segunda-feira, 29 de abril de 2013

Maracujás. Fernanda Correia Dias. Fotógrafa

Assim, na luz do dia resplandescente,
crescem e estão vivos perfumados os maracujás pendurados 
verdes, pesados e suculentos de si mesmos
com todos os recheios de sementes de verdades.

Fernanda Correia Dias
in Conversas de Beija-flores e obviedades.



domingo, 28 de abril de 2013

Chaleira. Fernanda Correia Dias . Fotógrafa

Minha mãe diz; Vem cá minha chaleira...
Sento ao lado dela. Mais perto do que já estava sentada e ela me faz festinhas e me pergunta se eu sei que ela me ama.
Respondo que sim. Que sei sim. Ganho beijinhos dela que começam na ponta do meu dedinho e sobem pelo meu braço até meu rosto! Você já ganhou beijinhos assim?
Minhas filhas herdaram essa brincadeira dela e fazem comigo e eu faço com elas...
Mas não dizem para mim: Vem cá minha chaleira...!
Hoje cozinhando, percebi o trabalho da chaleira... Acompanha  a cocção dos alimentos...
Séria... A Chaleira faz o trabalho correto.Próxima. A chaleira está ali, sobre o fogão, acompanhando as outras caçarolas , panelinhas, fritadeiras e seus reboliços.
Minha mãe diz: Vem cá minha chaleira...
Sento ao lado dela. Mais perto do que já estava sentada e ela me faz festinhas e me pergunta se eu sei que ela me ama.
Respondo que sim.

Fernanda Correia Dias
in Cocções, caçarolas, panelinhas, fritadeiras e seus reboliços.









Garças . Fernanda Correia Dias. Fotógrafa

Lá no fundo as Garças! Aquelas que conviviam conosco nos parques e jardins. Onde apareciam Tucanos, Matraquinhas, Papagainhos...Ah...Faisões...Sabiás...Bem-te-vís...
As Garças! Os Tucanos! As Matraquinhas e Papagainhos...Voltem! Venham para os parques e jardins! Voltem para viver pertinho e sobrevoar os parques e jardins do Rio de Janeiro! Quais são as suas árvores? As suas comidinhas preferidas? Voltem! Para as crianças quietinhas observarem seus pezinhos... Seus olhinhos, penas, asas e lindos voos sem gaiolas e grades! Venham Garças....As crianças juntas ou isoladas, precisam observar os animais silvestres...Aprender a amar os animais silvestres para aprender a conviver em harmonia com as diferenças... Somos todos únicos e muito diferentes.Somos todos muito especiais. E a observação é o exercício que deve ser cultivado em todas as idades. Venham Garças, tragam a vitória das suas penas alvas, a delicadeza de seus movimentos em harmonia...O arco de suas asas... Venham conversar com as crianças para elas ouvirem seus silêncios e vozes nos parques e jardins...

Fernanda Correia Dias
in Lições de Lagartixas

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Lua com nuvens . Fernanda Correia Dias . Fotografia

Filomena vivia no armariozinho da cozinha. Era pequenina, moreninha, uma joia.
Quando cantávamos na cozinha e abríamos a portinha, ela pulava em cima ou corria para o fundo...
Quando ela caía no chão, Mamãe falava... Lá vai a Filomena... Ah... que pena, eu complementava e ela me confortava: Não fica triste não... Ela volta! Amanhã quando você abrir o armário ela vai aparecer de novo!
É espertinha esta lagartixa! Vai crescer...  Ficar branca e num vestido justo de seda fosca! Vai ser Mãe... Eu adoro lagartixas! E eu? Lembra aquele monte que se reunia nas paredes da varanda do Cosme Velho? Demos nomes para todas elas... Mas você sempre chama lagartixa de Filomena...E eu aprendi e também chamo... Quem te ensinou a chamar lagartixa de Filomena? Minha Mãe, sua Avó Cecília!
Anos e anos aquelas lagartixas por ali...E nós em volta delas. Observando aqueles gestos tão rápidos, as mãozinhas abertinhas, aquela transparência dos corpinhos sobre as brancas paredes...
O teto e as paredes...Dez... Quinze...Naquele dia contamos vinte e duas...
Nossas visitas nunca nos compreenderam que preferíssemos estar sentadas na varanda entre os arcos das colunas a ir para a sala... A maravilha estava na Varanda!...Porque a Varanda tinha o espetáculo da tarde... Os voos dos sanhaços tão pertinho do nossos olhos. As copas das árvores com suas flores invisíveis. As estrelas do jasmim vindo nos espiar...Aquele bouquet de ascese em cicas phoenixs e flores de mangueiras.
Mas Filomena ficou enorme! E agora caía no chão quando eu abria a portinha do armário fazia até barulho!
Hoje, quando eu descia a escada para sair de casa, Filomena passou por mim correndo! Passou a minha frente. Pensei que ela fosse me parar para me avisar algum acontecimento.. Tanta pressa?
Filomena passou por mim descendo a escada e lá em baixo, esqueceu alguma coisa e voltou!
Voltou enquanto eu perguntava: Filomena! Onde você vai correndo?Como vai voltar para o armário tão gorda?
Nem deu para ver onde ela estava. Me senti ridícula na frente do porteiro, falando com Filomena?
A noite entrava na varanda do Cosme Velho e cobria e descobria as luas de nuvens... Era quando eu mais gostava. A Música passeando no escuro. Noite com nuvem iluminada por lua...Abri o armário pensando nisso e Filomena voltou a ser uma lagartixa pequenininha e moreninha... Uma joia...Pode ser filhote... Mas fiquei tão feliz que sozinha dei saltos de alegria, na cozinha. 
Filomena! Fiz uma tradução de Filomena assim: Filha Minha...
Mas é a amiga da Música...E nesta família todos somos amigos da Música...
"Ela volta! Amanhã quando você abrir o armário ela vai aparecer de novo!"
Filomena significa... Muito Amada!
Fernanda Correia Dias
in Lições de Lagartixa
Para a Mamãe em noite de lua e nuvens.




Fernanda Correia Dias . Fotógrafa . Céu naturalmente estampado

Dependendo do lugar em que você está o observado te observa.
Eu me transporto para o observado e observo.
Experimento ser um ramo, um céu, uma cor...
Uma pessoa que não conheço,
um amigo,
uma rua.
Esse transporte enche meu peito de poderoso conhecimento.


Fernanda Correia Dias
Para as minhas filhas





quarta-feira, 3 de abril de 2013

Fernanda Correia Dias. Fotógrafa . Manacá com mais de cinquenta anos

Lá em cima daquele morro... tem um pé de Manacá...
Vou fazer uma coroa para te enfeitar...

Uma coroa de perfume! E como gostamos de cantar dentro do perfume!

Fernanda Correia Dias
in Geografia familiar

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Fernanda Correia Dias . Fotógrafa

Primeiro de abril

E se eu te disser que a folha que está deitada no centro da tampa de metal eu vi descer?
Você vai me dizer: Ah sei... Primeiro de Abril...! ?
Não! É verdade. Eu vi descer. 
Vi e fotografei quando ela deitou no centro da tampa.
Estou na janela e ela está lá embaixo.
Meu olhar acompanhou o movimento da folha-lança-certeira-ao-alvo...Fotografei.
Se não tivesse fotografado, eu estaria sempre vendo esta imagem que agora você vê porque eu fotografei e trouxe para cá.
Então?
 Por que é importante?
A casualidade tem uma beleza magnífica.

Fernanda Correia Dias
In Perpétuo