sábado, 9 de fevereiro de 2013

Fernanda Correia Dias . Fotógrafa . Jasmim manga dando flor em casa

Ninguém estranha que num galho de jasmim floresçam os indivíduos daquela espécie exibindo flores com tamanhos, formas e perfumes praticamente idênticas. Seria mesmo surpreendente uma das flores de um pé de jasmim-manga, ser um antúrio, não?
Hoje ninguém estranha que a cantora cante exatamente como a sua mãe e o cantor cante como o seu pai, ou que a pintora pinte como o sua avó e que o neto toque piano como seu avô.
Tamanha obviedade, uma autentica ressurreição, não é mais vista ao menos no Rio de Janeiro, como "imitação", "falta de imaginação","vivendo na sombra dos méritos do pai, mãe, avô,avó, tio, tia..." É?
Espero que não. Minha mãe, Maria Mathilde escrevia sua poesia diariamente e onde estivesse. Filha de minha avó-poeta-pedagoga Cecília Meireles, minha mãe escrevia sua poesia por seus próprios motivos. Escrevia porque escrevia, porque precisava escrever. Era vital. Era urgente. No guardanapo, no embrulho, no lencinho. Fez isso por toda a vida e eu assisti. Um dia, decidiu aos quarenta anos ingressar na Faculdade Nacional de Direito, fez vestibular, passou, foi representante de turma, aluna exemplar,se formou e em seguida se especializou em Direito Autoral, matéria desconhecidíssma hoje e na época então, um dinossauro jurássico.
Então, eu com uns oito anos deixava sozinha e à pé a Escola de Danças do Estado da Guanabara, atravessava o Campo de Santana e encontrava a minha mãe dentro da sala de aula da Faculdade.
Para me distrair ela me dava os poemas que tinha escrito nos intervalos e eu lia.
Li sempre todos os seus poemas. Eram e são ótimos.
No começo dos anos oitenta a poesia contemporânea aplaudida espelhava concretos vazios, tão grandes que as letras esqueléticas e  palavras escolhidas passavam a uma importância esvaziada e ampliada. Uma lente do poeta chegava a cada letra como uma lanterna nervosa para reconhecer o cadáver poético... Eu via aquela luz sem filosofia...Sem estrela, perdida, varrendo corpo-seco e fixando vácuos, enquanto a poesia da minha mãe transbordava vida. Assoprava, assoviava, mergulhava...
Um dia reuni uns meses de sua poesia, para uma edição em livro. Fiz o projeto as ilustrações e a boneca do livro. Poderia ser lido de qualquer lado, de frente para trás e de trás para a frente...E o título era Amor de ausências...Mathilde Correia Dias.O livro foi impresso e o texto da orelha do livro nos lembra as três gerações reunidas,
Cecília, Mathilde e eu, Fernanda ou Mãe, filha e neta.
Filho de peixe, peixinho é. É.
Eu também escrevo poesia, em papel de embrulho, saco plástico, guardanapo, blog, livro...lençol, camisa, calcinha, etc... etc...

Fernanda Correia Dias
ln Dando flor em casa










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