cor de flor.
Para Lilia, Luiz Carlos, Kalil, Bia Lessa, rosas cor de flor.
Para o Boi Tatá...rosas cor de flor.
Para as cirandas...as rodas cantadas e as rezas...rosas cor de flor.
Procissão, o estandarte...fita, rosas cor de flor.
Minha mãe é devota de Santo Antonio.
Então também sou.
Fernanda Correia Dias
in Minha mãe é devota de Santo Antonio
Gaivota  
Gaivota de Búzios . Foto Fernanda Correia Dias

A gaivota tem uma proporção náutica. O corpo um casco, as asas levantadas, verticais, em posição de velas a proporção ideal para os armadores.
Armadores! Animem-se! Unam-se! Nosso país precisa de muitos barcos! Tantos quantos os jogadores de futebol! Vamos animem-se! Velejar é preciso!
As gaivotas podem inspirar jovens armadores.
Empresas! Acordem!
Fernanda Correia Dias
in Armadores e Gaivotas





quinta-feira, 12 de junho de 2014

Chuvinha na Lagoa
Chuvinha na Lagoa II . Foto Fernanda Correia Dias

Prefiro andar à pé, mas...Adoro andar de ônibus! De carro, no meu carro, no seu carro, no carro dele também.... De bonde....de trem... mas igual ao ônibus, não tem... Adoro andar de ônibus!
É uma dança de cadeiras! Entra um sai outro, fica em pé, senta ao meu lado... mas a paisagem de ônibus é uma beleza! Vou conferindo as janelas, as portas, as árvores, as flores, a arquitetura. Vou sentindo falta de umas casas que eu conhecia, de uns predinhos... Surpreendo-me com os prediões...Mas eu adoro andar de ônibus. Quando entrei sentei ao lado dela. Vi que estava chorando. Que usava óculos escuros. Que as lágrimas desciam  assim mesmo. Atendeu ao celular e falou: Não sei o que vou fazer. Não quero que ele saiba que eu sei que ele tirou todo o meu dinheiro que minha mãe me deu e que eu economizei naquela minha conta que deixei que ficasse conjunta com ele.
Não sei como vou evitar que ele entre no meu apartamento, porque ainda sou eu que pago o aluguel...Não sei o que faço com a roupa dele... Não quero mais morar naquele lugar.
Ele fez um escândalo. Os vizinhos olhavam para ele e ele fazia um teatro...Um te-a-tro...
A lágrima corria no rosto dela debaixo da armação pesada do óculos escuros.
Quando ela desligou olhou para mim. Vi os olhos dela me olhando atrás das lentes escuras. Perguntei qual o seu nome? Respondeu: Fernanda.
Segui: Fernanda, vá ao seu apartamento e troque a fechadura da porta. Coloque dentro de quantas malas e bolsas que forem necessárias tudo o que for dele e deixe na portaria, avisando ao porteiro para entregar caso ele apareça e te ligar se quiser fazer alguma pergunta.
Vá para a casa de um parente ou amigo e procure outro apartamento no Leblon. Peça transportadora para o dia que você tiver sua mudança embalada.
Se ele ligar atenda e diga que você resolveu desta forma e que deseja que ele seja muito feliz.
A vida continua, compreendeu? Trate de encontrar um novo amor e ame. A vida é para frente. Tenha mais cautela. Não transforme sua conta pessoal em conta conjunta. Foi assim que eu aprendi.
Qual o meu nome? Se eu disser você promete que vai acreditar?
Fernanda.
Trabalhe! Você vai recuperar. Boa sorte!
Fernanda Correia Dias
in Fernanda e Fernanda


quarta-feira, 11 de junho de 2014

Maria Mathilde e J. Carlos
Para a minha mãe Maria Mathilde . Foto Fernanda Correia Dias

