sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Fernanda Correia Dias . Histórias de Natal .

Naquela manhã, recebi das mãos da minha filha Gaya um papel e uma caneta para que eu escrevesse uma cartinha...Então ela ditou: "Mummy, escreve aí, querido PapaiOnel, eu me comportei muito bem e quero um violino. Beijo Gaya."
Eu escrevi... perguntando... Um vi-o-li-noooo?
É Mommy. Ela estava convicta.
Está bem... e como eu tinha na sala uma árvore de Natal com muitos presentinhos para todos e estávamos a véspera da Noite de Natal... eu achei que devia dar atenção ao pedido.
Comentei com minha mãe, e ela me respondeu: Ela é tão pequenina! Um Violino? Sua Avó Cecília Meireles tocava e tinha um violino que ela deu para a minha irmã...Que engraçado! Onde andará o violino da sua Avó?
Mamãe, não sei...Mas a Gaya pediu um violino...Se ela pediu...é porque está "precisando".
Então a loja de vestidos trouxe dois vestidos embrulhados e a Gaya recebeu as caixas retangulares, chamando a irmã e avisando: Kenya! PapaiOnel trouxe o meu violino!
A irmã olhou para a caixa, pegou, balançou perto do ouvido e disse: Isso aqui não é um violino não... deve ser roupa... A Gaya olhou para mim e pedindo que eu confirmasse que era O Violino, me perguntou: Mommy, isso aqui é o meu violino que eu pedi ao PapaiOnel, não é? Eu respondi que achava que não era não...E ela reagiu com muita dor, chorando muito até ficar gaga e com as faces muito vermelhas...Era o dia 24 de dezembro, dia do aniversário dela e eu disse à ela que Papai Noel não ia esquecer ela não! Que ia trazer o pedido dela.Estávamos por volta das 15hs... Dei tchau para elas e parti para a Rua da Carioca atrás do violino.
Na primeira loja ouvi: Para que idade? Quatro anos??? Mas será muito difícil encontrar... é melhor a Senhora levar o grande...a Senhora não vai encontrar não...Não esmoreci. Fui para a próxima e ouvi: Não... Não temos violino para esta idade... violino assim, só vende de 15 em 15 anos! Muito difícil alguém ter para vender...
Na próxima loja e nas subsequentes, o mesmo, a mesma resposta e todos me seduzindo a levar um violino quase do tamanho dela. Então entrei numa loja que tinha numa vitrine um violininho de verdade. A loja estava lotada e desciam guitarras e baterias pendurada numa corda, por um buraco no teto da loja...disse ao vendedor que eu queria aquele violino da vitrine e ele me explicou que todos aqueles instrumentos estavam indisponíveis para a venda.Eram instrumentos históricos... E me advertiu que seria muito difícil adquirir, mas gritou na direção do "buraco" no teto da loja: _Um violino para criança de quatro anos!
Todos os cliente olharam para mim, a última porta da loja fechou às minhas costas e todos queriam conhecer a criança. Recebi diversos cartões de maestros, músicos...enquanto olhava hipnotizada para o "buraco" no teto.
Então, quando o silêncio se fez na loja e vi que eu não era a única o olhar para o "buraco" no teto, desceu numa corda grossa, amarrado pelo alça, um violino para criança de quatro anos, enquanto eu chorava e ouvia um "Ooooohhhhhhhh".
Recebi a nota de cobrança do instrumento, paguei, um músico pediu para afinar o violino e colocou de presente dentro da caixa um "breu" depois que passou nas cerdas do arco para afinar... e ele mesmo fez questão de embalar o violino em papel vermelho, dando a forma da cintura do violino na embalagem.
Agradeci chorando, fui para a porta da loja e um responsável abriu uma pequena sobre-porta, por onde saí, fiz sinal para um taxi, entrei e disse ao motorista: Eu consegui... ! e desmoronei chorando de felicidade!
Minha mãe colocou na árvore de Natal, a Gaya descobriu o violino, pediu para abrir e passou a noite in-tei-ra tocando violino, até adormecer ao lado dele. No dia 25 de dezembro, feriado mundial, queria que eu trouxesse um professor. No dia 26 estive pessoalmente no Villa Lobos para encontrar um professor para criança de quatro anos...
No dia 27 de dezembro o Maestro Alexandre Guiamares, iniciou as aulas de violino para a Gaya, que passou a apresentar seus resultados nos Saraus do Villa Lobos.
Era a criança mais jovem. Não errava. Por este motivo, as que erravam iam descendo do palco...Ao final assistiamos a pequena e o Maestro...Até ele "esquecer" o Ritornello e ela detectar e espontâneamente retirá-lo do palco!
Os amigos violinistas, a família e o público, estimulavam para que ela estudasse mais e mais. Cresceu e passou por todos os tamanhos de violino, até chegar ao 4/4.Criou composições com letra e música.
Estudar era com ela mesma. Um dia, ela comprou um violão e percebeu que as crianças preferiam ouvi-la no violão... o violino causava um constrangimento nos ouvintes...Nem todos conheciam as canções que ela tocava...Não cantavam...Com o violão ela nunca mais deixou de compor e de cantar.
Faz ela mesma as composições, letra e música, entra no estúdio , toca, canta e grava, depois vende os cds para quem gosta ! São lindos!
Beijo Gaya! Sucesso!
Nunca esqueça da Vó Mathilde, da sua irmã Kenya, dos seus amigos e de seu professor de violino!
Eles nunca faltaram às suas apresentações! Eu sei porque eu estava lá!
Um violino consolidou a vocação musical da Gaya.
Já imaginou se PapaiOnel tivesse muito ocupado...?



Fernanda Correia Dias



in Histórias do Natal

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