domingo, 6 de abril de 2014

Wilker

Frutinhas de Embaúba. Foto Fernanda Correia Dias

Enquanto a fotografia mais precisa e focada reinou tecnicamente no seculo XX,
quase nenhum espaço teve a fotografia desfocada, considerada sempre como imperfeição.
Na adolescência, convidada para fotografar Ouro Preto e fazer o levantamento histórico/artístico de duas igrejas, tive a sorte de levar para o trabalho e viagem uma camera emprestada e com fungo na lente.
O resultado do meu trabalho de portas e janelas de Ouro Preto foi deslumbrante. Muito bem enquadradas as portas e janelas, com lindas cores, traziam tecnicamente a textura de pontilismo. Belo, bela. A obra faz parte hoje do acervo do Museu do Louvre, conforme a declaração da minha orientadora, a maravilhosa gravadora Tereza Miranda.
Igual a uma fotografia desfocada a voz personalíssima de Wilker, marcante como uma fotografia reunia do som da sala aquelas pequenas notas que exibem as grandes composições. Reunia concentradamente. Assim ele leu a minha redação no palco do Colégio Brasileiro de Almeida em Ipanema. Na platéia, Pepê, Menino do Rio, Jobim, Joãozinho Orleans, etc... Antes que ouvíssemos aquela voz lendo a minha redação, Wilker manteve-se de pé no palco, sozinho, em silencio, sem pedir silencio, até que na sala reinasse uma temperatura cristalina onde posou os timbres.
Ficou mais de uma hora esperando a plateia silenciar.
Depois daquele silencio, até hoje escuto trechos da minha redação que foram memorizados por ouvintes daquela ocasião que lembram da marcante musicalidade vocal de Wilker.
José, um beijo da Fernanda
Fernanda Correia Dias
in Das flores e dos frutos


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