As testemunhas do nascimento da minha mãe são João Carlos de Brito e Cunha e o tio dela, irmão do meu avô materno, Manuel de Araújo Correia Dias. O pai dela, Fernando Correia Dias, compareceu em 1924 com os dois amigos para registrar o nascimento da filha, a  Maria Mathilde.
 O João Carlos de Brito e Cunha é mais conhecido como J.Carlos ou melhor, J. Carlos testemunhou que Maria Mathilde era legítima filha de Fernando Correia Dias. Lindo encontro. Natural. Eram dois grandes artistas amigos e trabalhavam juntos. Minha mãe nasceu quando contavam 10 anos desde a chegada do seu pai ao Brasil e este ano de 2014 completam 100 anos que O Irrivalizável Fernando Correia Dias está no Brasil. Mamãe completará 90 anos em setembro. Recentemente na Escola Nacional de Belas Artes, dei um abraço publicamente e comovente no Oscar, neto do J. Carlos, quando declarei que nossos avós foram muito amigos! E foram! A certidão do nascimento dela agora atesta a amizade!

Fernanda Correia Dias
in Geografia Familiar
Maria Mathilde  e J. Carlos




Determinar
Folha e sombra no mar de Búzios . Foto Fernanda Correia Dias

Ouvi o comentário do especialista. São assuntos modernos : Duvidar, criticar e determinar.
Li na contracapa da revista velha: Eu coleciono amigos o mais é descartável.
Fui até ao mercado da esquina pensando... Minha turma na escola... qual? Tive tantas escolas... Cursos...Liceus... Mudanças. Mudanças. Sempre outra turma em outra escola....Assim cheguei na Faculdade que naquele ano adotou o sistema de créditos... e as turmas não eram turmas. Próximo semestre? Outro grupo! E as matriculas eram feitas solitariamente nos cursos que você escolhia... Novos amigos?
Não. Conhecidos, talvez. Nós até tentávamos, manter o grupo do semestre anterior, mas...As viagens, os noivados, casamentos também levavam os amigos para outros destinos.
As ruas foram esvaziando de comercio com a invenção dos shopping no Rio de Janeiro. O estacionamento seguro, prático, perto. (?) Os shoppings eram umas geladeiras com tudo dentro, atendimento rápido, sem sofá, sem áreas de convivência gratuitas, nem jardins, nem amigos. Só corredores...labirintos de corredores e corredores...As ruas ficaram desertas e perigosas. Cresceu a violência nas ruas e em torno dos shoppings. Só nas praias éramos felizes. Só nas praias convivíamos com os amigos e com os novos amigos. Da praia seguíamos para os cinemas, teatros, festas, clubs de dança, jantares e casas dos amigos ou amigos em casa. Um volume de pais separados ou buscando a separação criava um constrangimento nos amigos, nas visitas e muitos amigos desapareciam por falta de dinheiro para os programas ou pior, para as mensalidades das faculdade e livros.  A lei do divórcio para a segunda oportunidade aos desquitados e mais separações.
Os anos oitenta e noventa trouxeram as mortes prematuras sequentes à aids.
A internet e estudos e práticas dos grossos livros dos programas também isolaram os indivíduos das turmas, amigos e famílias, trancados em quartos, sentados em suas baias, cercadas de pratos, copos, roupas usadas e livros, cds, etc...
Será que as pessoas ainda sabem fazer amigos ou ensinar a fazer amigos? Será?
Duvidar, criticar, determinar é o que aconselha o especialista para resolver a ansiedade, este assunto moderno.
Colecionar amigos, o mais é descartável, está na contracapa da revista de um tempo em que não existia internet.
Certamente deve existir o meio do caminho, e talvez comece por criar turmas...nas escolas, nas faculdades, frequentar o comercio do bairro, dar bom-dia para os vizinhos, etc... Assuntos extremamente modernos.
Mas as lojas estão sumindo novamente das ruas, são sites com e-commerce e as compras chegam na porta de casa,  fazemos por telefones... Sobra tanto tempo para colecionar amigos. E será que alguém sabe o que é isso realmente e na prática?
Fernanda Correia Dias
in É um prazer estar em sua companhia 





segunda-feira, 9 de junho de 2014

Ancorando nas águas da Guanabara .Foto Fernanda Correia Dias

A maldade se aproveita da falta de memória.
Nas águas da Guanabara já nadaram golfinhos, símbolos do Estado da Guanabara e da cidade do Rio de Janeiro.
É lindo imaginar os golfinhos nadando nas águas da Guanabara como viu Gauguin em 1865. Voltarão?

