terça-feira, 25 de março de 2014

Frutinhas de Embaúba

Frutinhas de Embaúba . Foto Fernanda Correia Dias

Compreendo, compreendo... É fácil compreender, porque ele fala inglês, ela fala francês e ele fala espanhol...Em que idioma querem que eu responda? Compreendo...compreendo, vou responder em italiano...Então dobrem à direita naquela rua, sigam em frente dez passos e logo à  esquerda vão encontrar o Hotel! Amanhã vamos voltar as sete da manhã, neste mesmo lugar, em frente a esta rua e se vocês vierem, vou cantar com vocês e ensinar a tocar outras musiquinhas que eu sei! E no dia seguinte estavam todos lá nos aguardando em ritmo de bossa nova, um cantinho e violão. Ela tocava  violão e cantava. Nós eramos felizes e sabíamos.
Quem não aprendeu a tocar as primeiras notas do violão com a minha mãe? É fácil, fácil e ela exibia as notas tirando e colocando os dedos em cima das cordas e sem medo entregava o violão dela na sua mão.
Gostou? Te emprestava e avisava: Amanhã você traz... e você?  Trazia! Capaz que você viesse tocando o seu próprio violão e trazendo o dela nas costas.
Mamãe entusiasmava as pessoas com seus exemplos.Minha-Mãe-Maria-Mathilde-Maravilhosa.
O Rio de Janeiro era minúsculo comparado ao volume de pessoas em 2014.
Vento no mar no meu rosto era fácil de cantar e ouvir "gosto de você" também.
Princesinhas do mar, era assim que os porteiros nos chamavam quando passávamos com a prancha de maderite na cabeça. Os turistas eram quase todos internacionais. Muitos. O ano inteiro. Raro era encontrar o turista nacional.Os turistas nacionais tinham tanta admiração pelo Rio de Janeiro, capital, que vinham e passavam meses nas casas dos amigos, até encontrarem o espaço para fixar as suas residencias em algum bairro carioca.
Os turistas internacionais eram sempre evidentes. Óculos escuros; bolsa tiracolo com o nome da empresa de aviação ou marítima que os trouxe; com bolsos de onde pulavam guias e mapas; peles claras ou escuras cobertas de cremes; chapéus, sapatos, roupas e acessórios divertidos.Maquiagens, mais mapas, charutos, perucas, baforadas, cigarros, perfumes e chicletes...E os cabelos quando eram naturais, muito armados em penteados ou absolutamente descabelados com expressões faciais de inocentes ou de verdadeiros conquistadores de sete continentes!
Americanos, ingleses, franceses, alemães, indianos, havaianos e japoneses nos anos 60, falavam com minha mãe e ela respondia. Ou ela espontaneamente tomava a iniciativa de protege-los do troco do comerciante equivocado, explicar a arte do mosaico das calçadas em pedrinhas, compartilhar o gosto de um sorvete, oferecer uma fruta ou uma garfada da comida cheirosa. A grande amiga, para sempre de todos fazia muitos e desconhecidos amigos, grandes e pequenos, jovens e velhos, que estavam sempre em dívida de gratidão...
E isto vem de família...ser de areia, ser de ilha.
Ter a delicada noção que o instante existe no efêmero e no eterno e estar inteira e disponível para viver a vida com amor e gratidão.
Fernanda Correia Dias
in Gratidão e as Dívidas de Gratidão!







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