domingo, 26 de agosto de 2012


Fernanda Correia Dias. Fotógrafa. 
Sandálias de pérolas que eu fiz para a minha mãe Maria Mathilde.

A Bailarina e o Astronauta

Dia 20 de julho de 1969 e eu estava sentada no sofá vendo televisão com a minha irmã.
Minha mãe telefonou da rua e eu me levantei para atender ao trim-trim-trim....
Minha mãe me disse ao telefone:
Filhinha, ligue a televisão! O astronauta vai pisar na lua!
É... estamos vendo isso...respondi enquanto coloquei a minha perna direita sobre o armário de louças onde estava o aparelho telefônico e a televisão . Um aparelho em cada  extremidade.
Eu fazia demi-pliê com a perna esquerda, enquanto a perna direita estava sobre o móvel em andeór...
Meu pé descalço e suado, colou no tampo... o móvel estava vazio... eu ouvia o locutor traduzindo o que Neil Armstrong dizia: Este é um pequeno passo para um homem e um salto gigantesco  para a humanidade...  enquanto minha mãe falava: Que lindo! Que lindo....Fernandinha...Na lua...filhinha... o homem está pisando na lua... Olha... A bandeira...é incrível...e então resolvi tirar o pé, o móvel vazio e longo torceu e a televisão enorme foi direto ao chão!
Saiu uma fumaceira imensa e um barulho aterrorizante. Ficou uma caixa oca e muitos vidros no chão. Pedi para a minha mãe esperar um pouquinho, coloquei tudo dentro da caixa e a caixa sobre o móvel, e falei para a minha mãe... Este barulho? Este barulho é porque a televisão caiu no chão e quebrou toda! Andei até lá pisando entre os cacos e coloquei tudo para dentro daquela nave...Tirei a tomada da parede...Que nave Fernandinha? A Apolo onze...
A mamãe perguntou:  Você quebrou a televisão? ??Quebrei... meu pé colou no móvel...a televisão aterrizou no chão na hora que  o astronauta estava dando o salto da humanidade foi quando eu tirei meu pé do móvel... Saiu fogo? Não... saiu uma luz e uma fumaçada... mas já tirei o fio da parede...e minha mãe me acalmando..Hum...E vocês viram o astronauta pisando na lua?
Vimos... Mas, agora não podemos mais ver nada porque a televisão é uma caixa vazia...e não tem nada dentro! Nem astronauta, nem lua...
Você se machucou? Não...  ...
Se vocês não se machucaram, sentem no sofá, não pisem no chão, fiquem quietinhas, que nós já estamos chegando...
Olhei para a minha irmã que estava no sofá e ela começou a rir...de pânico...e me perguntar... E agora? E agora?
Respondi: A mamãe falou para ficarmos sentadas no sofá e não pisarmos no chão. O homem pisou na lua e a gente não pode pisar no chão... Quando a mamãe chegou com o papai,  encontrou eu e a minha irmã sentadas no sofá e perplexas conversando sobre a inexistência de qualquer vida dentro daquela caixa...Que estranho! Nem gato Felix...Nem o Comandante da Apolo 11, Neil Armstrong...nem a bandeira...nem a lua...
Fernanda Correia Dias
in Geografia familiar


4 comentários:

  1. História mágica! Linda demais...!

    Outro beijo ♥

    ResponderExcluir
  2. Telma,
    Obrigada!
    As minhas histórias são a versão mais realista que consigo trazer de mim.Um sincericídio.
    Quando relatadas por escrito,dão a aparência de um poço sem fundo de pura ficção. Mas eu não sou uma ficcionista.A vida... Ah... a vida! Sou a testemunha. Se eu mesma não tivesse vivido ou vivendo, eu mesma não acreditaria.
    Beijo!
    Fernandinha

    ResponderExcluir
  3. Fernandinha :e incrivel o que aconteceu no momento exato em que o homem pisou na lua!Seus pes de bailarina quiseram dancar para mostrar como estavam felizes com esse acontecimento mas a tv nao podia colaborar e se foi ao chao e com ela toda a descricao do homem na lua mas voce jamais esqueceu nem esquecera esses momentos tao belos e dramaticos pq nem voce nem sua irma nao podiam mais pisar no chao !e tiveram que aguardar a chegada dos pais refletindo sobre o que era agora essa caixa vazia Bjos

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Marta maravilhosa, isso mesmo, foi um grande reflexão sobre a virtualidade das realidades e os vazios! Voz da mamãe por telefone, homem na lua por tv e a realidade da caixa vazia e muito vidro no chão, e eu e minha irmã no sofá com 9 e 8 anos, nos questionando sobre o vazio e os personagens. A bailarina que eu sou, sempre me salva e saúda a bailarina divina, que você é!!! Beijo, Marta querida!

      Excluir