Fernanda Correia Dias
in Nas águas da Guanabara

 Con cariño
Carmen D´Aucilio Tascheri Design Gaveteiro Fernanda
 .  Foto Fernanda Correia Dias
Carmem D´Aucilio Tascheri é muito minha amiga. Me chama: Princesa! Principessa!
Escuto sua voz me ensinando a falar espanhol puro e casto até hoje, a fazer a massa de macarrão e passar a massa na máquina até cortarmos e colocarmos para secar no varal...Carmen é cômica. Ela ri do que não dá certo. Ri da sua decepção e faz graça, conta piadas. Tem tremendo e poderoso humor. É impossível remar no bote de frente para ela, perdemos a força de tanto rir e não chegaremos na praia. Os rapazes corajosos nadando gritam: Bamos tortugas! E nós? Às gargalhadas e sem força dizemos entre nós uma para a outra, nos referindo à piadas: Pedalea.... Solta el freno...! E quase morremos de tanto rir ahogadas em nossas risas... Carmen se interessa por coisas mínimas. Me oferece uma pedrinha, uma miçanguinha, uma argolinha para os marionetes... (Eu fazia marionetes). E vejo Carmen sentada na primeira fila do auditório da PUC-RJ ouvindo atentamente minha apresentação de projeto de pré-tese para container de mate-limão. Ouço os aplausos e sua inteligencia Siciliana (Carmem nasceu na Sicília e viveu no Chile e Brasil ) na formulação das perguntas e  na mais absoluta espontaneidade quando declarou ao público: Vejo que toda a venda de mate-limão na praia está superada com este container da Fernanda. Foi aplaudidíssima. Em nossas casas ficaram as nossas pisadas com tamanquinhos Dr. Scholl subindo e descendo as inúmeras escaleras para levarmos as compras para cima ou descendo para o quebra-mar para caminharmos pela praia longamente em dias frios enroladas em saias de algodão cru e rendas brasileiras...e argolas finíssimas nas nossas orelhas... em silêncio com troca de olhares cúmplices sobre o céu, as ondas e os pássaros. Nós duas tínhamos algo de cinema mudo. Nas lojas, cercadas de desconhecidos que nos avisavam : sua mãe está ali....sua filha está lá... Éramos parecidas? Éramos. Mas a Carmem não era minha mãe. Nem parecida com minha mãe. Carmem era parecida física  e espiritualmente comigo. Me chamava de Princesa ou de Fernandita e os outros nos explicavam por que éramos muito parecidas:  Vocês são rápidas, brincalhonas, sorridentes, bailarinas e muito, muito simpáticas. .Era o que ouvíamos. Mas ela era muito especial. Carmem possuía lindas e artísticas mãos e admiráveis pés longos. Pegava nos meus cabelos e cortava e eu cortava os dela, Calçava as minhas sandálias e me fazia vestir todas as lindas roupas que criava feliz em seu atelier em casa. Também íamos ao outro atelier em frente ao autódromo da Barra para buscar as outras costuras e os artesanatos. Carmen era a primeira a me chamar por telefone e me avisar que já tinha comprado as revistas com as minhas campanhas publicitárias em páginas inteiras, duplas e triplas de moda publicadas e dizia: Lindo! Lindíssimo! Belo! Belíssimo! Me gusta muitíssimo!  Eu era diretora de criação e de arte das campanhas publicitárias de moda e ainda designer de coleções de  bolsas, carteiras, cintos e roupas! Eu criava, lay-outava e também fazia as artes-finais de  tudo. Pintávamos à óleo nos fins de semana naquelas tardes em que Roberto também queria aprender a técnica e pintava conosco e Antonio nos alegrava avisando que ganhou mais um campeonato de golf. O sol descia em silencio deixando tudo à nossa volta dourado. Mário guardava a ala de volar. Cinco horas. Hora d´el Té. Penha, a banqueteira terminava de enrolar os crepes com doce de leite, mas Carmem espetava no garfo tacos de pão francês que eu cortava e ela assava no lume do fogão com abacate e sal...Gostoooso! Penha também comia conosco rindo...pão queimado? Carmen adorava pão no fogo e preferia quando queimava, mas eu creio que era pretexto para ficar perto do fogo...Algo muito antigo