domingo, 11 de dezembro de 2011

Fernanda Correia Dias . Chez Nous . Histórias de Natal.


Hoje é dia 11 de Dezembro e estamos a 13 dias do dia 24 de Dezembro de 2011.
Caminhando e conversando com Kenya, fui interrompida por um menino que me perguntou se eu queria comprar bananadas que ele estava vendendo.
Respondi que eu não podia porque não tinha dinheiro. Perguntei se ele poderia me emprestar dinheiro.
Ele me perguntou: Quanto?
Perguntei: Quanto você tem?
Ele tirou das costas um saco plástico que levava como mochila (cada bracinho enfiado numa alça) e abriu.
Pegou uma nota de dois Reais e me olhou trazendo no rosto a sombrancelha como uma interrogação. Depois largou os dois Reais e perguntou se eu queria levar dez Reais.
Respondi que sim.
Ele me entregou e eu perguntei: Quando te devolvo?
Ele respondeu convicto: Segunda-feira.
Respondi: Combinado! Recebi os dez Reais, dobrei a nota, perguntei quantos anos ele tinha, sete, virei de costas e fui andando devagarinho enquanto minha filha dizia: Ah... que lindo! Ele está feliz de te emprestar dez Reais...Está pensando que você vai levar mesmo...Mamãe que lindo... Está feliz...!
Claro que eu não vou levar! Estou com a idade dele e brincando com ele...
Olhei para trás, chamei o menino e perguntei o nome dele: Alexandre.
Fui na direção dele e entreguei o dinheiro dele dizendo: Olha, você foi muito bom comigo, muito bom mesmo, mas a minha filha falou que ela tem dez Reais e que vai me emprestar... Então estou te devolvendo. Muito agradecida!
Ele tirou a mochila das costas e guardou o dinheiro, meio decepcionado.
Não queria deixa-lo sozinho nem decepcionado depois da brincadeira....Perguntei: Onde está a sua mãe?
Respondeu: Ali!
A mãe estava sentada no chão, com um pano aberto repleto de sacos de balas e vendendo mais balas para umas senhoras...Eu não tinha visto...
Aproximei-me e disse à mãe de Alexandre: Você tem um filho maravilhoso.Muito especial mesmo.Parabéns!
Sem dentes e ainda muito jovem, a mãe sorriu feliz e me respondeu: Obrigada! Ele é mesmo!
Segui com minha filha, explicando para ela: Está vendo? Nem todos os Alexandres são iguais.
Esta sensibilidade que este menino tem, é rara.
Só as pessoas que já sofreram a falta de não ter dez Reais quando se está precisando, são capazes de oferecer, porque compreendem imediatamente.
Se eu parasse alguém para pedir dez Reais, talvez a maioria me dissesse que não...que não tem dinheiro não...
Não é assim que a maioria faz, quando alguém que precisa pede?
Vê a diferença?
Lembra daquele dia que eu estava com dor de cabeça e parei o carro no sinal vermelho do transito e disse ao menino que eu não sabia o que fazer com a minha dor de cabeça quando ele me trouxe balas para comprar?
Lembra que ele me disse: A senhora pode tomar um analgésico... a dor vai passar! Que ele já tinha sentido dor de cabeça... Que já tinha comprado remédio para a mãe dele... que o remédio elimina a dor...
Lembra que eu disse que eu estava sem dinheiro? (E estava mesmo!)
Lembra que ele imediatamente meteu a mão no bolso e me entregou pela janela do carro três Reais e me falou o nome do remédio, me apontando a farmácia?
Lembra que perguntei como faria para devolver o dinheiro? Lembra que ele respondeu que não precisava devolver não...?
Lembra?
Lembra que quando eu devolvi antes que o sinal abrisse, dizendo muito agradecida e ele insistiu para que eu levasse o dinheiro?
Lembra que eu devolvi dizendo que tinha medo de não encontrá-lo mais...?
Lembra de como eu, você, sua irmã e a Vovó Mathilde ficamos co-mo-vi-das?
Não é fantástico?
Pois é... O mundo das pessoas sensíveis é outro. Elas sabem que a palavra diz, que a palavra está cheia de verdade, que a palavra tem sentido. Que a palavra tem valor.



in Histórias de Natal


Fernanda Correia Dias

2 comentários:

  1. Que história mais linda e comovente! Que a vida lhe seja risonha e rara, como ele, anjo que é. Beijo grande, querida! ♥♡♥

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  2. Telma!
    Como está você? Quanto tempo!
    Beijo grande!
    Fernandinha

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