quarta-feira, 22 de junho de 2011

Fernanda Correia Dias . Água . Fotógrafa

"Aquele tinteiro de vidro, com tampa de rosca e caixinha na forma do vidro... Um encantador balãozinho poligonal !
Na gaveta...Ou em cima da mesa...Perto do Mata-borrão...Você nunca viu, não sabe do que estou falando.
Nem da espátula de marfim ou de prata, para abrir as páginas dos livros que chegavam dobradas...Ah... o incrível aroma do papel!
O perfume da fita preta e vermelha da máquina de escrever e o Plim!
O barulhinho, croc, croc, do rolo com alavanca suspendendo a página! As mágicas do carbono sendo conferidas nos finos papéis-cópia e aquelas suaves cores... azul..branco...creme... verdinho... rosa!
Muitos movimentos e objetos bonitos e interessantes desapareceram do cotidiano...É tão estranho saber isso!
Desapareceu o peso do telefone preto e do fone preto, que eu segurava com as duas mãos...
O telefone preto, onde inseríamos o indicador num círculo e rodávamos sobre cada número impresso em esmalte, para registrar os dígitos do telefone de destino... E o trim..trim...que acompanhava...
Desapareceu a enceradeira e os móveis todos de pernas para o ar... E o perfume do chão encerado...
Palavras também desapareceram do nosso vocabulário familiar: Lembro que usávamos mais a palavra castanho para falar de marrom que a palavra marrom...E cutis, para falar de pele, que pele...E por obséquio, já nem ouço mais!
Desapareceram os broches, as luvas e os chapéus...os vestidos com boleros...As anáguas e as combinações!
Os talheres de peixe, também sumiram do cotidiano, assim como os cubinhos de açucar e as pinças ou as colherinhas especiais dos açucareiros...
Ficou tudo guardado dentro de mim como um filme delicioso de assistir e de me transportar."

Fernanda Correia Dias

In Estas histórias das nossas vidas




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