alimentava sua alma! Foi Carmem que me ensinou a cantar Arroz con leche, e En alta mar havia um marinero... Carmen criou roupas para os espetáculos de ballet do corpo de baile do Chile, em Valparaíso. Criou as mais bonitas coleções de biquines em licra para o Rio de Janeiro dos anos 70 e 80, precursora foi tremendamente copiada, mas estava sempre criando mais beleza à sua volta. Chanel diria: A cópia é a consagração, ninguém copia o que não vende. Os comerciantes rasteirinhos, ávidos por comercio e lucros fáceis copiam.... São inesquecíveis os biquines com fitas de linhas de tear, búzios, conchinhas, argolas, miçangas e pérolas bordadas e na maioria bordados ou costurados pelas mãos dela. Carmen criava por amor. Criou o modelo de biquine brasileiro com o meu nome: Fernanda. Virou febre.  Nunca mais tive biquine igual. Lacinhos nas laterais, lenços triangulares nos seios, modelados por ela sobre os meus seios. Perfeitos. Hoje conhecido como Cortina - Asa Delta. Eu jogava frescobol com este biquine que não saia do lugar. Dávamos e segredávamos boas risadas quando sabíamos que algo não estava perfeito mas que os rapazes viam como genial e ouvíamos e sonhávamos com a elegância e amorosidade de Julio Iglesias cantando Por ella. Eram tempos de muito jazz, trompetes, Paco de Lucia, Quitaro, Abba, Herb Alpert, Dave Brobeck Quartet Take Five...et Lo mejor de tu vida...A veces tú, a veces yo. Pobre diablo. Amor amor amor. Pregúntale. .Carmen cantava Julio Iglesias alegre! A história da moda ao referir-se ao biquine brasileiro que não inscrever o nome da marca by Carmen ( e de sua creatore e creatrice Carmen D´Auxilio Tascheri ) como precursora e idealizadora estará faltando com a verdade da história do biquine brasileiro. Carmen perseguia a perfeição mas sem tormento. Passávamos nas costureiras para buscar as costuras e levar os cortes e pagamentos. O Rio de Janeiro era um jardim paradisíaco e a delicadeza dela era impressionante. Capaz de me trazer uma borboleta de palha ciclame e lilás com antenas pretas e montada num alfinete como broche dentro da mão fechada e ficar horas conversando comigo até me surpreender me estendendo a mão, abrindo e me dizendo que trouxe do Chile para mim e que só vi quando parecia pousada no meio da mão dela! Igual a ti, igual... La mamã apertava roupas dela para me dar de presente. Uso até hoje o shortinho amarelo de gorgurão da juventude dela e  a saia de lã marrom bordada...32 anos passados, clássicos e por isso, atualíssimos...As camisas de linho cru com gola polo e botões de madrepérola by Carmen e  pantalona com camisette de jersey estampada em coral com laranja que eram suas cores preferidas. Cai sobre meu corpo com todo o carinho que ela cortou e costurou no overlock e na colaretti para mim, na minha frente!Repito: Coral e laranja... um por do sol. Uso com  um cinto de couro com cinco medalhas de três centímetros de diâmetro de prata costuradas em couro, belíssimo e que me faz feliz por lembrar com que sonrisa ela me olhava desembrulhando o cinto do paquete! Naquele dia também ganhei uma pulseira feita por El Pappá Humberto. Uma pulseira feita de trança náutica, em cabo de nylon. Branca feito uma espuma. Sapore di mare by Carmen estava em Ipanema e os shortinhos modelados e cortados por Carmen eram perfeitos para a ginástica do Gaspar e aeróbica do Julio Veloso e os leggings também. Comprei vários e de várias cores. Os tops, os vestidinhos com pressão no ombro e listadinhos usei muito.. Um dia deixei bilhete em sua Pronte-entrega de Ipanema e não me contestó como de outras vezes... Passou mais uma semana e nada. Atendi o telefone e Humberto me perguntou se eu estava sentada...La mamã? No, no te creio... e até hoje sigo ouvindo Carmen. Hoje abri a gaveta do gaveteiro que ela criou para mim em pinho de riga e li no chão da gaveta com a letra dela:
Con cariño Carmen y Humberto

