quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Fernanda Correia Dias. Fotógrafa . Cecília em 7 de Novembro

Abri uma caixa, e fui reconhecendo uma por uma. 
As borboletas empilhadas, como um livro de paetès...
Eu mesma comprei, já nem sabia onde estavam,  mas nós escolhemos juntas uma à uma.
Seus dedos levantavam os corpos, as asas... e murmuravas... Essa... 
com voz de 7 anos...
Eu lembro... O tempo. A loja. A Rua...
7 de novembro... Ah... Novembro...
O seis, o sete, o nove, o dez, o onze, o dezenove...o trinta...
E vem  Dezembro...
O vinte e quatro, os vinte e cincos, o trinta e o trinta e um...
E o que dizer de setembro? o sete... o quinze... o dezenove...o vinte e cinco...o vinte e oito...
e aquela sua brincadeira: "um no onze, outra no vinte e dois e você não nasceu no trinta e três
porque ainda não inventaram tantos dias num mês! Bem que eu tentei!
Vô materno Fernando comemorando cento e vinte e há quem pense que é possível qualquer esquecimento...
Sorry, impossível. É o pai da minha mãe. É meu nome e está dentro do meu sobrenome. É o meu Avô. Avô materno, Avô da minha irmã.... Meu nome é a homenagem da minha mãe ao pai...e eu fiz tudo para ser diferente...de mim? dele?... bailarina, cantora, compositora, desenhista industrial, publicitária, comunicadora visual, pesquisadora, ilustradora, projetista, estilista, artista plástica, fotógrafa, cineasta, atriz, empresária, poeta, escritora, roteirista, professora, mãe ...fiz?? Fiz. Fiz assim: Fui eu mesma. Fui o que tinha que ser, sendo.
Assino Fernanda Correia Dias...cinquenta e cinco anos...Dá para esquecer? Quem? E a minha caligrafia?
Nasci com ela, nem conhecia a dele... pensava que era a do meu pai... mas o meu pai é muito parecido com ele... foi por isso que a minha mãe gostou do meu pai...moreno, pensando, desenhando... tira-linhas, nanquim...matematicando...serviu para sublinhar a morenaria de Fernando, de Cecília-Pena-de-Amor!
Ah... as penas e as penas...as que contornam os sonhos com tintas as que contornam as tintas com sonhos...
Nem te conto o que sei de Fernando, Helio, Heitor...Grillo que rimam com amor... sigilo... Tenho que escrever livro. Dar aulas... Ensinar e ensinar sobre epistemes...vocares...entre-linhas, nascimentos de sínteses...Inaugurar entusiasmados e talentosos centros de referencias...
Vô Fernando está comemorando irrivalizáveis120 anos... natural da Penajóia, margens do Rio D´Ouro, próxima à Lamego, Distrito de Viseu, Norte de Portugal. E das vinhas...
Esteve desde o nascimento por vinte e um anos em Portugal (Penajóia/ Lamego/ Porto/ Coimbra/ Lisboa) e por vinte e dois anos no Rio de Janeiro, Brasil. Nasci vinte e um anos após seu falecimento. Cometeu o suicídio.
Valem as verdades, bem superiores às vaidades e às saias justas de cada um.
Eu, a neta. Minha irmã... a neta.
Abri uma caixa e fui reconhecendo uma por uma...
Tão lindas, delicadas,  imperfeitas e inimagináveis, verdadeiras vozes humanas, desdobrando avós, como  páginas borboletas costuradas com antenas de vidrilhos ou portas para atravessar geometrias...
Essa.
(Dirá novamente a minha Mãe-Mathilde-Mãethilde.)
Vô...Bons Dias.
in O IRRIVALIZÁVEL FERNANDO CORREIA DIAS
de Fernanda Correia Dias, a neta.




Um comentário:

  1. Quantas lindas lembranças!
    Você foi ver a exposição da arte dele em Lamego? Estive em Portugal em meados de outubro, ainda não tinha sido aberta a exposição... Seria tão bom se a trouxessem ao Brasil..! Sabe se a trarão ao Rio? Beijo

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