terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Fernanda Correia Dias . Fotógrafa . Céu I

Pedro!, minha mãe clamava ...Pedro minha mãe mudava o tom...Pedrooooo ela repetia em outra musicalidade... Pedro...Seu nome é Pe-drô.
Pedro o pequenino papagaio olhava para ela com o olho esquerdo, depois com o olho direito, balançava o corpo e a cabeça para um lado e para o outro e sapateando fazia graça ia busca-la onde ela estivesse...
Desabotoava a corrente da plataforma, descia e entrava pela casa arrastando a corrente que ficara presa ao pezinho, entrava, localizava a minha mãe, subia pelo corpo dela até alcançar o ombro e iniciava a retirada de todos os grampinhos que estavam no cabelo dela. Retirava um de cada vez e dava um de cada vez  para ela segurar...
Pedro!, minha mãe clamava...Pedro, minha mãe mudava o tom...Pedroooo, ela repetia em outra musicalidade e ele olhava com o olho esquerdo, depois com o olho direito, balançava o corpo e a cabeça para um lado e para o outro e sapateava muito bonitinho...
Minha mãe ria! Minha mãe ria assim: Ah Ha,há, ha,ha,ha,haaaaa Yiouuhuhuhuhuhuhu...Ah Há, h á , h a , h a , ha , haaaaa...e colocava o dedinho em cima da cabecinha dele e ia fazendo uma festinha e a cabecinha do papagaínho ia caindo em cima da barriguinha dele porque ele ficava todo molinho....

Um dia precisava encontrar minha mãe, antes que ela saísse de casa para o Forum.
Chamei, ela não respondeu. Chamei novamente, ela não respondeu. Desci e ouvi minha mãe rindo na varanda... Então fui para a copa e tomei um delicioso copo de leite cru.
Voltei para a varanda e abri a porta de vidro e não vi a minha mãe, mas quando fechei ouvi minha mãe rindo...
Tomei banho, me vesti, peguei meus livros, réguas, tintas e papéis e fui atrás da minha mãe.Precisava do dinheiro que ela me prometera para pagar os papéis dos trabalhos da faculdade que estavam reservados na papelaria...Minha mãe não estava em lugar nenhum. No entanto eu ouvia a risada dela. Ria muito. Onde estava?
Era um tempo em que não existia telefone celular... Um tempo que não existia cartão de débito... E cartão de crédito só o pai usava...Um tempo em que colocávamos gasolina no carro e o frentista recebia o mesmo valor de gorjeta, tão barata era a gasolina...Mas os bons livros, tintas e  papéis de desenho eram importados e caros...
Subo desço, procuro não acho e a risada dela na varanda ecoando pela casa...
Então sentei na varanda esperando que ela aparecesse... e ouvi a risada dela bem alto e vi e ouvi o papagainho realizando aquela fantástica proeza...Papagaio rindo!
Ele ainda não tinha aprendido a falar PÊ-DÊ-RÔ...como mais tarde passou a falar, mas aprendeu a rir idêntico à minha mãe... antes de falar...Como? Papagaio rindo?
É papagaio rindo...Papagaio dormindo com o gato persa e a pastora alemã... os três juntinhos...Todos os dias...Pode?
Pode... Mas esta também é outra história...
Fernanda Correia Dias
in Museu do Índio


2 comentários:

  1. Seu blog é óptimo,gostei dou-lhe meus parabéns, eu acredito que os animais podem viver juntos sem causar danos, assim como o homem também podem viver em comunhão sem causar danos ao próximo.
    Com votos de grandes vitórias.
    PS. Se desejar fazer parte dos meus amigos virtuais, faça-o de forma a que possa encontrar seu blog para segui-lo também.
    Sou António Batalha.

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  2. Antonio,
    O gatinho da minha mãe está dormindo no meu colo enquanto escrevo. Tem no rosto um sorrizinho e os olhinhos fechados. Desejo que o sorrizinho dele te alcance porque é a presença da Beleza e da Felicidade.
    Abraço da Fernanda


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