Fernanda Correia Dias
in La mamã? No, no te creio...
Para a memória de Carmen D´Auxilio Tascheri,
Para M, A, R e H Tascheri, para os netinhos 
de Carmen e para as minhas filhas Kenya e Gaya.


domingo, 8 de junho de 2014

Cozinho  
A casa delas. Desenho e foto de Fernanda Correia Dias

Cozinho intuitivamente. Sem receitas. Sem medidores. No olho. No alho. No gosto. Compondo o gosto por memória de paladar. Nunca invento nada. Tudo já existe dentro de mim. Não me atrevo a convidar ninguém. É sempre uma composição de vida em sabores que meu corpo está pedindo. Fico espantadíssima com a delícia do resultado. Hoje iscas de fígado finíssimas... Todos que eu conheço detestam e eu... Adoro. Acompanha: arroz integral, sal, alho, água e um canteiro cru de agrião, salsa, cebolinha, hortelã, misturadas e bem picados a ponto de não dar para reconhecer folha nenhuma, visualmente. Mas... estalam um jardim no peito e eu acrescento a beleza da forma e sabor de duas ou três folhas lindíssimas de coentro que deixo caídas no jardim do canteiro. É o outono dentro de casa e perto do mar.
Tirei do forno o papelote que fiz com fígado, cortei em tiras longilíneas e deitei dentro de um caldeirãozinho as tiras sobre cebolas cortadas, cobri com pedaços saborosos de tomate e uma olhada de água filtrada. Rodei  a colher para misturar, vi que o caldinho estava se formando , então desenhei com azeite uma espiral de cinco voltas. Tornei a rodar a colher e apaguei o fogo. Servi o fígado com cebolas, tomates e azeite ao lado do arroz integral e o canteiro no outono. Um frescor quentinho me abraçou. Finalizei com a sobremesa de duas fatias de queijo branco picadas em cubinhos dentro de uma pequenina e profunda terrina, cobertas por uvas vermelhas bem fervidas, desmanchadas e ainda perfumosíssimas e quentes. Sorvi às colheradas.
Todo o meu corpo fez uma reverência à sabedoria da minha memória e a minha memória agradeceu ao parente próximo de quem herdei esta competência e habilidade. Minhas células sorriem. Vou ouvir no Brasil o violonista clássico francês Thibault Cauvin. Você conhece?
Fernanda Correia Dias
in Talvez nós não sejamos nós, 
mas umas combinações de arquivos herdados...



sábado, 7 de junho de 2014

A casa delas
A casa delas . Foto Fernanda Correia Dias

Ontem voltaram para casa as meninas.
Andaram por outras praias, 
mergulharam outras águas, 
conheceram outras ilhas e tintas,
vieram vestidas de sabedorias,
todas sentidas, todas sentidas.
Estão mais sábias as meninas.
Reconhecem inteligencias imperceptíveis,
moderam ajustes finos,
deslocam gigantes e afastam as ervas daninhas, 
pintam sozinhas as paredes dos quartos,
portas e armários.
Cresceram por dentro e por fora, as meninas.
Impossível serem mais bonitas,
mais interessantes,
divertidas, trabalhadeiras,
 nas florestas de desconhecidos,
são as nossas, as delas, as suas, 
as minhas, meninas, 
entre os desenhos, o amor e os livros, 
quatro olhinhos negros, 
seguem os meus por dentro da casa,
e eu ainda te sinto, com seu olhar atento, 
nos protegendo e seu amor pulsando
 naquele coração da sala.

Fernanda Correia Dias
in Para as minhas filhas Kenya e Gaya e minha mãe, Maria Mathilde


Flores rosas e vermelhas sobre fundo verde
 em Búzios. Foto Fernanda Correia Dias

Te encontro nas formas mínimas da natureza, 
porque somos amigas de muito tempo,
você mãe  e eu filha, 
te ouvi por dentro.

