domingo, 16 de fevereiro de 2014

Café

Café com estrelas . Foto Fernanda Correia Dias

Minha Avó materna colecionava numa vitrine em sua casa, xícaras de café. Inventivas, uns sonhos. Colecionava mas usava para servir o café em sua casa. Assim reunia as xícaras e cada xícara trazia uma lembrança, países, amigos, vários assuntos! Parou de colecionar quando o café não valia mais à pena ser comprado no Brasil. Muito misturado, contendo outros farelos, alterando o aroma e o paladar. Eu era pequena e na minha mesa do café da manhã, não tinha café. Bebíamos sucos de frutas. Bebíamos muito leite gelado, sem açúcar e sem achocolatados. Bebíamos o mate gelado. Mas não tomávamos café. Quando alguém perguntava pelo café, minha mãe respondia que não valia à pena. 
Os anos seguintes foram sempre assim. Eu só via o café na casa da minha avó paterna ou na casa da minha Tia Elvira. Quando visitávamos Vovó Ana ou Tia Elvira, elas diziam: _Vou trazer um cafezinho para vocês. Eu não tomava. Via os adultos tomando, mas não entendia. Com aquele calor, as pessoas gostam de beber café? Quente? Por quê? Minha mãe respondia:  _Ah... filhinha... uma gentileza....
No trabalho a mocinha da recepção insistia: _E a Senhora não bebe um copinho de água gelada? Estou oferecendo água porque eu sei que a Senhora não bebe café! Ah...Água gelada? Sim!  Delícia!
No meu outro trabalho, meu assistente me oferecia chá. Chá de tangerina, morninho nos dias de chuva, geladinho no calor... Uma gentileza... Mas café? Café não.
Eu só tomava café se precisasse me manter acordada trabalhando durante uma noite inteira para vencer os trabalhos extras.
Minhas filhas nasceram e na minha casa repeti a minha educação. Muito leite, muitos sucos, mas café...não.
Nas minhas empresas eu precisava de trinta braços que eu não tinha, e tome café para virar a noite...E mais café para ficar acordada no dia seguinte, trabalhando, trabalhando...e ser pontual com a entrega dos trabalhos perfeitos. Mas a saúde não gostou de tanto café e me disse vá para cama se recuperar. Passei a tomar pouquíssimo café... Saiba: O café vicia. 
Então estava desenhando...e a secretária me trazia um cafezinho...Eu estava estampando pilotos e a costureira trazia um cafezinho... Estava testando cores e o assistente trazia um cafezinho...Ah... já não era o café que eu bebia, era a gentileza.
Eu hoje sou tão minha amiga que eu agradeço todas as gentilezas e não bebo mais café.Voltei a beber água. Muita água.Água em abundancia. Frutas. Muitas frutas. Leite sem açúcar, sem achocolatado. Geladinho.
Tem sempre um dia que você encontra você para uma conversinha sincera sobre a sua consciência. Ela não pode responder sim, se você não deseja tomar café, baseada na gentileza, em nome da sociabilidade... Sua consciência pode dizer, Não, muito obrigada! Porque vai entrar no seu corpo aquilo que você não quer. Isso é um ajuste fino.Delicado, mas muito importante para todas as suas pequenas e grandes decisões acertadas. Para a sua saúde.
Minha mãe me diria: Se você não quer, seja firme e gentilmente diga: Não, muito obrigada! Seu corpo é onde vive a sua alma. O que afetar seu corpo, vai afetar a sua alma. O que afetar a sua alma, vai afetar seu corpo. Você filhinha, é uma estrela. Pode dizer sim, pode dizer não. Primeiro a saúde. Cuide-se bem.
Fernanda Correia Dias
in Café com estrelas






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