Reconheço sua delicadeza,
e sinto bastante conforto quando lembro da sua voz,
e canto suas canções...ou os fados!
Eu, você, nós.

Ontem cantavas Barco Negro*
me dizendo que não cheguei a partir...
 que tudo ao seu redor 
diz que estou sempre contigo.

Búzios, barcos e estas areias tão finas,
vou lendo a paisagem, barcos cheios, barcos vazios...
O mar...
repetindo...
Nos barcos vazios, dentro do meu peito, estás sempre comigo.*

Fernanda Correia Dias
in Teu peito
* in Barco Negro . Amália Rodrigues
Sobre verde
Flores rosas e vermelhas sobre verde 
em Búzios . Foto Fernanda Correia Dias

Sobre verde poderíamos deixar um pensamento 
escrito com frases de flores como estas maravilhas 
que escrevem rosa e vermelho.
Escrevem pétalas, pistilos, cálices e sépalas...

Sobre verde poderíamos deixar a respiração das folhas.
Continuando as vidas em silencio como ficaram os antúrios na terra dos vasos do jardim.
Até o dia que aparecessem suas flores vermelhas ou rosas,
com a espontaneidade e a clara evidência daquelas flores do jasmim.

Sobre o verde escreveria para você a palavra verde em pensamento.
Escreveria olhos. Olhos verdes.
Escreveria talos. Lagos. Logos.
Tudo o que fosse fonte de vida e renascimento.
E te levaria para passear longamente nos campos de golf que tanto gosto.

Sobre o verde eu pensaria idéias lindas e ficaria por dentro 
desejando que os seus olhos percebessem
o esplendor de ser natural no tempo e ao vento. 

Fernanda Correia Dias
in Verde
Caderno de Viagem
Flores e folhas do Algarve. Caderno de Viagem . Portugal 
. 2000 Foto e aquarelas de Fernanda Correia Dias

Das arrogâncias

Sugiro que você olhe bem para esta página e veja o verde desta folhas e o lilás destas flores quando eu pintei e como ficou.
Assim também é conosco.
Vamos nos tornando sépias e secos.
Dispa-se das arrogâncias e encontre-se com a ternura.
Abrace esta sabedoria de paz no mundo. Uma paz que começa dentro do seu peito e se irradia.
Que pode entusiasmar outros e estes, mais.

Semeie amor.
Fernanda Correia Dias
in Caderno de Viagem







quinta-feira, 5 de junho de 2014

Ecologia  
Altíssimas Cicas Phoenix . O aroma! Foto Fernanda Correia Dias

Hoje dia da Ecologia.  Dia para pensar em Fernando Correia Dias, Cecília Meireles, Maria Mathilde, Paul Rivet, Glauco Velasquez, Eduardo Medina Ribas, Adelina Alambary, Luciano Gallet e Vasco Mariz!


terça-feira, 3 de junho de 2014

Passas 
Vilarino com passas do vovô e da mamãe . Foto Fernanda Correia Dias

Cruzar as pernas, andar de calças compridas, ser desquitada, conversar em outros idiomas, abraçar e beijar os filhos no colo, dirigir seu próprio carro, estudar sempre, matricular-se na faculdade (Direito!), aos 40 anos (!), usar biquine (duas peças!), ir a praia, não calçar luvas de vez em quando, almoçar em restaurantes sozinha, conversar com desconhecidos, usar óculos escuros...Acreditar na família, querer a família unida, promover os encontros, ser a melhor aluna, a representante da turma, passear com cinco crianças todos os dias das férias, ensinar a cantar, dançar, desenhar, esculpir, cozinhar, fazer os serviços domésticos, falar, ler e escrever em outros idiomas , ajudar a todos sempre, imediatamente e principalmente os próximos, e preferir a companhia dos homens e mulheres inteligentes, deixou muita gente de coração-deformado  falando até  hoje, não é mãe? Saudades e beijo!
Fernanda Correia Dias
in Passas?